sábado, abril 30, 2005

Um mero acento ou talvez algo mais…

Já uma vez chamei a atenção a alguns dos meus colegas da blogosfera que, nos respectivos blog’s retirassem o acento circunflexo do nome do meu. Na altura disse: “«Acontecencias» não é, pelos vários dicionários que consultei, uma palavra que faça parte do léxico português. Por tal não se sujeita às regras gramaticais, designadamente as de acentuação, da língua de Camões. E não leva acento circunflexo. Corrijam-me se estiver enganado. «Inventei-a» para, logo a seguir, descobrir que já era usada no Brasil… Helas!”. Se eu estiver errado, os linguistas, filólogos ou vernaculistas em geral que me corrijam…

Uma rápida visita aos blog’s que visito quase diariamente revela os que escrevem bem e os que escrevem “mal” o nome deste blog.

Escrevem bem:
O Fio de Ariana
OutrOlhar
Professorices
Univercidade
Fábulas
Mais do Mesmo
Que Universidade?
BlogUÉ
Professor. Professor…
Conversamos?!
Os Nossos Queridos Jornalistas Desportivos
Nós-Sela
Ponto Triplo
Profidências
Atmosfera
A Destreza das Dúvidas
6 em 1 & Algo Mais
Prozacland
Arte por um Canudo 2
Paixão da Educação
(In)Firmus
Educa Portugal – Educação em Debate

Escrevem “mal”:
Ar Fresco
A Memória Flutuante
Políticas Públicas
Do Portugal Porfundo
Crónicas do Deserto
Da Escola
Pé de Meia…
Berra-boi
Ar Fresco

E ainda há aqueles que escrevem "outras coisas":
Lobices onde consta "PauloLopes"
Um Ponto de Fuga onde consta “Antecedências” (!)

Há ainda outros blog’s que têm os links para outros blog’s em letras muito pequininas ao longo do lado esquerdo ou em fundo de página. Esses não apurei. Vá... quando tiverem um tempinho, corrijam lá se faz favor...

sexta-feira, abril 29, 2005

O problema da matemática ou a matemática do problema?

Já vou um bocado atrasado neste debate depois de ter sido tratado pela saltapocinhas e pelo Varela de Freitas, isto é, por pessoas que o conhecem melhor do que eu. Assim sendo, farei uma breve sistematização por pontos:

1. Oiço demasiado a palavra "mais" em detrimento da palavra "melhor". Mais horas abertas nas escolas do 1.º C.E.B., mais horas supostamente dedicadas ao ensino da matemática, mais horas de formação para os futuros professores do E.B., mais horas de monitorização para aqueles e outros."Mais professores" não se ouve. Continua a sanha do "como fazer mais coisas sem gastar mais dinheiro?";

2. Parece emergir a ideia que se pode fazer melhor mantendo, sem dó nem piedade, a prata da casa. Tal vai encontrar muitos obstáculos: muitas escolas do 1.ºC.E.B. já estão abertas tantas horas quanto podem (e devem), muitos professores já estão na escola em actividades lectivas tantas horas quanto podem (e devem), muitos professores de apoio (quando existem) já tem tantas actividades e despendem tantas horas quanto podem (e mais do que devem), muitas salas já estão ocupadas quanto podem (e mais não podem), muitos materiais (quando existem ou quando existem em número suficiente) já são utilizados quanto podem (e desgastam-se) e muitas crianças já estão muitas horas na escola (mais duas horas e meia para conforto de muitos paizinhos…). Não obstante, defendo o conceito de manter as escolas (que o possam) mais tempo abertas. Em muitos países as instalações escolares são aproveitadas ao máximo: desde OTL’s a muitas outras valências (incluindo nocturnas) que não para crianças assumindo-se como verdadeiros centros comunitários.

3. A ideia de ocupar furos vai encontrar dificuldades logísticas consideráveis: Embora muitos sejam previsíveis (por exemplo: o/a docente está de baixa ou pior: não há docente), muitos dos “feriados” ocorrem sem conhecimento antecipado: como planear actividades com tal imprevisibilidade? Conhecidos ou não os furos, haverá um escalonamento dos professores que se vão ocupar das actividades para aqueles? Como? Provavelmente estão, à mesma altura, com as suas turmas. E se não estiverem? Serão consideradas horas extraordinárias?

5. Subjaz-me ao diagnóstico de insucesso escolar na área da Matemática, a ideia, implícita e errada, de alguma incompetência por parte dos Professores do 1.º C.E.B. na leccionação da mesma, já que é sobre estes que, primeiramente incide um diagnóstico de necessidades de formação. Como orientador de estágios num passado próximo, tive oportunidade de me aperceber de bons e menos bons estagiários, eventualmente, bons e menos bons futuros professores. Como em tudo…

6. A medida de restringir o acesso de futuros professores do 2.º e 3.º C.E.B. é quase uma intenção vazia de concretização. A ser implementada a curto ou médio prazo, a medida só encontrará efeitos nos alunos que, entrando “agora” no ensino superior, terminam os cursos daqui a 3 ou 4 anos e comecem a leccionar. Bom, é sabido que em educação o investimento é feito a médio ou longo prazo mas a realidade portuguesa tem mostrado que cada legislatura propõe e implementa as “suas” medidas na educação extinguindo ou esmorecendo as medidas da legislatura anterior…

7. Por outro lado, restringir o acesso a alunos que não tenham tido sucesso a matemática no ensino secundário parece-me derivar de uma relação causa-efeito, que apesar de parecer lógica ao senso-comum, padece de um exclusivismo relativamente incompreensível: supõe-se que quem tenha negativa às disciplinas de Ciências no secundário já possa ser um bom professor de Ciências no Básico? E noutras disciplinas? Só porque a Matemática tem mais altos índices de insucesso? Estamos, daqui a 5 ou 10 anos a debater a oportunidade da mesma medida para as Ciências ou outras? O problema pode residir no facto de ser permitido, para os cursos de formação de professores, não obstante algum afunilamento por via das provas específicas, a possibilidade de qualquer aluno poder aceder qualquer que seja a área que frequentou no ensino secundário. Pela positiva, assumo que incidir em medidas a longo prazo e cuidar de algumas a curto prazo, pode ser proveitoso: a monitorização dos docentes em formação ou início da docência é pertinente. Não obstante, e pela positiva, julgo que é ao nível do 2.º e 3.º C.E.B. que mais deve incidir algum rigor na selecção dos futuros docentes. Mas não só aos de Matemática…

8. E o ponto mais fudamental: parece haver uma ideia de “mais matemática” e não “melhor escola”. Certo e sabido que muitos alunos têm dificuldades a Matemática porque… têm dificuldades a Português. A nível da leitura, da interpretação…. Como já referiu bem o Varela Silva, a concepção de “extra-curricular” encontra eco numa mentalidade curricular algo tacanha ao nível do 1.º C.E.B: há a “escola escolar” e, ainda intra-muros do edifício escolar, a “escola menos escolar”. E a "Lógica curricular aditiva" sobrepõe-se: mais horas para Matemática “roubando” horas a… Português? Educação Física? Expressões? Corporiza a ideia que sempre combati, expressa em alguns colegas meus e em futuros docentes, “os quinze minutinhos das Expressões (que mais não é preciso porque é mais «brincadeira») e depois a horinha da Matemática, intercalada entre os trinta minutinhos do Estudo do Meio”, que enforma os planos das aulas e as aulas propriamente ditas. Já Decroly (e muitos outros) falava dos “Centros de Interesse” que se sobrepunha a esta lógica curricular disciplinarmente compartimentada. Aqui o professor não é um gestor do currículo mas um especialistazinho que vai trocando de “farda” conforme os 15, 30, 45 ou 60 minutos da especialidadezinha que está a leccionar… no tocante ao 2.º e 3.º C.E.B. não há uma atitude de interdisciplinaridade que favorece uma noção de currículo abrangente.

9. Embora seja de louvar a intenção de começar a actuar ao nível do 1.º C.E.B., não me estranharia que se fosse um nível mais atrás e se incidisse no âmbito do ensino pré-escolar. De pequenino se torce o pepino.

10. E o pepino da Matemática anda, contrariando de certo modo o ditado, tão torcido

quinta-feira, abril 28, 2005

O fim de uma era…

O blog Professorices vai-nos deixar. O João, benignamente viciado na blogosfera, tomou a decisão recentemente. Em alternativa, direccionou os seus fieis leitores para um outro site e criou um fórum para a continuar a tertúlia ("com um gin tónico") que tanto preza. Não será a mesma coisa… é, de certo modo, o fim de uma era…

Respeito, obviamente, a sua decisão. Durante anos deliciou-nos, informou-nos e enformou-nos com as suas crónicas sobre tudo e mais alguma coisa e, especialmente, sobre o ensino superior, no qual denota uma das visões mais sustentadas, informadas e reflectidas da nossa “praça”. Este post é e não mais do que isso: uma homenagem ao João Vasconcelos Costa. Que nos continue a informar e educar por outras vias… mas que continue…

quarta-feira, abril 27, 2005

Wanted: FMI…

"Cachucho não é coisa que me traga a mim,
Mais novidade do que lagostim.
Nariz que reconhece o cheiro do pilim,
Distingue bem o Mortimor do Meirim.

A produtividade, ora aí está, quer dizer,
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer,
Entrar por aí a dentro, analisar, e então,
Do meu 'attachi-case' sai a solução!

FMI Não há graça que não faça o FMI!
FMI O bombástico de plástico para si!
FMI Não há força que retorça o FMI!

Discreto e ordenado mas nem por isso fraco.
Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco.
Enfio uma gravata em cada fato-macaco,
E meto o pessoal todo no mesmo saco.

A produtividade, ora aí está, quer dizer,
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder!
Batendo o pé na casa, espanador na mão,
É só desinfectar em superprodução!

FMI Não há truque que não lucre ao FMI!
FMI O heróico paranóico 'hara-quiri'!
FMI Panegírico, pro-lírico daqui!

Palavras, palavras, palavras e não só,
Palavras para si e palavras para dó.
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó.
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó.
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas,
Sempre atentas,
E levas pela tromba se não te pões a pau,
Num encontrão imediato do 3º grau!

FMI Não há lenha que detenha o FMI!
FMI Não há ronha que envergonhe o FMI!
FMI
..."

Quem for da minha geração, ou anterior, e reconhecer estes versos, diga-me onde encontro um suporte magnético ou digital com os mesmos. Ando à procura há anos…

terça-feira, abril 26, 2005

Envolvido duplamente numa chainletter

Há muitos anos atrás, era eu um rapazito inconsequente que ficava preocupado com aqueles envelopes anónimos que traziam uma moedinha de vinte e cinco tostões e uma fotocópia de uma reza. Acompanhava-a uma instrução explícita de que teria que reencaminhar a carta para mais 25 pessoas (mais as respectivas 25 moedinhas de 25 tostões) senão impenderiam sobre o “destinatário” da carta graves consequências. Porque Diabos teria eu aberto o envelope?

Mais tarde quiseram envolver-me num esquema em rede que alegadamente faria ao envolvido ganhar muito dinheiro. Enviava-se um cupão para três endereços (um duma empresa e dois à escolha do seleccionado) acompanhados de 3 notas de quinhentos escudos e entrava-se numa fila. Se essa corrente não se quebrasse, o dinheiro seria multiplicado e receber-se-ia, por troca, várias notas de quinhentos escudos. Agora surgem estas correntes por e-mail ou via blogs.

O desafio de responder a algumas perguntas chega-me por via de dois blogs: A Memória Flutuante e o Prozacland.

Seguindo uma boa sugestão duma colega da blogosfera, coloquei as respostas na caixa de comentários.

segunda-feira, abril 25, 2005

“Mãe? Agora os soldados são nossos amigos? Dantes não eram porquê?”

É a pergunta inocente de uma criança de 8 anos no dia 25 de Abril de 1974 ao deparar-se com uma certa comoção nas ruas e uma emissão televisiva fora do comum. Nos dias seguintes os cartazes do MFA com um soldado e um popular a representar o povo só fizeram cimentar a ideia de soldados inimigos do povo, que batiam no povo. De facto, enquanto criança no pré-25 de Abril nunca me tinha apercebido disso, de que os soldados eram inimigos do povo.

Agora”, o contraste desta súbita amizade fez emerger a pergunta. “Não. Os inimigos eram outros. Não tinham farda e fizeram mal ao teu avô… mas dantes não se podia dizer isto em voz alta”. Sim, o espectro do meu avô ter sido maltratado por uma polícia política ainda hoje enforma e informa a minha relação com a ditadura do Estado Novo e o período da primavera marcelista.

Ainda hoje lamento não ser mais velho no dia 25 de Abril de 1974. Para perceber o que se passava, para participar no que se passava, para ser parte do que se passava…

sábado, abril 23, 2005

Plagiaram-me... sim, desta vez foi a mim...

A senhora é professora de História. Vice-coordenadora da Secção Pedagógica de um Centro de Investigação dedicado à investigação/em memória de Humberto Delgado. E manteve, até há poucos meses, um blog designado HistóriaeCiência.weblog.com.pt. E não teve pejo em copiar 53 imagens que eu digitalizei do meu próprio acervo bibliográfico e coloquei num site meu, para ilustrar posts do seu blog. Está tudo aqui. Contactada por e-mail há já algum tempo, nada respondeu. Basta colocar o cursor nas imagens e clicar "propriedades"

Porventura a investigação/homenagem a alguém com valores anti-fascistas, de liberdade e respeito pelos outros e a vice-coordenação da "Secção Pedagógica" do referido Centro (financiado pela FCT) não lhe ensinaram a importância da apropriação indevida de imagens. O blog, por sua vez, trata, entre outros, da "História da Cultura e das Mentalidades". Não creio que vá perorar sobre a propriedade intelectual ou a apropriação indevida...

Homo sum. Humani nihil a me alienum puto…

sexta-feira, abril 22, 2005

“Fac-simile? Não, não temos nada desse autor” ou o atendimento em certas livrarias…

Já noutra altura tive ocasião de falar sobre o atendimento em algumas das nossas livrarias. Contei uma anedota (“Flagrantes da Vida Real, II”) onde, face à minha pergunta: “Tem edições fac-similadas”, “Como?”, pergunta o livreiro (?), “Fac-similes”, respondo eu. E lá vai o homem ao compudador regressando pouco depois e dizendo: “Não, não temos nada desse autor...”.

A verdade é que eu gosto de cirandar pelas prateleiras das livrarias. Revoltear livros cujos títulos me chamam, muito ou pouco, a atenção, sentir a fragrância da tinta, do papel, do livro novo, perscrutar os índices, folhear as bibliografias, revirar as badanas e ler as contra-capas. Para mim, ir a uma livraria é quase como ir ver uma exposição. Os livros dizem-me: “Estou aqui para ser folheado. Folheie-me!”. Tal como um quadro poderia dizer: “Admire-me, contemple-me!” ou uma escultura bradar: “Apalpe-me! Escorra, levemente os seus dedos pela minha superfície… sinta-me” (se for o caso disso...). É quase uma relação erótica ou um orgasmo… hum… - lá vou eu ser pretensioso – intelectual, quando o livro contém um título, uma ideia, uma imagem que encontra eco nos meus quadros de referência ou choca com os mesmos.

A coisa tem sido mais difícil desde que a paternidade me abençoou mas lá estou eu de vez em quando. Da última vez, numa livraria em Cascais, enquanto o Alexandre entretinha-se a folhear livros com “popós”, aventurei-me, receoso, a inquirir a senhora que atendia.
-“Se faz favor? Procuro um livro que se chama […]. O autor é um senhor chamado Brazelton… quer que soletre?
- “Não, não é preciso…”, responde a senhora.
E lá escreve ela uma versão do nome do autor:”Breseltom”. Eu consigo vislumbra-lo:
- “Não, não é assim que se escreve…”, interrompo.
- “Ah, não? Temos cá um autor com este nome… o livro é sobre quê, mesmo?
- “Qualquer coisa o «Grande livro das Crianças ou da Criança»… não sei bem…
- “Ah! Está na secção de «Pedagogia» lá em baixo”.
Vou lá. Procuro. Não encontro tal secção. Procuro melhor… regresso à senhora…
- “Desculpe… não encontrei essa secção…
- “Mas está lá… entre «Gestão» e «Informática»!
- “Importa-se de vir comigo lá?”, pergunto, quase atormentado… ela vem comigo.
- “Vê? Está aqui: «Psicologia/Sociologia»!”, ufana…
- “Tinha dito «Pedagogia»…”, comento, humilde.
- “É tudo a mesma coisa! É tudo a mesma coisa! Encontrou o livro?
(…)

Por favor… coloquem gente com um palmo de testa nas livrarias! Dêem emprego às centenas de licenciados em História desempregados ou doutras Ciências Sociais e Humanas a atender nas livrarias e não qualquer burgesso ou burgessa à frente de um balcão de atendimento de uma livraria. Para bem da cultura. Para bem de todos nós. Incluindo os burgessos…

"The problem of dumb ass is that they are too stupid to know it"...

quarta-feira, abril 20, 2005

Com Ratzinger não há insecto voador que escape! Ratzinger... da Bayer…

Não sei bem qual é a percepção dos comentadores “oficiais” (neste caso daqueles que se dedicam a questões religiosas… José Pacheco Pereira será, certamente, um deles dado que é especialista ou generalista em todas as ciências…) mas a mim encontrou uma grande decepção a escolha deste papa. A ortodoxia venceu e por mais que o adjectivem de “papa de transição”, vislumbro que o homem vai durar, durar…

Não deixa de ser curioso que os discursos altamente elogiosos ao falecido João Paulo II se façam acompanhar da ideia de Ratzinger ser um dos seus “apóstolos” de ideologia ou mesmo “braço direito”. Se Karol Woyjtila era assim tão "bom" e se este Ratzinger partilhava a sua ideologia quando ao papel da igreja no actual enquadramento geo-estratégico mundial, das duas uma: ou João Paulo II não era assim tão “bom” ou este Bento XVI não é assim tão ortodoxo…

Vem isto a propósito de uma historieta acerca do novo papa. Anedota? Não me parece.

Teria Joseph Ratzinger convocado uma sessão ecuménica onde se teriam deslocado os máximos representantes de diferentes religiões: maometanos, hinduístas, budistas, protestantes, até os ortodoxos russos e muitos, muitos outros. Cada um falou, no púlpito, dos principais grandes ideias da sua confissão. A cada um a plateia disse: “Muito bem, Muito bem! Se se sentem à vontade com esses princípios, se os praticam em consciência e se têm essa vontade de ajudar os outros [todas tinham, de certo modo] está muito bem”. Até que chegou a vez de ir ao púlpito a Igreja Católica Apostólica Romana. E Joseph Ratzinger foi o escolhido. Disse, ufanando: “Só há uma verdade! É a nossa! Tudo isso é muito bonito mas são disparates! Não se admitem desvios à verdade!”.

Eis que se aproxima um senhor, chamado Padre Telemond (cf. “As Sandálias do Pescador”: excelente filme que já vi várias vezes) que diz em surdina:
- “Com Ratzinger não há insecto voador que escape! Só os rastejantes [isto é, os que se acomodam e aceitam a ortodoxia dogmática católica] Ratzinger... da Bayer…

ADENDA: descansem os "apóstolos" da chain letter que muito brevemente responderei à mesma. Fui duplamente solicitado...

ADENDA2: muitas acusações podem impender sobre o passado do Papa Bento XVI. Todavia, uma delas não lhe pode ser assacada. Vejo, irreflectidamente, alguns críticos a destacarem a sua pertença à "Juventude Hitleriana" enquanto criança/jovem. A eles digo: Tenham juízo! Considerem a natureza da época histórica. onde as crianças eram desde cedo fortemente ideologizadas [possuo cartilhas de leitura nazistas que o atestam] e obrigadas a ingressar nessa organização sem direito a contestação. E mesmo que o tivessem não teriam maturidade para tal. A estes críticos (eventualmente alguns perfilaram a organização da "Mocidade Portuguesa" e confessam-no saudosisticamente), a inclusão involuntária de uma criança numa organização cuja dimensão não estava ao alcance da sua compreensão parece ser um pecado de lesa-pátria... Tenham juízo!

terça-feira, abril 19, 2005

Profetismos e dislates em educação: o inicio da viragem? (Ciclo da Pedagogia III)

Em Portugal parece-me ser emergente uma tendência para, finalmente, desacreditar os profetas da desgraça em educação ou aqueles que, portadores de um discurso mais ou menos coerente, dotados de alguma oratória e com lugar cativo em artigos de opinião de órgãos de comunicação social, vão proferindo, sucessivamente verdadeiros disparates sobre o mundo da educação em Portugal. Uns e outros falam de cor: são credenciados investigadores, calcorreiam, ou calcorrearam durante muitos anos, alguns obscuros corredores de prestigiadas Universidades, e, enclausurados nos luxuosos e livrescos gabinetes de suas casas ou dos seus gabinetes de investigação, referem-se, generalizando, a micro-realidades que nunca ou mal pisaram, pouco ou parcamente conhecem. Criticam o Ensino Básico desconhecendo a realidade das suas escolas, as dificuldades dos seus professores, etc., peroram sobre o Ensino Secundário satelizando-se em memórias nostálgicas de outros tempos (os Liceus) e arvoram-se em defensores de um ideal de ensino superior que, manifestamente, não cumprem, antecipando cenários depressivos e vilipendiando, vaga e não identificadamente, professores universitários "facilitistas". Coisas que estes profetas da desgraça e dislatistas da educação, obviamente, não afirmam ser.

A esta veia crítica não fundamentada e apressada não é alheio um desconhecimento das coisas. Não despicienda é a incapacidade, não confessada, de encarar a educação como um campo que pode ser teorizado, compreendido e explicado por uma ou várias ciências, quer se lhe chame Pedagogia ou “Ciências da Educação”. Não só neles mas – arrisco a dizer – boa parte da população, a educação sempre foi encarada como um mundo onde o que vale é o bom senso, a informação dada pela experiência, o “ver como se faz”, a experimentação pela tentativa e erro e a desvalorização, não confessada, de investigação e sistematização. A estes energúmenos, a educação não parece ter, digamos, as condições e os requisitos epistemológicos para se constituir numa ciência com objecto e método próprios. Quando os teorizadores, muitas vezes professores, com credenciais de investigação insuspeitas e um conhecimento do terreno incontestável, produzem conhecimento sobre Pedagogia ou “Ciências da Educação” estarão, na mente dos profetas da desgraça e distatistas da educação, a “falar do que não há”, de algo como se não fosse susceptível de produzir conhecimento e, enfim, a verborrear sobre algo não científico. E lá vêem os profetas e dislatistas a culpar os pedagogos e “cientistas da educação”. Como em todas as esferas, há os bons e os maus. E eu não sou totalmente capaz de os identificar…

Na história das “Ciências da Educação” podemos considerar – simplisticamente, confesso – como que três grandes fases: uma primeira caracterizada pela pedagogia e psicologia experimentais onde o que se produzia, ainda muito informado por crenças do “Antigo Regime” acreditava naquilo que fosse apenas testável em contextos de laboratório (no sentido restrito do mesmo) e caracterizada por um cunho muito funcionalista; uma segunda, já muito informada pelas teorias da sociologia onde se coloca o destaque mais nas desigualdades (cf: Bourdieu, Passeron, Althusser e seguintes) e na hierarquização social (com uma fase mais tardia que professa discursos do tipo “pedagogias radicais” informadas por Giroux e outros) e; finalmente uma terceira, aquela que estamos emergentemente a começar. O que diz esta? Sobretudo espalhou-se em várias direcções: desde uma neurofisiologia da educação que nos informa, com um rigor científico assinalável que determinadas aprendizagens não se devem necessariamente (e neste sentido cumpre lacunas deixadas pela sociologia) à condição sócio-económica dos pais dos meninos ou clivagem entre o conjunto de referências culturais da escola e dos seus clientes mas, por exemplo, à falta de uma proteína específica no cérebro, passando pela psiquiatria da educação, que nos fala de certos traumas e o seu efeito em contextos de ensino-aprendizagem, até à economia da educação (e/ou administração escolar) que sugere interessantes medidas profissionais de gestão das escolas e, claro, uma das minhas preferidas, a antropologia da educação, que analisa nos revela como há discrepâncias entre o que a escola ensina e o que se aprende e como muitas vezes não nos apercebemos que podem ser a mesma coisa mas com rótulos discursivos diferentes. E muitas, muitas outras com contribuições tão inovadoras que nem passam pela cabeça dos profetas e dislatistas da educação. E é a esta última corrente que se pode dever uma inicial e apreciável desacreditação dos profetas da desgraça e dislatistas de/sobre educação.

No meio disto tudo temos a História da Educação. Para quem perde um bocadinho de tempo com esta, depressa se apercebe que os discursos fatalistas de e sobre educação e o empolamento de supostos cenários de crise extrema nas escolas em particular e nos processos de ensino-aprendizagem em geral, são seculares em Portugal: já no século XIII se falava nisto e os centos de anos seguintes evidenciam profetas, cenários e realidades ainda mais trágicos/as que os/as actuais. Esta visão os profetas da desgraça educativa e dislatistas da educação não conhecem, não querem conhecer ou convenientemente omitem. Conhecer o passado para explicar o presente e prever o futuro? Pois... tá bem...

Vem isto a propósito da situação mais disparatada para justificar um cenário de extrema crise educativa que me lembrei recentemente e que ocorreu há poucos anos. Não, não me refiro a Maria Filomena Mónica ou conjugalidades. Estou a falar de José Pacheco Pereira.

Convidado para um programa enfadonho de debate sobre a (crise da) educação na RTP1 onde estavam professores, alunos e outros comentadores, o autor do abrupto quis provar, in loco, in situ e in directu, a ignorância de alguns alunos recentemente saídos do 12.º ano e em espera de entrar para o ensino superior. E que fez ele? Fez duas perguntas “simples” (disse ele) a alguns dos miúdos onde, de acordo com o opinion-maker, a não respsosta provaria, irrefutavelmente, a ignorância dos moçoilos. Não sendo na altura moçoilo, não fui capaz de responder às perguntas porque, simplesmente, não as compreendi. As perguntas foram tão mal formuladas que julgo que a maior parte dos espectadores do debate não souberam responder e, digo eu, os leitores deste blog também não conseguirão. Evidenciou-se, a meu ver, o extremo desconhecimento de pedagogia, educação ou “Ciências da Educação” (ou o que quer que seja) que Pacheco Pereira patenteia, não obstante não o afirmar e até se ter pavoneado quando, muito naturalmente, não obteve resposta às suas perguntas.

Quer experimentar? A pergunta era:
- “se fizermos um furo muito fundo no Pólo Norte o que encontramos? E se fizermos o mesmo furo no Pólo Sul, o que encontramos?

Sabe a resposta? Até pode saber mas certamente que a pergunta lhe oferece, no mínimo, dúvidas.

A resposta estará brevemente nos comentários deste post…

quinta-feira, abril 14, 2005

“A covardia dos intelectuais”: quem é covarde?

De certo modo impulsionado por DK, escrevi, quase de um só jorro, alguns comentários ao artigo de Maria Filomena Mónica (MFM) publicado no suplemento "Mil Folhas" do "Público" de 9 de Abril, "A Covardia dos Intelectuais". Cá vai:

1. Em primeiro lugar, MFM parece defender um relativismo cultural (RC) só fora das Universidades (quererá englobar os Politécnicos? Não se sabe...). Assim, se o RC, condene-se ou não, resulta de uma atitude que decorre da (co)existência de diferentes culturas, das trocas que operam entre si e da evolução que ocorre numas e noutras, só se deverá considerar os intercâmbios e os resultados deles que forem relevantes para o saber universitário. E quem decide o(s) critério(s) dessa relevância? Para já MFM... não... porventura estarei a ser injusto. Porque tais intercâmbios também ocorrem ao “mais alto nível cultural”. E esse MFM não quer escamotear. Ela decidirá, então, quem preenche esse requisito ou não. Furedi parece faze-lo: logo deve ser seleccionado.

2. Em segundo lugar, MFM, ao admitir o relativismo cultural fora das Universidades mas não, ou não tanto, dentro elas, assume, mais ou menos explicitamente que os discursos (e as práticas) de ligação Universidade/sociedade podem estar desajustados. Por conseguinte, as instituições universitárias não devem formar profissionais para a sociedade civil e, neste sentido, aquelas instituições não devem conhecer a sociedade (com ou sem rap e com ou sem telenovelas) para a qual os seus diplomados se devem direccionar. Deverão, sim, insistir em “Homero, Mozart ou Eça” e, após formados, incuti-los à força nos jovens imigrantes e pobres em geral (em processo de escolarização ou não) que, explorados pelas elites económicas e sociais (e intelectuais?) se esforçam por sobreviver. Passam fome? Dêem-lhes “Homero, Mozart ou Eça” que o alimento da alma alimentará, seguramente o estômago. A Universidade deve impor, autocraticamente um certo etncentrismo cultural à sociedade que a rodeia, para MFM. E nem pensar no oposto. Porque os verdadeiros iluminados são aqueles que calcorreiam os gabinetes e corredores obscuros (mas únicos detentores do "mails alto nível cultural") da instituição universitária.

E, MFM, tem andado pela “sociedade”? Pelos hipermercados, por exemplo? Da última vez que lá fui vi, a par de revistas de telenovelas e CD's de rap, alguns livros de Homero, muitos CD's de Mozart (alguns até a preço acessível como brinde de revistas que trazem resumos de telenovelas) e livros de Eça.

E o que andarão a fazer os sociólogos (da sua área, remember?) e outros investigadores da área das Ciências Sociais e Humanas que, justamente nas Universidades, estudam e investigam os fenómenos sociais das telenovelas e da música rap? Perderão, a seu ver, tempo a estudar estas “infra-culturas”? Seguramente já que não há aqui “Homero, Mozart ou Eça”. Será que podemos ressuscita-los?

3. MFM padece daquilo que designei na última “Revista do Ensino Superior” do “saber geracional válido”. Saudosista e enfermada por uma boa dose de nostalgia da “escola do meu tempo”, apelida dos saberes que adquiriu na sua geração como “válidos e fundamentais” considerando os ulteriores (de gerações seguintes à sua) de inúteis ou desadequados. MFM parece advogar que a Universidade se submeteu a um papel de transmitir saberes não úteis, valendo-se de Furedi e – atabalhoada e convenientemente, de Lyotard para se fazer valer das suas posições. Lyotard é, precisamente, um dos autores que defende a integração de novos saberes nas estruturas de produção, sistematização e veiculação dos mesmos: as universidades. Mas MFM só leu o excerto que lhe foi mais conveniente.
O “saber puro” (o que é?), o “deleite de descobrir algo de novo” (com “Homero, Mozart ou Eça”?), “o prazer da experimentação, de ter cabimento nos estabelecimentos de ensino deixou de ter cabimento dos estabelecimentos de ensino”, verbera MFM. O principio do prazer deve sobrepor-se à utilidade e pertinência do conhecimento? Os “choques tecnológicos” (sic) ou a tecnologia em geral são despiciendos? Mesmo que criem empregos ou lhe permitam usar o seu visa ou aceder à(s) sua(s) (generosas?) contas bancárias por via do seu pc no conforto do seu lar? Ou MFM tem as obras completas de padrão em cima da sua secretária do pc? E as “competências linguísticas” que agora minimiza? Não era MFM que se queixava de que os estudantes chegavam às Universidades com claras dificuldades de interpretação e dando erros ortográficos e sintácticos de palmatória? Se bem me lembro colocava o labéu desta responsabilidade nas malfadadas “Ciências da Educação”... para MFM não se deviam mudar os tempos mas as suas vontades parecem faze-lo...

4. Muito certa está MFM na tendência de “infantilizar” alunos, em parte efeito da massificação do acesso de alunos no ensino superior (agora já fala de ensino superior e não de “Universidade”. Será que...?). Convenientemente (?) esquecendo estudos (sociológicos, diga-se de passagem: andará MFM só a reler “Homero, Mozart ou Eça” e distraiu-se?) ulteriores ao que cita, omite que se os alunos são “infantilizados” são-no por alguém, de que se os ”«saberes» trazidos [pelos alunos] para as salas de aula são hostis à difusão do conhecimento” é porque alguém o permite. A este insulto, mais ou menos explicito a todos os estudantes, ocorre a tendência recorrente em MFM: dos males da Universidade ou do Ensino Superior, sobre os respectivos professores, pobres alimárias esforçadas e subservientes do “saber privilegiado” de “Homero, Mozart ou Eça”, não podem e não devem impender quaisquer responsabilidades. Então a quem devemos situa-las? Às “Ciências da Educação”? Aos grandes decisores e às suas grandes instâncias? MFM costuma localizar, amiúde o locus da “culpa”. Desta vez não ou não tanto...

5. Felizmente, cita MFM de Furedi, o afrouxamento da concepção elitista da Universidade (e as práticas consentâneas) parece “corresponder a uma ideia surgida no interior da própria elite”. Mas não da elite que compõe a classe docente universitária, pensará MFM. Ó MFM? Não lhe ocorreu que, tendo-se apercebido a elite que a Universidade ao ser massificado e lhe ser difícil ou impossível continuar a cumprir um papel social afunilador, prefere a elite desvalorizar a função elitista da Universidade de modo a prosseguir uma “political agenda” da própria elite? Isto é, se eles não podem continuar a criar “mais de nós”, que se nivelem por baixo para continuarmos a sermos “só nós”?

A este nível é altamente conveniente que os ciganos continuem a aprender, informalmente, o "atirar facas", os angolanos a "tocar tambores" e os camponêses a "arte da desfolhada" já que esta etnicização das especificidades culturais conduz a uma hierarquização de culturas (e das relações sociais) onde o "mais alto nível cultural" (corporizado em MFM por "Homero, Mozart ou Eça") assegurará a defesa do "verdadeiro saber". E aqui MFM vai dando o seu generoso contributo por via de uma estratégia de vitimização pelos males do relativismo (ou será ralativismo?) cultural e oprimida defensora da verdadeira cultura: aquela que adquiriu em Oxford.

6. E diz MFM: “As actuais políticas educativas constituem um cruzamento entre o infantilismo e a psicoterapia: menorizam os estudantes, porque os nivelam pelo menor denominador comum, e psicoterapizam a cultura, porque não querem beliscar a "auto-estima" dos adolescentes. O resultado é a ignorância dos jovens licenciados, muitos deles tendo frequentado, com enormes custos para as famílias, a universidade. Basta ver o concurso da RTP1 Um Contra Todos para nos apercebermos até que ponto a falta de cultura geral aflige os participantes.
Ó MFM? Eu pasmo quando desvaloriza as “telenovelas” e as “canções rap” e agora se serve de um produto tele(lixo)visivo para servir como parâmetro avaliador da “falta de cultura geral”! Credo! Este excerto é seu ou redigiu o artigo em co-autoria com mais alguém? Se é o próprio Furedi (que tanto cita) que “pressupõe serem as audiências elevadas incompatíveis com a excelência“. Em que ficamos? Se “as massas populares [telespectadores televisivos] são intrinsecamente estúpidas” (suas palavras citando Furedi) como pode um concurso televisivo ser bom para avaliar a “cultura geral”? Não estou a reconhece-la...

7. E de novo regressamos às teses conspiracionistas da “ortodoxia pedagógica” nos males da Educação, desta vez por parte dos “poderosos, para que os meninos pobres não compitam, no mercado de trabalho, com a geração nascida em berço de oiro”. Desconfio que está a dizer, parcial novidade, que desta vez, os maléficos teóricos das “Ciências da Educação” são afinal, vítimas de uma “hidden political agenda” dos poderosos, isto é, testas de ferro incônscios do facto de que estarão a servir propósitos elitistas de hierarquização social. Bom, estamos (sim, eu sou das “Ciências da Educação”) a “melhorar”: passamos de ideologizadores malvados a manipuladas marionetas de propósitos obscurantistas.

8. Dou-lhe alguma razão no “eudeusamento” da internet (embora escamoteie grandes vantagens na divulgação do conhecimento: são as próprias instituições de ensino superior que criaram a internet e cada vez mais a usam em esquemas de investigação e produção de conhecimento em rede que julgo não ser contra...) mas ao afirmar “a profusão recente dos blogues poder dar a ilusão de que existe uma maior democratização da opinião pública. Nada é menos verdade: a maioria dos blogues são versões modernizadas do que dantes se escrevia nas paredes das casas de banho públicas” aconselho-a a não criar um blog com permissão de comentários ou a faze-lo anonimamente.

9. Conclui MFM com mais uma boa dose de nostalgia saudosista e romântica da “cultura do meu tempo”. Apenas não refere o que eu gostaria de saber: inclui-se MFM na élite que, coitada, parece perder o seu poder intelectual de impor “Homero, Mozart ou Eça” ou, além de se entreter a ver o concurso televisivo “Um Contra Todos” e a teclar no teclado dos livros de Platão que encimam a sua secretária, prossegue a “hidden political agenda” que referi?

Caracteriza-a ou não a "covardia dos intelectuais" de que fala?

segunda-feira, abril 11, 2005

Aniversário de um príncipe





















O meu rapaz fez hoje dois anos. Eles crescem tão depressa...
Ei-lo a pensar: "hoje... sei lá... sinto-me pedante... tá ver?"

domingo, abril 10, 2005

Evidente… mente!

António Nóvoa continua a surpreender pela vastidão e qualidade da sua produção bibliográfica. No último livro, muito recentemente publicado, “E vid ente mente. Histórias da Educação” (Asa, 2005). Assegura que “o que é evidente, mente. Evidentemente”. Em algumas passagens defende, com muito mais mestria do que eu, aquilo que, em parte, já evoquei no último artigo publicado na revista do Ensino Superior (link ainda não disponível) num artigo intitulado “Eles Agora Não Sabem Nada! O Currículo Oficial e Oficializado e o Saber Geracional Válido: Divergências Naturais ou Regressão do Sistema?”. Vejamos alguns dos excelentes trechos do vice-reitor da U.L.:

Da futilidade e as falsas certezas sobre educação:

As coisas da educação discutem-se, quase sempre, a partir das mesmas dicotomias, das mesmas oposições, dos mesmos argumentos. Anos e anos a fio. Banalidades. Palavras gastas. Irritantemente óbvias, mas sempre repetidas como se fossem novidade. Uns anunciam o paraíso, outros o caos – a educação das novas gerações é sempre pior que a nossa. Será? Muitas convicções e opiniões. Pouco estudo e quase nenhuma investigação. A certeza de conhecer, de possuir a «solução» é o caminho mais curto para a ignorância. E não se pode acabar com isto?

e

Quando se trata de educação, nenhum político tem dúvidas, nenhum comentador se engana, nenhum português hesita. Palavras gastas. Inúteis. Banalidades. Mentiras. O que é evidente, mente. Evidentemente

E, numa síntese oportuníssima, o transbordamento conferido à escola nos últimos 200 anos:

Começou pela instrução, mas foi juntando a educação, a formação, o desenvolvimento pessoal e moral, a educação para a cidadania e os valores…
Começou pelo cérebro, mas prolongou a sua acção ao corpo, à alma, aos sentimentos, às emoções, aos comportamentos…
Começou pelas disciplinas, mas foi abrangendo a educação para a saúde e para a sexualidade, para a prevenção da tabagismo e da toxicodependência, para a defesa do ambiente e do património, para a prevenção rodoviária…
Começou por um «currículo mínimo» mas foi integrando todos os conteúdos possíveis e imagináveis, e todas as competências, tecnologias e outras, pondo no «saco curricular» cada vez mais coisas e nada dele retirando.


E, de facto, “a escola não pode tudo”. Mutatis mutandis...

sexta-feira, abril 08, 2005

Flagrantes da vida real (IV)

Há anos atrás uma colega uma colega de licenciatura, algo ensimesmada, muito competitiva e não cultivadora das relações sociais, andava, de há uns tempos para trás, a aproximar-se de mim. Já ouvia comentários do tipo que só eu tinha conseguido penetrar na carapaça dura da rapariga. Não me incomodava. Não tinha interesse afectivo na rapariga e nem ela o tinha por mim, penso eu. Parecia ser verdade o facto de haver uma crescente confiança em mim da parte dela.

Aquilo que me pareceu uma evidência disso foi um dia quando me pediu para ir com ela a uma loja de roupas e “dar uma opinião o mais sincera ou brutal possível” das vestimentas que ia experimentar. Sentia-me algo desconfortável com a recente função, bem como com o convite para entrar no gabinete de provas (já que não tinha cabides para pendurar a roupa que se tirava para substituir com aquela que se experimentava e eu poderia segurar nas mesmas). Acedi ao primeiro mas não ao segundo pedido.

Esperei por breves momentos decidido, na minha pouquíssima capacidade de avaliar a estética da roupa feminina, que a minha colega trocasse de roupa. Abre-se a cortina e ela, de saia e blusa, pergunta: “Então?” Hesitei mas resoluto na confiança que havia depositado em mim, espetei-lhe uma resposta decidida:
- “A blusa fica-te muito bem mas a saia nem pensar! Faz-te gorda!”
E ela responde:
- “A saia? A saia é a que eu já trazia…”

Ops!

quinta-feira, abril 07, 2005

Escrever, meu Deus, escrever...

A pressão de escrever algo por imposição só é comparável à fluidez de escrever espontaneamente...

ADENDA: os meus parabéns ao Hugo pelo términus da tese.

segunda-feira, abril 04, 2005

Os execráveis 15 minutos de tolerância académica: "naturalmente"…

A pontualidade não é um valor muito apreciado a nível das práticas no nosso lebenswelt, ainda que o seja no tocante ao discurso. Tanto no mundo académico, como no mundo político e social, pulula a ideia de que qualquer reunião, aula, dia de trabalho ou simplesmente encontro marcado, chegar atrasado, naturalmente, até 15 minutos não é chegar atrasado. É fazer valer-se de um “mecanismo” natural mais do que tacitamente aceite: os professores atrasam-se, naturalmente, até 15 minutos no início da aula, os alunos, cientes desse facto, não chegam senão, naturalmente, antes dessa hora. Em encontros, congressos e afins, por muito ou pouco que se atrase a comunicação ou conferência anterior, a seguinte pode, naturalmente, atrasar-se até 15 minutos porque isso também é natural. E a convicção cimenta-se: os nossos jovens são, por muitos de nós, educados nesse execrável e natural atraso.

Por tudo isto, os horários formalmente marcados não são senão isso: uma formalidade já que podem, naturalmente, começar até 15 minutos depois mas não tão facilmente terminar 15 minutos depois. E se o fizeram, farão com que a ocorrência seguinte possa, naturalmente, começar com um natural atraso até 15 minutos. E ocorre o efeito em catadupa: todas as restantes ocorrências estarão, concatenadamente, atrasadas, naturalmente, até 15 minutos. É como se todos os relógios andassem atrasados até 15 minutos. O professor pode estar perfeitamente disponível para iniciar a aula na hora estipulada mas, naturalmente, "esperará" (!!!) que se esgotem os 15 minutos de tolerância enquanto sorve lentamente a bica no bar após o que poderá correr para a sala porque só a partir dessa altura estará "atrasado".

Abomino esta execrável "tolerância". É um mau exemplo que damos uns aos outros e eternizamos. Por duas vezes, não há muito tempo, marquei dois encontros com duas pessoas que se interessaram pelo meu espólio de material escolar antigo para efeitos de propósitos de investigação. Ambas chegaram atrasadas. A ambas disse “às tantas em ponto” num aviso que não me pareceu ser, na própria altura, ser levado muito a sério. A primeira pessoa não apareceu, naturalmente, até 12 minutos depois, pelo que fui embora e nunca mais a vi. A segunda (abalei ao fim de 9 minutos de atraso) disse-me, tempos depois do encontro não concretizado, que só tinha se atrasado 7 minutos. Garanti, educadamente, que não. Pela hora de chegada apurada entre nós, constatamos que a senhora tinha chegado 22 minutos depois da hora marcada. Apenas os 7 últimos eram considerados, de facto, "atraso" para a senhora: "Não me diga que contou os primeiros 15 minutos?!", exclamou, naturalmente, a mesma. De facto, não há pachorra…

Ad perpetuam rei memoriam…