segunda-feira, maio 16, 2005

9,5 + y/z + (-20) = 0? (II)

A proposta (?) do ministro Mariano Gago de encerrar os cursos que tenham menos de 20 alunos tem levantado algumas ondas de preocupação por parte de Universidades e Politécnicos. Neste post darei continuidade ao post anterior [9,5 + y/z + (-20) = 0? (I)] onde me referi à classificação mínima de 9,5 nas provas específicas para ingresso no E.S. Por pontos:

1. Em primeiro lugar a proposta (?) carece de esclarecimento. Refere-se ela a 20 alunos no primeiro ano do curso? No conjunto de todos os anos curriculares? Não se sabe. Não é despicienda a segunda hipótese. Um cenário destes não é de descartar dada a sanha de cortar despesas em todo o lado. Adivinha-se que, neste último caso, um curso simplesmente não encerraria deixando os seus alunos “ao Deus dará” mas poderia não admitir alunos no ano lectivo seguinte extinguindo-se à medida que os alunos se iam formando. Em qualquer dos casos, urge esclarecer a natureza da proposta. Qualquer que seja a resposta ela não explica o carácter arbitrário do número 20. Qual o estudo que sugere o 20 como mínimo ideal? E mínimo ideal para quê? Porquê? Porque não 15? 25? 30? Está abrangido o ensino não público? Presumivelmente não…

2. O bom senso dita que quando uma regra tem mais excepções do que os casos que encontram a sua concretização, a regra não presta. A história recente ensinou-nos que o critério da “relevância social”, tão caro a um ex-ministro do ensino superior e investigação não fez qualquer escola. Exemplo disso é o caso do I.S.C.T.E. onde o corte de vagas, há poucos anos, atingiu cegamente todos os seus cursos. Facilmente se poderá pensar que escolas superiores que possuem um curso que lhes é exclusivo ou quase devem ser excepções à regra (casos de Oceanografia, Eng.ª Aeronáutica, Naval e Têxtil entre outros); facilmente se poderá pensar – porque a proposta não contemplará, julgo eu, o mero encerramento total de escolas – que instituições como o caso de alguns pólos de Politécnicos ou Universidades (Angra do Heroísmo ou Lamego, entre outras) não serão simplesmente extintos de um momento para o outro; facilmente se poderá pensar que não ocorrerá o encerramento de grande parte de Universidades onde a maior parte dos seus cursos têm menos de 20 alunos (casos das Universidades da Madeira, do Algarve, de Évora e da UTAD); facilmente se poderá pensar que não se vão encerrar todos os cursos que, embora existindo em várias escolas (Educação Musical, Dança e outros) mas tendo menos de 20 alunos cada um, o seu encerramento causaria a simples extinção dos mesmos; facilmente se poderá pensar que não iriam encerrar a maior parte das escolas superiores politécnicas do interior do país e algumas do litoral de um momento para o outro… só estas medidas excepcionais já propiciavam o não encerramento de muitos dos cursos que têm menos de 20 alunos…

3. Se um presidente de um Instituto Politécnico, de uma Universidade ou de uma das suas escolas, à guisa do princípio do argumento da proximidade entre a natureza dos cursos da instituição e as necessidades/mais-valias económicas, sociais e culturais da região onde a escola está inserida, “provar”, na senda da sua “autonomia”, com um estudo “cientificamente” válido, … e feito por uma entidade “independente”, … e com dados "incontestáveis" de que os alunos formados por cursos com menos de 20 alunos encontraram total ou parcialmente saídas profissionais na região onde a escola está inserida, quem é o MCTES para contestar? Mais excepções à regra? E legítimas?

4. Um número razoável de cursos tem um numerus clausus inferior a 20 por razões perfeitamente legítimas do ponto de vista pedagógico, curricular e logístico. São cursos que se prestam a não admitir muitos alunos porque envolvem condições “especiais” do ponto de vista dos materiais, das instalações, do ratio professor-aluno tido como ideal, do ponto de vista da sua organização e desenvolvimento curricular, das especificidades dos locais a estagiar, da natureza do profissional a formar e, finalmente, da expectativa da necessidade dos formados pelo mercado de trabalho. Estão neste caso alguns cursos de formação inicial de banda estreitíssima (o que pode ou não ser questionável…) como os de música, com a especialidade num determinado instrumento musical. Mas também os de Dança, Teatro, Cinema, para falar no caso das artes mas também algumas engenharias, alguns cursos de multimédia (pelos recursos tecnológicos envolvidos) e até de humanidades, como o caso de Arqueologia, línguas estrangeiras que não envolvam o inglês, alemão ou o francês, ou ainda outros na área de formação de professores direccionados para crianças com necessidades educativas específicas. E ainda outros que não me ocorrem presentemente…

5. E finalmente, mas não menos importante, a exigência de se ter mais que 20 alunos num determinado curso (por exemplo, na admissão), enleia um convite à massificação. Se, por um lado, cursos que preenchem totalmente as suas vagas nas ordens dos 50, 75, 100 ou mais alunos (numa mesma escola ou numa mesma região) já formam estudantes que vão encontrar altas probabilidades de desemprego no mercado de trabalho (caso de Direito ou certas engenharias), não são abrangidos por esta proposta o que está em jogo afinal? Seguramente não é a empregabilidade. Ora muitos destes cursos já estão organizados de um modo onde se concentram várias dezenas de estudantes em amplos anfiteatros numa lógica taylorista de educação: as aulas teóricas massificadas constituem verdadeiras “fábricas” de ouvintes (interessados?) onde qualquer relação professor-aluno é atomizada e onde tanto uns como outros são perfeitamente despersonalizados. Querer-se-á o mesmo para cursos que ainda não são caracterizados por este ambiente curricular massificado? E como fica os ratios professor-aluno perfeitamente institucionalizados e aceites pelo poder oficial? Como se pode pedir ao Instituto Superior Técnico que tem em alguns cursos um ratio de professor-aluno de 8 para 1 que encerre um curso porque teve menos de 20 alunos no ingresso?

Defendo há muito tempo uma racionalização e fusão curricular de alguns cursos. Na realidade da formação inicial de professores, que conheço melhor, dada a estrutura curricular de muitos dos seus cursos, a existência de um tronco comum aos dois primeiros anos e a diferenciação, conforme o professor a formar, nos anos seguintes, presta-se à maior parte dos cursos. O mesmo pode acontecer em certas engenharias, línguas e literaturas. Na verdade, tal já ocorre em muitas escolas do ponto de vista do currículo real mas não do oficial. O que revela alguma falsidade nos números oficiais emanados pelas universidades e politécnicos. Depois, com o correr do tempo, considerando os níveis de empregabilidade (para que servem os observatórios de emprego?) ou outros critérios objectivos (os índices de procura, ou a interioridade da instituição, por exemplo) e iguais para todas as instituições que tivessem o mesmo tipo de cursos, o numerus clausus poderia subir ou descer. Esta fusão encontraria, com um certo planeamento (e concretização) curricular, um eco ajustado aos mecanismos de 3+2 ou 4+1 proposto por “Bolonha”, ajustava-se à idealização de perfis de saída particulares e esclareceria que profissionais poderiam ocupar quais lugares ocupacionais no mercado de trabalho…

sábado, maio 14, 2005

“A destreza das dúvidas acaba aqui.”

O nosso colega Luís Aguiar-Conraria está a passar por um problema que o atormenta bastante. Depreendo que seja a saúde um familiar que lhe é bastante próximo. Com aquela frase lapidar, decide terminar o seu blog, A Destreza das Dúvidas, que tanto nos animou, enfureceu, informou, esmoreceu, apaixonou…
Desejando que o problema que atormenta o Luís seja rapidamente resolvido ou minimizado, anseio que ele reconsidere e regresse ao nosso convívio...

No princípio era o verbo…

O Acontecencias acha que existe uma relação – profética mesmo - entre o clube que vai ganhar a Super-Liga (“super”?) e a correcção linguística do Presidente de um dos clubes aspirantes a essa vitória.
Inquirido sobre se este clube iria encimar a classificação final da Super-Liga num jantar com adeptos, aquele presidente (que não identificarei para não ferir susceptibilidades...) terá dito:

-“«Há-dem» ver! «Há-dem» ver...

"O nosso ridículo cresce na proporção em que precisamos dele"
Pierre Laclos

quarta-feira, maio 11, 2005

9,5 + y/z + (-20) = 0? (I)

As recentes propostas (?) do ministro Mariano Gago para o acesso ao ensino superior causam-me mixed feelings. Retenho apenas a proposta da nota mínima de 9,5 valores (numa escala de 0 a 20) ou 95 pontos (noutra de 0 a 200) e a necessidade de um curso ter um mínimo de 20 alunos para poder funcionar. Neste post falarei apenas da primeira deixando a segunda para post ulterior…

A questão da nota mínima é complexa. A função docimológica das classificações das provas específicas para ingressar nas instituições de E.S. não é tanto avaliar a posse de conhecimentos mas meramente seriar as notas de quem prestou aquelas provas. Não há qualquer intenção formativa: não há uma lógica curricular subsequente que deriva da maior ou menor posse (e qualidade) de conhecimentos demonstrada nas ditas provas pelos candidatos nem as instituições enformam eventuais conteúdos, métodos ou estratégias em determinadas disciplinas em função dos resultados obtidos pelos candidatos que acabam por ingressar na escola. Por muito bons ou maus que tenham sido os resultados, as classificações obtidas não corporizam, por outro lado, qualquer tipo de avaliação diagnostica. Não há qualquer tipo de despiste. Os candidatos com piores classificações (e, por tal, à priori, mais dificuldades) que ingressarem terão os mesmos conteúdos e as mesmas disciplinas e, presumivelmente, leccionadas de igual maneira do que aqueles que obtiverem nas mesmas provas altos índices de sucesso. As provas servem, então, uma mera lógica de avaliação sumativa “gaussiana”.

É crível que haja um referencial mínimo para um aluno ingressar no ensino superior. Pode ser discutível que seja o 9,5 ou o 9,0 ou o 10,0 mas um mínimo tem que haver. De resto, de um ponto de vista meramente estatístico, o 9,5 é tão aleatório como o 9,0 ou 0 8,5. A decisão humana é que impõe o significado de que a partir do 9,5 é que se situa a “positiva”. Mais ainda, é também uma decisão relativamente subjectiva que o 9,5 “já seja” positiva dado o arredondamento. Entendamo-nos nisto.

Crível não é, como já ouvi dizer, que um aluno que tem a classificação de 18 no conjunto das notas do secundário não ingresse numa determinada escola porque tirou um 9,4 na prova específica e outro com 10 e 9,5 respectivamente já ingresse. Constitui um argumento falacioso e “chantagista” de quem o profere. Tal situação poderia acontecer qualquer que fosse o mínimo estipulado para as provas específicas: sempre se poderá ficar a um "milímetro" do mínimo qualquer que ele seja, ou sempre se pode metaforicamente dizer que “foi por um triz” ou que “se morreu na praia”. Entendamo-nos nisto também.

Posto isto, e considerando que a necessidade de existirem mínimos para ingressar na E.S. é incontornável e que a tal não estará alheia a intenção mais ou menos sincera, mais ou menos mercantil, mais ou menos hipócrita, de existir um padrão mínimo de qualidade nos alunos das instituições de E.S. e nestas por arrastamento, não me choca que a média de acesso resulte de uma ponderação das classificações do conjunto do Ensino Secundário mais a nota das provas específicas. Mas mesmo aqui teria que haver também mínimos. E o 9,5 poderia sê-lo. Para tal, urgia que todas as instituições tivessem as mesmas provas de acesso (coisa que não acontece) para os mesmos cursos e os mesmos factores de ponderação para os diferentes produtos a ponderar (50%/50%?).

Vejamos outra situação: no meu tempo de estudante de licenciatura (e anteriormente também no Ensino Secundário – não sei se ainda é assim…) poder-se-ia ter acesso a um exame oral e daí “passar” à disciplina se se obtivesse a nota de 8 (oito) valores. Havia ainda professores que consideravam esse 8 arredondado do 7,5 e outros que não. Além da subjectividade puramente humana, para não dizer pessoal, que assumpção se retira daqui? É um aluno medíocre mas talvez nos apercebamos melhor das suas capacidades se ele prestar uma prova oralizada”? Não, claro que não. Estipular o mínimo de 8 valores foi (é?) uma decisão tão arbitrária como considerar que a partir do 9,5 se atinge um mínimo. Diferentes professores podem atribuir, para a mesmíssima prova diferentes classificações. E serão decisivas se um atribuir 9,5 e outro 9,2 para a mesma prova. Uma universidade não pública portuense tinha aqui há anos uma escala de 0 a 14 valores sendo que para "passar" se exigia um mínimo de 10. Não sei se ainda é assim. Alta exigência? Não sei...

Estudos confirmam que por mais que se queira a avaliação (e classificação) nunca é 100% objectiva (e valerá a pena discutir o conceito de objectividade?): um investigador pediu a um docente que corrigisse e classificasse um conjunto de provas da sua área de docência. Cerca de três meses depois pediu ao mesmo docente que fizesse o mesmo para outras provas. Na verdade eram as mesmíssimas mas redigidas com outras grafias, outros tipos de folhas, etc. Apenas se mantinham as mesmas perguntas e as mesmas respostas. Os resultados evidenciaram que as classificações diferenciaram-se até 6 valores. Não me peçam para dizer se foram controladas todas as variáveis parasitas que não retenho de memória. Acreditando no estudo, ele evidenciava que a subjectividade (e arbitrariedade?) da avaliação está sujeita até aos ritmos fisiológicos e disposições psicológicas do “corrector/avaliador”.

Um dia um aluno escreveu-me quatro páginas completas para um exame que tinha 5 perguntas. Li-o. Sempre com alguma flexibilidade, tinha (como sempre tenho) critérios de correcção pré-definidos e ponderados. Dei-lhe um 0 (zero) numa escala de 0 a 20. Nunca tal me tinha acontecido. “Zeros” dava quando um discente entregava a folha de respostas em branco. Reli a prova. Não podia ser. O imenso chorrilho de disparates, um conjunto de argumentos que rigorosamente nada tinham a ver com a natureza das perguntas fez-me confirmar o "zero". Mais tarde na época de recurso, apesar de o mesmo aluno ter escrito na prova que era condenável que o seu professor (eu) tivesse andado na escola com uma camisola de um clube lisboeta da zona de Alvalade (não digo qual…), passou com 14 (catorze). Até o "insulto" se adequava à uma questão relacionada com a natureza do “currículo oculto”. Subjectividades?

Qualquer que seja a nota mínima de acesso, é sempre uma decisão relativamente arbitrária se é um 8,0, 9,5 ou um 10. Mínimo terá sempre que haver. E é dificil que este não seja quantificado. Mas o importante é assegurar um debate que esclareça a posse de competências mínimas que configurem um “perfil de entrada” apropriado à natureza do curso a ingressar, que assegurem um mínimo de qualidade dos recém ingressados e, subsequentemente, as respectivas instituições e que tentem assegurar um nível razoável de exigência e rigor (até para o boa prossecução do ideal de “Bolonha”). E não é exclusivamente com discussões vãs de números que se chega lá. A bem dos alunos, dos professores e das instituições.

segunda-feira, maio 09, 2005

Flagrantes da Vida Real (V)

Vim à rua para cortar o cabelo. Nunca o tinha feito naquela cidade. Mas já tinha escolhido um cabeleireiro que me parecia asseado. Já estava algo impaciente na procura por um lugar para estacionar quando topei um lugarzito jeitoso. Pisca e lentamente, de marcha atrás, iniciei a manobra. Estacionei.

Só já fora do carro é que me apercebi que estava estacionado em lugar proibido. Metros atrás o devido sinal avisava. Cioso destas coisas decidi ir tirar o carro. Não me importei que várias viaturas estivessem a transgredir. Inicio manobra de saída. Pisca. Eis que surge um jovem motoqueiro e querer estacionar no pouco espaço para o manobrar que tinha à frente do automóvel. “Ó chefe? Espere lá um bocadinho que eu saia!”. Disse. Não reagiu. Julguei que não tinha ouvido. Não havia grande maneira de tirar o carro se ele estacionasse à frente da minha viatura. “Chefe? Depois de eu sair até fica com mais espaço… veja lá…”. Que não… “Pensa que a estrada é toda sua?! Estes gajos! F+d+-se!”. Gritou. “Ó homem! Tenha calma!”. Retorqui. E desbaratou com insultos. Chega um polícia. Fala com o jovem motoqueiro. Nada oiço. Ele tira a mota. O simpático polícia dá-me indicações para sair com os gestos apropriados, não me multa (!) e manda parar uma viatura para facilitar a minha saída. Eu agradeço com um gesto. O jovem motoqueiro abala fazendo-me outro gesto: imita o falo com a mão direita e direcciona-o para mim.

Acabo por estacionar num parque próximo e vou para o cabeleireiro. Só uma cadeira está vazia. Um cabeleireiro a atender outro cliente diz-me: “Sente-se aí que o meu colega vem já...”. Sento-me e espero. Chega o “colega”. Estarreço e ele também. É o jovem motoqueiro

quarta-feira, maio 04, 2005

É verdade, não é?

Excerto de um diálogo do filme “Contacto” baseado em obra homónima de Carl Sagan.

(…)

David Drumlin: “Ellie… o mundo pode ser muito injusto…
Ellie Arroway: “Engraçado… sempre pensei que o mundo era o que fazíamos dele…

terça-feira, maio 03, 2005

O porquê dos meus blog’s favoritos (I)

Cá vão eles. A ordem é puramente alfabética.

A Destreza das Dúvidas
Porque, embora muito orgulhoso, é assertivo. Porque dá-me a conhecer uma realidade que ainda anseio experimentar e porque deliciam-me as crónicas sobre “o Patrick foi a este sitio, o Karl disse aquilo,…” e lá vou eu, interessado nesta novela académico-mexicana, recuar vários post’s para enquadrar as personagens do “Patrick” e do “Karl” para poder perceber a trama. E as crónicas vernaculistas do Cristóvão (o pai?) são uma referência…

A Memória Flutuante
Porque parece ser um bom historiador da educação (mesmo que não o assuma). E por tal sabe relativizar e enquadrar, como ninguém, alguns dos actuais cenários da educação. Novel blogger, ganhou, merecidamente, um lugar de honra nas minhas visitas quase diárias. Tem uma mentalidade curricular que não me parece vulgar na geração dele. E porque é das muito poucas pessoas que mais me deve entender (concordando ou não), em termos epistemológicos, quando falo das questões do currículo.

Arte por um Canudo 2
Porque o caracteriza uma certa inocência e candura pelas imagens e pelos textos que me seduz. Porque é completamente despretensioso.

Conversamos?!
Porque é um óptimo blog para ler e perceber coisas da “trama humana” em particular e, em geral, é de uma erudição invejável. A Lucília levanta questões e deposita reflexões tão pertinentes que eu até tenho medo de comentar por poder parecer um ignorante. É, de facto, o que a sua sageza me faz sentir…

Da Escola
Porque é fundamentadamente opinativo. Porque é incisivo. Porque não parece ter medo. E, apesar de ser da escola de outros tempos, denotar uma frescura não usual.

Fábulas
Porque é querida, muito esclarecida e pertinente nas suas posições. É uma professora do 1.º C.E.B. que eu gostaria de ter tido como aluna. Seria um desafio num certo marasmo desse universo (com razoáveis excepções).

Mais do Mesmo
Porque é (também) sportinguista. E fala do que sabe e não mais do que isso. Não se aventura em grandes solilóquios. Fala de futebol e de escolas com uma coerência e simplicidade de assinalar. E porque amiúde não tem papas na língua...

O Almocreve das Petas
Porque gosta de História contemporânea de Portugal. Porque é bibliófilo (e, se calhar, bibliómano...). Porque recebe os mesmos catálogos de alfarrabistas e antiquários que eu. Porque tem um nome espectacular.

O Fio de Ariana
Porque me faz lembrar de mim há anos atrás. Porque vejo, em post’s curtos e plenos de conteúdo um trajecto académico onde sobressaem as pequenas e grandes vitórias, as pequenas e grandes amarguras.

OutrOlhar
Porque levanta questões interessantes sobre educação (em especial gestão escolar) e, amiúde, sustenta-as com excertos de autores e as próprias fonte. E, apesar de não concordar com a toda a filosofia da “sua” Escola Cultural, é pertinentíssimo nas suas posições.

Ponto Triplo
Porque é um blog com excelentes links para a “ciência pura e dura” e por vezes não tão pura e não tão dura assim…

Professorices
O que dizer do Decano? Porque é um bom “diseur” de muitos assuntos, reflecte, fundamentadamente, sobre o Ensino Superior e o que me parece ser um dos melhores especialistas sobre o Processo de Bolonha. Entusiasma-me o entusiasmo abrupto dele por assuntos e sou, igualmente, esmorecido pelo seu esmorecimento pelos mesmos. Mas, Helas!, terminou a sua produção bloguística.

Que Universidade?
Porque é uma excelente fonte de link’s sobre muitos assuntos do Ensino Superior. Em vez de ir aos motores de pesquisa procurar notícias, eu vou ao blog do MJMatos. Quando oiço pela rama qualquer coisa relevante sobre o E.S. lembro-me: “logo vou ao «Que Universidade?» saber mais…

Univercidade
Porque é assertivo também. Não tem pejo em assumir, destemidamente, as suas posições (mesmo que eu discorde de algumas delas) e porque mantém uma regularidade apreciável. Porque é dos sites sobre Ensino Superior o que mais me informa e enforma. Porque é dos poucos que compreende a (grande) necessidade de formação pedagógica certificada em professores do Ensino Superior.

E ainda há os outros que constam na lista à esquerda de que falarei oportunamente na continuidade deste post...

segunda-feira, maio 02, 2005

Mãe ontem e Mãe hoje...


Ontem comemorou-se o Dia da Mãe. O Alexandre (nosso filho) lembrou-o (com uma ajudazinha) à sua Mãe. Hoje é o Dia da Mãe dele já que ela comemora o seu aniversário. A ela que tem sido, muitas vezes quase sozinha, o pilar e sustentáculo desta família, rendo aqui as minhas mais sinceras, profundas, sentidas e merecidas homenagens.

"Bela, sem enfeites. De uma beleza que acaba de se arrancar ao sono..."
(Jean Racine)

domingo, maio 01, 2005

Wanna know what a coward is? Or… the plausible denial…

INTROITO 1: já passei por algumas escolas de ensino superior. Nelas muitos assistentes que estavam a fazer doutoramento não viam com bons olhos uma futura passagem para o quadro com base na aquisição do novo grau. A eles era comum o facto de, embora a aparência não o denotar, não serem bem vistos pelo órgão directivo. Ora por não concordarem com tudo o que ele difundia e assumirem-no, ora por reivindicarem os seus direitos, ora por estarem simplesmente a fazerem, e assumirem-no também, o seu doutoramento. Sabiam, em suma, que a posse do grau não augurava bons auspícios. O mesmo não se passava com outros docentes, na maior parte dos casos antigos na casa e, na maior parte dos casos, já professores-adjuntos de nomeação provisória ou definitiva. A estes, e só a estes, haviam as bolsas do PRODEP às quais o Conselho Científico conferia gentilmente o amén. Numa outra escola onde estive depressa me apercebi que se passava o mesmo: diferentes nomes, as mesmas pessoas, as mesmas práticas de amiguismo, caciquismo, de “scratch my back and I’ll (eventually) scratch yours”, compadrio e a corrupção fácil e barata. Numa das escolas, dois assistentes doutorados foram corridos e um terceiro saiu pelo seu pé dada a “exigência” espartana: especificidade da carga horária, natureza bizarra das disciplinas e localização das mesma nos dias de semana, sobrecarga de orientação de estágios, etc., que lhe impunham para não falar de um certo isolamento psicológico a que foi sujeito. A tudo isto não foi alheia a circunstância de um outro assistente esconder que era detentor da posse de grau de Doutor. Não tenho conhecimento se actualmente a pessoa já o divulgou…

Noutra escola, embora se chamassem a todos os mestres de “Doutor” nos documentos internos da escola, as não renovações, por coincidência, impendiam sobre os assistentes que tinham cometido o pecado, de certo modo, de publicitar que já viam o fundo do túnel no tocante ao fim do doutoramento. Exceptuando os “antigos à casa” a quem se esperava, franciscanamente, que terminassem o grau de mestre para se abrir o respectivo concurso para professor-adjunto.

INTROITO 2: nos períodos de desemprego entre uns empregos e outros, submeti, amiúde, candidaturas a concursos públicos onde explicitamente mentia por omissão a posse de habilitações literárias. Numas referia a posse de uma licenciatura incompleta noutros o 12.º ano, e noutros apenas omitia o mestrado. Fui preterido algumas vezes por, e passo a citar “excluído por excesso de habilitações” mesmo cominicando ter uma licenciatura incompleta não chegando sequer à fase da entrevista. O exemplo mais paradigmático foi o Instituto de Reinserção Social. Num primeiro concurso a nobre instituição excluiu-me pelo tal “excesso de habilitações” e muito mais tarde, “permitindo-me” ser entrevistado, comunicou-me um (então) “sub-director” que “se [eu] pensava que vinha para aqui para depois singrar como técnico superior em detrimento das pessoas que já cá temos há anos está [estou: eu] muito enganado!”. A todos os concursos que me excluíram por alegadas habilitações em demasia havia algo em comum: eram instituições públicas, ergo, do Estado. Já para concursos em escolas do Ensino Superior, não raro vejo candidatos, opositores a mim, doutorados serem preteridos por candidatos “da casa” licenciados ou mestres…

INTROITO 3: finalmente parece que o meu “eterno” doutoramento vai encarreirar. Orientador quase formalizado, projecto feito, base de dados em estado avançado e cerca de 80 páginas já escritas, provável integração em pelos menos dois projectos internacionais,… e, embora a mãe do meu filho revele alguma compreensão tomando conta do nosso filho quando eu estou embrenhado no computador a escrever para a tese, ele aparece-me, de vez em quando, ao lado da secretária com uns olhinhos de “Pai?! Brinca comigo...”, vou conseguindo escrever e adiantar alguma coisa. Mas sim. Eu tenho um filho, tenho quase quarenta anos e tenho que pensar nele, no seu futuro…

SOMATÓRIO DOS INTROITOS: Pois… por muito que advogue, nesta minha veia sindicalista, a defesa dos direitos adquiridos, a excelência da qualidade no Ensino Superior em geral e a qualidade da formação pedagógica em particular e... alguma integridade..., saberei ter, quando terminar o grau, o discernimento para fazer o mesmo que alguns dos meus amigos covardes. E lamento se desiludo os meus colegas da blogosfera. Já fui muito queimado: nas “instâncias próprias” e nos “momentos apropriados” saberei dizer: "Doutoramento? Não, não tenho. Talvez qualquer dia…"


When the going gets tough… or... do you want to throw the first stone? Or yet... are you sure you're capable of judging me?