segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Um "profissional do ramo"...

Num comentário a um post dum blog, um professor, referindo-se à sua profissão, diz:

"Sendo [eu] um profissional do ramo (...)"

Mas... mas... mas... porque é que isto não me soa bem? Porque é que isto faz-me lembrar mais um agente de seguros ou um vendedor de colchões? (sem ofensa aos citados..)

...Hummm.. sic luceat lux!

domingo, fevereiro 27, 2005

Léxico Alexandrino

Mais um post dum pai babado.
Eis algumas das palavras que o meu filho Alexandre, a caminho dos dois anos, usa e compreende o significado:
- "atá?": geralmente dito de uma forma interrogativa, quer dizer “onde está?”;
- "bêbê" ou "bibi"; significa bebé ou qualquer criança nova;
- "cocó": significa “cócó” ou “quero fazer cocó” ou “já fiz cocó”;
- "cáca": designação atribuída a coisas sujas, a lixo, a papeis velhos, partes de brinquedos partidas e outras afins;
- "mamã": significa obviamente mãe;
- "": a segunda palavra mais frequentemente usada é a forma de exprimir a negativa;
- "nauuu!" onomatopeia imitativa do mio do gato;
- "qué": significa "quero", desejo", ou ainda "aproximem isso [um objecto] de mim"
- "papá": significa “pai”, isto é, eu ;-];
- "paúo": é uma deturpação de “Paulo”, isto é, eu ;-);
- "paí": significa “pai”, isto é, eu ;-D;
- "pópó": a palavra mais frequentemente usada, quer dizer carro, automóvel, calhambeque ou qualquer outro veículo que visivelmente tenha quatro rodas;
- "papa": significa comida;
- "titi": significa “chichi” ou “quero fazer «chichi»” ou “já fiz «chichi»”;
- "": diminutivo de “bitó” que, por sua vez é diminutivo de “Victor Hugo” que é o nome do nosso gato.

E há ainda frases resultantes destas palavras e outras palavras...

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Sexo, dores de cabeça e a perspectiva masculina (II)

Deus disse a Adão: “Desce até aquele vale e…
- “O que é um vale?”, pergunta Adão.
Deus explicou-lhe. “Atravessas o rio e…
- “O que é um rio?”, pergunta Adão.
Deus explicou-lhe. “Sobes a montanha…
- “O que é uma montanha?”, pergunta Adão.
Deus explicou-lhe. “No outro lado da montanha, encontrarás uma caverna e…
- “O que é uma caverna?”, pergunta Adão.
Deus explicou-lhe. “Na caverna encontrarás uma mulher e…
- “O que é uma mulher?”, pergunta Adão.
Deus explicou-lhe. “Quero que tu te reproduzas!
- “Como faço isso?” pergunta Adão.
Deus explicou-lhe. E lá foi Adão, desceu o vale, atravessou o rio, subiu a montanha, entrou na caverna e encontrou a mulher. Cinco minutos depois, Adão regressa a arfar, todo suado e de rastos.
- “O que foi agora?!?!”, pergunta Deus muito zangado.
- “O que é uma dor de cabeça?

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Não há regra sem excepção…

«Discípulo - (…) Mestre? Eu não sou dogmático e estou aberto aos seus ensinamentos.
Mestre Sofista – Eu não tenho ensinamentos…
Discípulo – Mas, mestre, eu preciso dos seus ensinamentos…
Mestre Sofista – De que precisas tu?
Discípulo – De iluminação, Mestre. Preciso de algumas certezas…
Mestre Sofista – Que incertezas tens?
Discípulo – Muitas, mestre, muitas! Só a Ciência me dá certezas!
Mestre Sofista – Ah, sim? E que certezas te dá a ciência?
Discípulo – Ora, Mestre! As regras científicas! Das Ciências Exactas! São Exactas!
Mestre Sofista – Todas?
Discípulo – Certo, Mestre. Eu sei que não há regra sem excepção…
Mestre Sofista – Eu só conheço uma e mesmo assim tenho dúvidas porque é contraditória…
Discípulo – Tem dúvidas sobre a única regra que pode não ter excepção?
Mestre Sofista – Sim.
Discípulo – E qual é essa regra Mestre?
Mestre Sofista – É essa mesmo.
Discípulo – Como!? Qual regra, mestre?
Mestre Sofista – “Não há regra sem excepção
Discípulo – Não entendo, mestre…
Mestre Sofista – Se a regra “não há regra sem excepção” não tem excepção nenhuma, ela é contraditória em si própria porque até essa regra deveria ter excepção e...
Discípulo – Ó mestre?! Por Zeus… isso são jogos de palavras, meros sofismas…
Mestre Sofista – Pois... eu é que sou sofista…»

Ignorabimus, tamen impavidi progrediamur...

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Sexo, dores de cabeça e a perspectiva masculina (I)

O marido acorda a esposa às quatro da manhã e convida-a para ir ao Jardim Zoológico. Chegando lá vão directos à jaula do gorila. O marido diz para a esposa:
- “Querida, vamos brincar com o gorila. Tira a blusa…
Ela tirou e o gorila começou a mexer-se. Disse o marido:
- “Agora tira a saia só para perturbar um pouco mais…
A mulher tirou e o gorila levantou-se e aproximou-se da grade da jaula. Diz o marido:
- “Agora tira o soutien e mostra os teus seios.
Ela tirou e o gorila agarrou-se à grade ufanando. Retorna o marido:
- “Tira as cuecas...
A mulher tirou e o gorila ficou tão excitado que rebentou com as grades e correu em direcção à mulher. Ela desesperada perguntou ao marido:
- “E agora?! O que é que eu faço?!
Conclui o marido, correndo a fugir:
- “Agora explica-lhe que estás com dores de cabeça, cansada… e que não te apetece!

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Charlatanices da Pedagogia no Ensino Superior e não só... (Ciclo da Pedagogia I)



























Estas minhas observações não são fruto de um estudo científico no sentido mais comum da palavra (e, por tal sujeitas a contribuições e ao contraditório). Assumem-se, outrossim, como resultado das observações (num sentido lato) sobretudo empíricas e das constatações que retiro delas:
- das minhas conversas in situ e in loco com docentes do ensino superior dos dois subsistemas;
- das minhas trocas de impressões com os mesmos na web (sobretudo em blog’s e fóruns);
- das minhas leituras do que aqueles escrevem em formato de papel e digital;

O pressuposto de base é que há diferentes visões do que é aPedagogia” (e, neste caso concretamente, não do que são as “Ciências da Educação” que é outra história…). E com “Pedagogia” refiro-me aqui àquela que mais directamente diz respeito à situação concreta de exercício da docência na situação de sala de aula. Isto para colocar a coisa em termos mais simplistas e poder obter uma maior compreensão pelo eventual leitor.

Não tenho escondido, em post’s anteriores, que opino que a Pedagogia é muito maltratada. Sobretudo por mera ignorância daqueles que sobre ela falam e, na sequência, concepções risivelmente simplistas e erróneas. Todavia mesmo aqueles que pouco ou nada sabem dela ou sobre ela, têm uma concepção mais ou menos implícita sobre a mesma. É destas que pretendo escrever. Construí um esquema analítico com dois eixos que me parece reflectir aquelas concepções e, por outro lado, o que me parece ser o grau de ignorância ou o grau de “sabedoria empírica”, isto é, aquela sabedoria que resulta das conversas informais, das observações, valiosíssimas mas altamente potenciadoras do erro senão acompanhadas de reflexão cientificamente fundamentada. Pretendo – empiricamente, como disse – situar nos quatro campos que defini (“alfa, “beta, “gama” e “delta”), perfis de pessoas ("personagens-tipo")e instituições de ensino superior e de formação da nossa “comunidade educativa”.

As descrições abaixo são, entenda-se, os níveis 4, isto é, os extremos dos eixos.
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EIXO HORIZONTAL:

a) mais tecnicistas ou mecanicistas: encaram a pedagogia como uma mera sequência de passos técnicos a seguir escrupulosamente para se atingir um fim previsto com algum pormenor na fase de planeamento. Fala-se mais em formador” do que “professor”. Referem-se apenas a “formandos” e pensam muito em “perfis de saída” e “perfis de entrada”. Planeiam a longo prazo pensando apenas no produto e não no processo ou somente o fazem em sequências lógicas de formação (um “design curricular”) muito simplistas e encadeadas apenas por requisitos técnicos (“Vá! Não se pode aprender informática ao nível do utilizador sem um mínimo de conhecimento do código ASCII”) erróneos. Se a coisa corre menos bem não admitem a possibilidade de que o que correu o mal estar nos formadores ou no planeamento que fizeram mas, certamente, no locusformando”. Prevêem objectivos muito pormenorizados e cuja consecução não é atingida senão pela observação de requisitos comportamentais definidos previamente. Negligenciam aspectos afectivos e encaram os “formandos” como sendo todos iguais. Não têm/seguem um manual próprio mas baseiam-se em fotocópias de vários. Gostam de apresentar os conteúdos por tópicos muito arrumadinhos e sequenciados. Não pensam se são bons “formadores” ou não. Têm quase a certeza absoluta disso. São charlatães preocupados em vender "o seu peixe" e mais não.

personagens-tipo” e instituições:
- formadores do IEFP, dos centros a ele ligados ou de empresas de formação privadas;
- boa parte dos “docentes” da Universidade Aberta;
- maioria esmagadora dos docentes das instituições superiores universitárias de gestão, de direito, de economia, finanças e afins;
- maioria esmagadora dos docentes das escolas superiores de tecnologia e outras mais técnicas e artísticas do ensino superior politécnico;
- maior parte dos psicólogos, especialmente aquelas com especialização em “psicossociologia das organizações”, graduados em sociologia;
- a maioria esmagadora dos docentes da Universidade Católica.
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b) mais humanas ou libertárias: encaram a pedagogia como uma ciência que serve para o progresso do aluno, enquanto pessoa a construir-se. Referem-se a “alunos”, “crianças” ou, menos frequentemente, “educandos”. Assumem-se como “professores”. Não pensam tanto nos “alunos” mas em responder à pergunta: “O que posso eu fazer e como fazer para que as minhas aulas sejam agradáveis para os alunos e eles gostem de mim? E, já agora, consiga dar a matéria e elas aprendam qualquer coisa?” Individualizam alguns alunos mas sobretudo aqueles que mais se parecem consigo. Não planeiam tanto em função de resultados finais mas de “um nível mínimo” que cada “aluno” deve atingir sendo que a partir desse nível se sobe na classificação. Assumem que os “alunos” atingem o mínimo dos objectivos (que nunca definem) por terem atingido aquele “nível mínimo”. Não planeiam a longo prazo: fazem-no por “temas” ou “sequências de aprendizagem” ou ainda “unidades didácticas”, um conjunto de aulas à volta do mesmo tema ou temas afins. Não têm nenhuns cuidados ao nível da coordenação curricular: encaram tal cuídado como uma "chatice". A sequência de conteúdos segue a mera lógica científica ou, em níveis não superiores, de apresentação no manual. Muitos seguem-no como a “bíblia suprema”. Acham que poderiam que poderiam ser melhores mas, ainda assim, já se acham “bastante razoáveis”. São algo charlatães mas por manifesto idealismo.

personagens-tipo” e instituições:
- boa parte dos docentes das Faculdades de Psicologia e Ciências da Educação;
- boa parte dos docentes que se dedicam à formação de professores nas escolas superiores de educação;
- boa parte dos docentes das escolas de enfermagem sobretudo aqueles que se dedicam aos aspectos psicossociais na formação dos/as enfermeiros/as;
- uma pequena franja dos docentes de marketing;
- alguns psicólogos da vertente de psicologia educacional.


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EIXO VERTICAL:

a) mais fundamentada ou mais cientificamente reflectida: tiveram, explicitamente, formação pedagógica certificada. Mais ou menos sentida como boa, dão valor à Pedagogia. Criticam-na fundamentadamente. Dizem: “quando me refiro a «competências», refiro-me à noção de [um autor]”. Cruzam a sua análise critica com a experiência pessoal e leituras que fazem frequentemente. São interdisciplinares já que se referem a perspectivas históricas, sociológicas e muitas outras. São críticos em relação ao discurso político e fundamentam indo buscar frequentes exemplos ao passado. Quando se referem a um aluno em particular colocam o destaque mais nas potencialidades do que nos constrangimentos e pensam em si próprios como “professores em constante progressão em termos pedagógicos”. Acham, algo idealisticamente mas com sinceridade, que a Pedagogia, se bem pensada e aplicada, poderia resolver alguns dos problemas mais prementes do sistema escolar. São tendencialmente de esquerda mesmo que não o revelem ou se assumam como apartidários. Não são, tendencialmente, charlatães com os "alunos" mas tendem para a charlatanice quando encontram os seus pares e quando publicam artigos científicos.

personagens-tipo” e instituições:
- uma pequeníssima minoria dos professores do ensino superior universitário e do(s) ensino superior privado(s);
- uma pequena parte dos docentes do ensino superior politécnico.
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b) mais empírica ou “do vulgo”: falam "de cor", de "pedagogia da rua". Dizem que “a pedagogia é para crianças” ou que a “boa/verdadeira [?] pedagogia” aprende-se exclusivamente com o tempo, com o contacto com os alunos e que a literatura sobre pedagogia é mera verborreia e que é ela, em grande parte, a causadora dos males do sistema escolar. Alguns deles deram-se ao trabalho de, um dia, ler um livro sobre pedagogia e julgam agora saber tudo ou tudo o que é relevante. Na verdade nada percebem mas isso não impede alguns de, professoralmente, até “dar lições” sobre “pedagogia”. Pensam sobretudo em si como bons professores que “falam bem”, “sabem muito”e docentes que não podem melhorar mais do que já são. Enfatizam sobretudo o insucesso dos alunos. São monolíticos nas suas abordagens “pedagógicas”: é o professor, a matéria e o aluno e ponto final. O resto são detalhes irrelevantes. Muitos são saudosistas do passado pré-25 de Abril. São tendencialmente de direita e revelam-no mesmo que se assumam como apartidários. São os verdadeiros charlatães por pura ignorância.

personagens-tipo” e instituições:
- a maioria esmagadora dos professores do ensino superior universitário;
- a maioria dos professores do ensino superior politécnico;

- a quase totalidade dos professores do(s) ensino(s) superior(es) privado(s).
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LOCALIZAÇÃO POR "CAMPOS":

Campo Alfa”. Muito Pouca gente:
- alguns docentes das escolas superiores de educação, alguns docentes das Faculdades que se dedicam à formação de professores e educadores e alguns psicólogos educacionais que, “subterraneamente” leccionam em sistemas de formação profissional do IEFP ou centros a ele ligados, todos eles “contaminados” pelas perspectivas tecnicistas e mecanicistas.

Campo Beta”. Pouca gente:
- uma pequeníssima minoria dos professores do ensino superior universitário e ainda menos do(s) ensino superior privado(s) com formação pedagógica certificada;

- uma pequeníssima parte dos docentes do ensino superior politécnico, sobretudo os que estão directamente envolvidos na formação de professores e educadores com pedagógica certificada.

Campo Gama”. Algumas pessoas:
- a maior parte dos formadores do IEFP, dos centros a ele ligados ou de empresas de formação privadas;

- maioria esmagadora dos docentes das instituições superiores universitárias de gestão, de direito, de economia, finanças e áreas afins.

Campo Delta”. Muitas pessoas:
- a maioria esmagadora dos professores universitários e do politécnico não directamente ligados à formação de professores e educadores (e excluindo os acima referidos).


Tenho dito.

domingo, fevereiro 20, 2005

Mãe? Só há uma!

A professora mandou fazer uma breve composição para o dia seguinte sobre o tema “Mãe, só há uma”. Na aula seguinte pediu a três alunos para a lerem.

Luisinho:
- “Quando eu era mais pequeno, fui passear com a minha mãe e então ela parou para ver uma montra e eu atravessei a estrada sem olhar. Veio um carro e quando estava quase a ser atropelado, a minha mãe salvou-me. Mãe, só há uma!

- “Muito bem, Luisinho!”, exclama a professora.

Joãozinho:
- “A semana passada fui com a minha mãe à praia e fui tomar banho ao mar. Veio uma onda e arrastou-me. A minha mãe foi a correr buscar-me e salvou-me. Mãe, só há uma!

- “Óptima, Joãozinho!”, reforça a professora. “E agora tu Jorginho

Jorginho:
- “Eu ontem estava em casa a fumar um charro e a ver um filme pornográfico com a minha mãe. Ela pediu-me para ir buscar duas bujecas ao frigorífico, uma para mim e outra para ela. Fui lá. Mãeee?! Só há uma!!

Ridendo castigat mores…

sábado, fevereiro 19, 2005

Lagarto, lagarto!

«- (…) Sim, senhor João Costa, a sua reserva para o voo para Nova Iorque está processada.
- bzzzzzz, bz, bz?
- Não, não. Tem que vir ao check in na mesma. Mas é muito mais rápido. Com este novo sistema, um mesmo código indica o voo, o passageiro, lugar, origem e destino.
- bzz, bzzz, bzzz, bzzz?
- “Não. Quer que enviemos o código para um endereço de e-mail?
- bzzzzz, bzzzz bz bz bzzzz bzz
- Então aponte. Tem aí com que escrever, senhor João Costa?
- bzz, bzzzz bz.
- 886AAIB54TT05QSFV01.
- bzzzz?! Bz?
- Sim, eu repito, senhor João Costa!
- 8…8…6…”A” de… "acidente", sim, “A” de… "avião", sim, “I” de "incêndio", "B" de "bomba", certo… 5…4… “TT”, como “Twin Towers”, está a ver? Sim. Zero… 5… “Q” de… "queda", por exemplo, sim… “S” de “solo”, exacto. “F” de… “fim”, pois… “V” de “vida”, certo e zero, 1. Pronto. Apontou?
- (...)
- Senhor João Costa? Senhor João Costa?? Tou? Tou??»

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Bolsas do PRODEP, Politécnicos, nozes e dentes…

Os nomes são ficcionados, a(s) estória(s) é/são real(ais).

REALIDADE 1: Patrícia e Alexandra são duas assistentes do 2.º triénio numa escola superior do ensino politécnico onde todos os assistentes de carreira estão a ter os seus contratos findos ao fim de três e seis anos excepto aqueles que são cómodos/convenientes para o poder directivo. Patrícia e Alexandra não fazem, nem querem fazer, parte deste último grupo, por muito que lhes custe a situação de desemprego e o não direito aos respectivo subsídio. A escola onde leccionam tem possibilidade, e “permissão”, de lhes permitir duas bolsas de doutoramento do PRODEP. Ninguém mais as quis. O Conselho Científico, normalmente chantageado e obediente ao Conselho Directivo, nega os pedidos de bolsas do PRODEP, por “ordem” do Directivo, às duas assistentes mas autoriza uma terceira bolsa a uma professora-adjunta de nomeação definitiva que sempre afirmou não querer fazer doutoramento mas que ultimamente tinha vindo a afirmar precisar de ”um descanso”. O Conselho Directivo sabe que o programa do PRODEP financia os docentes substitutos dos/das bolseiros/as e, às vezes, até com lucro porque se substitui professores-adjuntos, coordenadores ou assistentes do 2.º triénio por equiparados a assistentes do 1.º triénio que têm um vencimento muito inferior. Tal tem acontecido nos últimos anos. Patrícia e Alexandra, ambas mestres e nos últimos anos com horários semanais que ultrapassavam largamente as 15, 16 e 18 horas semanais, não têm bolsa do PRODEP nem o seu contrato renovado. Desempregam-se.

REALIDADE 2: Júlia e Helena são professoras-adjuntas de nomeação definitiva. Dentro dos limites normalmente impostos pela vida de uma escola superior do ensino politécnico, fazem a sua vida. Não têm filhos e leccionam as mesmas disciplinas há anos. As duas solteironas não estão muito longe da reforma pelo que o doutoramento não está nas suas perspectivas. “Não vale a pena”, afirma uma delas. “Até podia fazer pelo gozo”, exclama a outra. Estão ambas dispensadas de serviço docente. A santa paz das suas vidas foi quebrada com um processo em tribunal interposto por elas. Não tomaram conhecimento que “uns documentos” que haviam assinado vários meses atrás as tinham tornado bolseiras de doutoramento do PRODEP e, por tal, sem serviço docente atribuído há largos meses. E agora, face ao não cumprimento do estipulado no regulamento daquele, estão em infracção. O PRODEP quer, e bem, a restituição do dinheiro. A escola salvaguarda-se com a regularidade do processo: os documentos existem, estão assinados pelas “bolseiras” pelo que nada de condenável se pode imputar à instituição. As “bolseiras” discordam e levaram o caso a tribunal.

Deus” dá nozes a quem não tem dentes e não as dá a quem os tem. Esperemos que se escreva direito ainda que por linhas tortas. Mutatis mutandis…

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Pobres e mal agradecidos…

De novo com o meu estimado 1.º Ciclo do Ensino Básico. Quando “trabalhava” numa escola do 1.º C.E.B. aqui há uns anos atrás pediu-se a cada uma das crianças de uma turma da 4.ª classe que inventassem uma história. Esta é uma delas.
"O pobre o e o rico
Era uma vez uma menina rica e ela tinha uma filha e vivia sozinha mais a filho e ela uma vez pensou e disse para a filha gostavas de ter aqui uma pessoa em casa e a filha disse tá bem e depois a mãe foi a um bairro de pessoas pobres e disse para uma senhora ceres
[queres] viver comigo eu vivo sozinha mais a minha filha e a senhora pobre disse assim tá bem e foi lá para casa e depois comprarão le roupa e ela gastava o dinheiro todo e a rica tinha muita pena dela e um dia a pobre espolesou [expulsou] a rica da casa mais o filho e a pobre começou a gastar o dinheiro em borgas e quando não tinha dinheiro ia buscar a rica mas a rica já não é rica porque espolsaram [expulsaram] a de casa agora é pobre e ela não tinha dinheiro mas tinha que dar senão a outra [pobre] matava-a e a filha.

Depois a outra
[pobre] com tanta droga morreu e dice lá no ospital desculpa o que eu te fiz sofrer a ti e a tua filha manda lá ir a polisia tirar a droga nos cantos da casa e vive muito feliz. FIM Marta Joana, 10 anos
(respeitadas as "ortografia" e "sintaxes" originais)

Moralidades e vivências infantis…

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Concursos com imagem Digitalizada “C.C.I.D.” (IV): Proposta de Análise

Já por três vezes me referi, em post’s, aos “Concursos com Imagem Digitalizada” ("C.C.I.D."). Da última vez que o fiz, pedi aos meus colegas do Meta-blog do Ensino Superior, auxílio na detecção de tal carácter em concursos cujas áreas científicas não me eram nada afins. As respostas não apareceram. Apenas Luís Moutinho me disponibilizou o espaço do blog dele para publicitar os mesmos e, mais recentemente, “eu” do blog O Mundo publicitou o post. Obtive, quer em comentários dos post, quer por correio electrónico, comentadores que me apoiaram na “demanda” e outros que criticaram o meu posicionamento por, confessadamente, acharem que poderiam ser, eventualmente e num futuro próximo, beneficiários deste tipo de concursos.

Comprometi-me a analisar os concursos. Um qualquer bug no meu “Acrobat Reader” bloqueia-me o computador sempre que fecho o ficheiro “pdf” que abro para analisar os editais dos concursos. Ainda não o resolvi inteiramente. A actualização não ajudou.

Comecei pelos concursos para Professor-Adjunto do Ensino Superior Politécnico publicados no site do SNESup entre 1 e 31 de Janeiro. Estou crente, pela análise que levei a cabo, que todos são “C.C.I.D.” já que
- via página dos docentes do ensino superior no ministério (mas só com informação até 31/12/2003);
- via página da escola que publicitava o “Curriculum Vitae” dos docentes e/ou as disciplinas que leccionavam;
- via “google” por inserção de elementos curriculares e/ou profissionais de candidatos da "casa"no campo de pesquisa

encontrei, com maior ou menor dificuldade, candidatos da “internos” (da escola que abriu o concurso) que tinham os requisitos mínimos para concorrer ou, nalguns casos, um só candidato.

Foram, então, os seguintes os concursos analisados:
1. Escola Superior de Enfermagem da Madeira. Área: Ciências de Enfermagem - Comunicação em Saúde.
2. Instituto Politécnico de Coimbra - Instituto Superior de Engenharia. Área: Engenharia Química (grupo de disciplinas de Processos de Separação e Engenharia das Reacções).
3. Instituto Politécnico de Coimbra - Instituto Superior de Engenharia. Área: Engenharia Civil (grupo de disciplinas de Construções).
4. Escola Superior de Enfermagem de Angra do Heroísmo. Área: Ciências de Enfermagem.
5. Instituto Politécnico de Lisboa - Escola Superior de Comunicação. Área: Design de Comunicação.
6. Instituto Politécnico de Viana do Castelo - Escola Superior de Educação. Área: Matemática, Ciências e Tecnologia, disciplina de Física e Química.
7. Instituto Politécnico de Viana do Castelo - Escola Superior de Educação. Área: Expressões Artísticas, disciplina de Técnicas Plásticas.
8. Instituto Politécnico de Tomar - Escola Superior de Tecnologia de Abrantes. Área: Jornalismo.
9. Instituto Politécnico de Viseu - Escola Superior de Enfermagem. Área: Enfermagem de Saúde materna e Obstétrica.
10. Escola Superior de Enfermagem de São João. Área: Ciências de Enfermagem.
11. Instituto Politécnico de Lisboa - Instituto Superior de Engenharia. Área: Matemática (no âmbito do grupo de disciplinas de Análise Numérica).
12. Instituto Politécnico de Coimbra - Instituto Superior de Engenharia. Área: Física/Matemática, Secção de Matemática.

Depressa me apercebi do óbvio. A semântica do edital facilitadora da vitória do candidato pensado na altura da abertura do concurso demonstra um grau de "descaramento" diferenciado. Por tal, construí uma escala de “graus de descaramento” ou "graus de pormenor do edital" do concurso tendo como critérios o grau e a natureza das habilitações pedidas/valorizadas/exigidas e o grau de especificação da experiência profissional prévia pedida/valorizada/exigida. E pontuei-os. Nesta última reside a grande subjectividade da minha construção analítica. Peço sugestões de melhoria aos meus colegas do “meta-blog” e leitores deste blog em geral no sentido de aperfeiçoar esta escala e os respectivos critérios.

Cá vai:
C.C.I.D.” – Graus de pormenor da “Imagem” no edital do concurso
(só para concursos de “quadro”)
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Grau 1:
- borderline de “C.C.I.D.”: especifica um ou outro factor afunilador não impedindo que haja opositores fora da escola que abriu o concurso;
De “a” a “b” pontos;
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Grau 2:
- algumas indicações de “C.C.I.D.”: sobretudo pela natureza dos graus académicos e, no máximo, algumas preferências de experiência profissional; dúvidas se haverão candidatos elegíveis fora da escola que abriu o concurso;
De “c” a “d” pontos;
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Grau 3:
- razoáveis indicações de “C.C.I.D.”: especificações das naturezas dos graus académicos e experiência profissional limitam a candidatura a opositores fora da escola que abriu o concurso;
De “e” a “f” pontos;
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Grau 4:
- fortes indicações de “C.C.I.D.”: quer os graus académicos quer a experiência profissional são muito afuniladas/os para áreas específicas: exíguas possibilidades de concorrência por parte de candidatos de fora da escola que abriu o concurso;
De “g” a “h” pontos;
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Grau 5:
- indubitável e descaradoC.C.I.D.”: quer a natureza dos graus académicos, quer a experiência profissional valorizada/exigida, são muito especificadas ao pormenor. Presumivelmente só existe um/uma candidata/o possível em todo o país para a vaga publicitada: aquele/a para quem o concurso foi aberto tal é o perfil descriminado.
De “i” a “j” (máximo) pontos;
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Sistema de critérios:
I. Natureza da/do grau/formação científica:
(licenciatura mais mestrado ou licenciatura mais doutoramento)
ampla: só apontas as suas designações genéricas – 1 ponto;
semi-ampla: especifica a natureza de um dos graus numa especialização – 3 pontos;
rígida: especifica a natureza de ambos os graus em especializações – 6 pontos;
apocrifamente ampla: admite a possibilidade de candidatos só com licenciatura – 8 pontos;

II. Experiência profissional:
Designa genericamente experiência no ensino superior – 1 ponto;
Especifica experiência no ensino superior num dos subsistemas – 3 pontos;
Especifica experiência numa disciplina ou grupo disciplinar identificado – 4 pontos;
Especifica experiência numa escola afim de um dos subsistemas – 6 pontos;
Exige experiência profissional num dos subsistemas de ensino superior – 10 pontos;
(atributos somáveis quando não mutuamente exclusivos)

domingo, fevereiro 13, 2005

Ainda o século XIX: a imagem da mulher pelos cânones masculinos. Para deleite dos machistas…

O indivíduo que me quer catrapiscar para a maçonaria aparece-me, volta e meia por entre as minhas andanças nos alfarrabistas e feiras de velharias, entusiasmado com livros sobre a inferioridade da mulher. Os últimos que me mostrou, “A Tragédia Biológica da Mulher” e “A Mulher não Pode instruir nem Educar” servem para fazer valer a sua posição da condição inata da inferioridade da mulher. Não concordando com tais perspectivas retrógradas, também não tenho tido coragem para deixar de o ouvir. Ele vem com tanto entusiasmo falar-se das suas descobertas e eu acedo em ouvi-lo. Tenho culpa de lhe ter dito que havia escrito um artigo sobre a condição da mulher senhora-esposa-mãe-anjo-dona-de-casa burguesa no século XIX através dos textos dos Manuais de Civilidade novecentistas que vou coleccionando.

Eis alguns dos preceitos daqueles Manuais que agradariam ao “meu amigo” e a alguns machistas disfarçados que ainda pululam por aí:

Antes de casar ouve o noivo:
-Agora nós, você tenha cuidado no que lhe vou expor, não me seja bandalha da moda e logo que casar comigo há-de viver muito honesta, e essa trufa de fitas logo fora, e o cabelo razo, e quando muito quatro pós, e se agora se enfeita, e estuda antes de namorar por artes novas, de então para diante há-de ser sisuda, modesta e grave, tem percebido? Está por este ajuste? Ao depois não quero histórias

Se quer ler romances ouve os moralistas:
-“(…) porque sejam eles os [romances] quais forem, sempre hão-de constituir um perigo para a vossa cabecinha ignorante (…)”

Se quer educar tem um prazo limitado:
-Decorrido o período de amamentação, a mãe deve ainda cuidar do desenvolvimento do filho até aos treze annos. Mas chegado que seja a esta edade cessou com ela toda a actividade educativa da mulher

E, finalmente, na cama:
-Meninas que teem vergonha que o homem lhes veja os seios, que não querem luz no quarto, que se recusam obstinadamente a despir a camisa, etc., etc., são esposas postas de parte se não possuírem o bom senso de se resolverem a navegar nas águas amorosas do marido, correspondendo sem relutância ao seu modo de ser amoroso. Outras podem perder por se manifestar em sentido diametralmente oposto ao carácter do homem. A mulher nunca deve manifestar-se antes do homem. Este é que dá o sinal de romper a orquestra: a mulher dança segundo ele toca

e, se se atrevem a proclamar a exclusividade sexual dos maridos:
-Enquanto a mulher pode ter, normalmente, mais do que um filho por ano, o homem, no mesmo espaço de tempo, pode procrear muitos. Mas se formos dizer isto a uma mulher, irritarse-há, protestando energicamente, allegando o princípio de que ambos teem os mesmos deveres e, conseguintemente, se ella é obrigada a guardar fidelidade a seu marido, também este deverá corresponder-lhe escrupulosamente. E, se tentarmos explicar-lhe que a própria natureza do sexo carece d’esta liberdade, pois que, enquanto a privação d’este para a mulher é naturalíssimo, para o homem importa já em grandes sacrifícios, responder-nos-há que isso é uma das nossas tantas preventivas justificações para o caso de delinquirmos. Oh! Estas encantadoras criaturas, de cabellos longos… e ideias curtas!”

Júlio Guimarães em “A Maldade das Mulheres” versará, face aos progressos da moda feminina:

“Mas o que eu – tipo austero,
A essas bichas tão ternas
Que nos produzem assombro
É mostrarem-nos as pernas
E os braços até ao ombro.

Muitas delas pelas ruas
(Descaramento tamanho
Que às velhotas causa horror!)
Parecem que andam nuas
Ou prontas a tomar banho
Sem vislumbre de pudor!”
(respeitada a ortografia e sintaxe originais)
Ridendo castigat mores...

sábado, fevereiro 12, 2005

Toda a inocência será castigada!

Lá venho eu de novo meter-me com o meu estimado 1.º Ciclo do Ensino Básico. Reproduzo uma redacção de um aluno da Escola Básica n.º1 de Esmojães, Santa Maria da Feira que fui buscar a uma passada revista pasquim chamada “Gente”.
Reza assim:
"O leite
O leite é muito bom para a saúde. Eu gosto muito de leite.
As vacas dão leite e as cabras também.
O meu pai diz que à cabras de duas pernas à noite no parque Eduardo Cétimo de Lisboa mas não dão leite, dão outra coisa que ele dice mas não percebi.
As ovelhas também dão leite e mais outros animais que tem mamas.
O senhor prior cá da aldeia também dá leite aos pobres mas é em pó.

O aluno
José Seara Martins
Feira, 27 de Março de 2003

(respeitada a “ortografia” e “sintaxe” originais)

A professora (pela notícia era uma professora) escreveu na parte superior da folha:
Classificação Mau” – “Mau aluno, indisciplinado - LC”...

Morituri te salutant...

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Quem disse que os livros escolares antigos eram sisudos?

Possuo alguns milhares de livros escolares de leitura (ou, considerando esta designação ambígua, livros para aprendizagem/treino da leitura e/ou escrita, como lhes prefiro chamar à guisa de algum rigor científico) desde o século XVI até 1980. Viso recenseá-los e, na medida do possível, adquirir todos os que foram publicados desde sempre até 1976 (ano que marca aquilo que se chama o período da “normalização” [Stoer, S.] do sistema escolar e a publicação dos primeiros programas do antigo ensino primário [programas “laranja” dada a cor da capa] que se libertam dos resquícios do status quo escolar do Estado Novo).

Por mais que os analise, mais tenho a sensação de que aqueles pensados e redigidos por escritores não-professores (ou não em exclusividade) e que mais se baseiam no património da literatura infantil, “melhores” me parecem… mas isso são outras histórias...

Por entre os mais antigos, domina a sobriedade nos textos e nas imagens. Não obstante encontrei dois exemplos que me aprecem desafiar essa lógica. Opino que até actualmente escandalizariam os mais libertários e “modernos”. São os seguintes:

- “O rapaz correu direito a elle [ao pai] e o pae pôl-o em pé sobre a bigorna, segurando por debaixo dos braços e dizendo: - Limpa um pouco o frontispicio a este animalão do teu pae, anda... E, então, João Alves cobriu de beijos o rosto enfarruscado do pae e ficou tambem com a cara preta.”
In SARSFIELD, A. (1903) “Leituras para os Meus Filhos”, Typ. da Cooperativa Militar: Lisboa, p.203.

- “No meio d’esta azáfama toda, morreu em 1114 o honrado conde [Conde D. Henrique], deixando uma viuva muita frescalhota [Dona Urraca] e um filho pequeno, que teria os seus tres annos e se chamava Affonso Henriques.
In CÂMARA, J.; AZEVEDO, J. e BRANDÃO, R. (1904) “Livro de Leitura para as Escolas de Instrucção Primaria para a 4ª Classe”, Livraria Ferreira: Lisboa, p. 98.

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Amor no século XIX...

Às vezes, nas minhas deambulações pelas alfarrabistas de Lisboa - infelizmente cada vez menos frequentes - encontro, em livros que adquiro, algumas cartas pessoais por entre os fólios dos velhos alfarrábios. Encontrei esta, que julgo dos finais do século XIX, que penso não haver mal em divulgar. Chamo a atenção para as últimas linhas, de um fino recorte literário. Cá vai:

Quando o coração canta em alegres namorados como Romeu e Julieta penso no caminho da esperança e sinto-me o aventureiro romântico ao lembrar-me na sua viagem de núpcias que nos espera em Capri. Domingo 28 de Agosto será a nossa partida minha querida ave do paraíso, passaremos pela moraria para ouvir cantar o fado numa viela sem sol; Andaluzia nos espera para uma tarde de sol e toiros; seguiremos sob o céu de Roma e descansaremos na Riviera em noite que não volta no Moulin Rouge Paris é sempre Paris; por fim a Lapari [?] ao anoitecer escolheremos um lugar ao sol nesta ilha de encantar. Depois de tanto viajar chega a noite da tempestade e a liberdade perigosa; e quando te tiro a túnica e começo com brincadeiras proibidas e depois de ver o fruto proibido é para mim um céu aberto; mas lembra-me do direito de nascer e vou ao Quo Vádis [!!] onde fica um rastro sangrento confesso; o sangue suor e lágrimas, fazem-me passar horas amargas e penso não transgredir o Código Penal 513. [!!]. J.R.M.”
(respeitada a ortografia e sintaxe originais)
Ridendo castigat mores…

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Para Prof.'s do 1.º C.E.B. e não só: "Todos Diferentes, Todos Iguais" à guisa de provocação...

Diz J. C Castãno (1996):
"Esta é talvez uma das «armadilhas» mais atraentes em que caímos na construção dos discursos interculturais. Esta frase, com um certo impacto e significativo conteúdo metafórico, converteu-se em bandeira de tolerância e de não discriminação. Mas devemos reflectir sobre o absurdo da mesma: como se pode ser igual a alguma coisa e ao mesmo tempo diferente dessa coisa? Misturam-se planos de diferentes níveis: o direito de ser tratado com igualdade, com o desejo identitário de ser definir-se como diferente de outro. Esta diferenciação eleva-se a categoria absoluta com a expressão «todos», algo muito oposto às ideias de tolerância. A quantidade de esclarecimentos e matizes que devem ser feitas para obter o sentido da frase não parece recomendar a sua utilização e ainda menos no âmbito escolar, no qual o grau de abstracção que é necessário para tornar útil a frase não costuma ser utilizado pelos agentes da educação primária.
Não será esta uma nova forma de construir docemente a diferença/desigualdade, invocando agora os acordes do reconhecimento da diversidade?"

Pois... o que acham? Eu cá acho que...

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Sexo e felicidade: uma ligeira inflexão..

Notícias vindas hoje a público pela TSF a propósito da vitória da coligação de centro-direita na Dinamarca dão conta que os dinamarqueses, contentes com o estado da economia, são, a avaliar por alguns inquéritos, o povo europeu que mais felicidade e... sexo tem.

E eu que dizia que queria ir viver para a Suécia... são só poucas centenas de quilómetros... vou ter que fazer uma ligeira inflexão...

segunda-feira, fevereiro 07, 2005

A men's world with men's choices...

"Uma mulher estava com problemas em dizer na empresa que tinha que sair mais cedo para ir buscar o filho ao infantário e alguém sugeriu: «Diz que vais buscar o carro à revisão!» Problema resolvido. Esta é uma nobre razão masculina para uma pessoa sair do emprego mais cedo."
(in "Pública", n.º454, 06/02/05, p. 37. Adaptado)

sábado, fevereiro 05, 2005

Saúde infantil e intoxicação antibiótica: what’s wrong with this picture?

EPISÓDIO 1: O meu filho de 20 meses Alexandre tem, como muitas outras crianças da idade dele, episódios de estados febris. Aqui há tempos teve um. Aconselham os pediatras que só deve ser motivo de preocupação se a temperatura, tirada via rectal, for igual ou superior a 38,5 graus. Naquele dia tinha e foi aumentando. Não fui a correr às urgências pediátricas do hospital. Um supositório Benuron e quando muito um Brufen poderão resolver o problema. Naquela dia não resolveram. Não fui a correr às urgências pediátricas do hospital. Desloquei-me ao Centro de Saúde de Cascais onde, aparte uns tempos (não muitos) de espera, sou sempre bem atendido.

EPISÓDIO 2: No Centro de Saúde, o exame médico do costume. O nosso médico de família, aparte o seu problema de dicção, é competente mas um bocado alarmista. É uma pessoa “pública”, “televisionável” já que é presidente da "Associação dos Médicos de Família". Examina o petiz. “Não sei… pode ser isto… era bom excluir aquilo…”. Receita dois antibióticos. “Leves”, diz ele. E, preocupado, redige uma missiva para o miúdo ter prioridade de atendimento nas urgências pediátricas do Hospital de Cascais. Não tenho grande razão de queixa das urgências pediátricas do Hospital de Cascais. Nunca se espera muito e o pessoal, não sendo muito simpático, é relativamente prestável…

EPISÓDIO 3: As pediatras querem um exame à urina. E o raio do pimpolho não tem vontade. Digo-lhes que já estive horas naquele mesmo serviço não para esperar para ser atendido mas pela inusitada aridez bexigal do rapaz. Lá acedem a molhar o baixo ventre do miúdo com um bocadinho de éter mas dizem-me para “não dizer lá fora” que fazem/permitem ou aconselham tal coisa… e então o miúdo jorra o ansiado liquido. Espera-se pouco pelos resultados da análise. Diagnóstico: “pode ser… os valores estão na fronteira… é melhor ser prudente…”. E pumba! Lá tem o Alexandre que ir ao Hospital D. Estefânia para uma consulta de nefrologia. Mas antes leva uma receita de… mais dois antibióticosnada demais. Só à guisa de prudência

EPISÓDIO 4: no Hospital D. Estefânia em Lisboa nunca senti que esperei muito para ser atendido: entre 30 e 45 minutos se tanto, apesar das várias dezenas de crianças na sala de espera. Encaminhado para uma estagiária que faz o historial clínico da criança, lá somos atendidos pela especialista em nefrologia. Demorada conversa, com cenários de saúde possíveis, os piores e os melhores.

Marca-se uma análise (comparticipada) complicada (“cintigrafia renal”) e ouve-se a especialista: “Mas o que é isto??!! O miúdo pode estar muito bem intoxicado por este antibióticos todos! Mas como é possível?? Ó «pai»?! Como permitiu isto??

Mas eu… eu… eu…”, balbucio. E eu sou olhado como um pai ingénuo e despreocupado que deixa que o seu próprio descendente seja cliente privilegiado da avidez das multinacionais farmacêuticas…

What´s wrong with this picture? ;-[

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Diegese de uma ausência prolongada…

Para quem estava habituado a dar uma entrada quase todos os dias no blog, 13 dias de ausência podem constituir uma falta prolongada.
Agradeço, desde já, as mensagens de preocupação quer no próprio blog quer as que recebi por e-mail. Aos que se preocuparam comigo a ponto de me contactarem: às amigas Lucília e saltapocinhas, aos companheiros Jorge Morais, Nelson, David, Luís e à "primalhaça" (;-D ?) Tina, fico grato pela atenção e preocupação.

De facto, tenho uma explicação. Fui vítima de rapto na minha própria casa por agentes de uma qualquer agência de segurança disfarçados de operários da construção civil. Já há algum tempo que a mãe do meu filho me pressionava para azulejarmos a casa de banho e a cozinha do apartamento dado que tinham ficando algumas zonas da parede nuas de azulejos por via de uma substituição total das canalizações operada há meses. Nessa altura, tive o azar de contratar um operário demoníaco que - depois de um orçamento que aceitei por considerar razoável (pago pela seguradora depois de uma odisseia lamentável) - após me esventrar o chão da cozinha e WC, vem me dizer que se enganou nas contas de adição das parcelas e que, afinal, eram precisos mais 1000 euros! Recentemente saído do hospital internado por varicela aguda, na cama em recuperação e com a casa esventrada não tive hipótese de recusar. Agora, iria ter mais cuidado…

Pedido orçamento, notado que todo ele vinha decomposto em parcelas com as respectivas operações (um ar "profissional") e avisado o agente demoníaco da construção civil de problemas anteriores, lá aceitei a adjudicação. Para mal dos meus pecados. Primeiro os homens deveriam terminar as obras em 5 dias e não 12, segundo, apareciam às horas que queriam e não às combinadas e, por vezes, não apareciam de todo. A casa ficou um pandemónio. Pior de tudo, uma máquina infernal de cortar azulejos, largou uma película de pó fino em toda a casa, difícil de sair e que custou uma tosse cavernosa ao meu filho de 21 meses (e as consequentes visitas ao Centro de Saúde e Urgências do Hospital) e uma alergia infernal nas mãos dos pais do miúdo. Para rematar, o agente demoníaco da construção civil, resolveu acrescentar mais umas centenas de euros ao orçamento inicial por "acrescentos não previstos" (não era previsível que seria necessário mexer no depósito do autoclismo ou nas torneiras se se iria azulejar toda a parede do WC?? Entre outros…).

A casa já está quase limpa mas a mãe do Alexandre e eu ainda temos a "rash" nas mãos… e a fúria em "rash"…

ADENDA: Para quem anda por estas andanças da blogosfera, recomendo a visita ao blog Memória Flutuante.