sexta-feira, março 25, 2005

Ensino Superior e Representações…

Parágrafo introdutório de uma entrevista a um novel ministro refere que ele é originário da

circunspecta obscuridade da vida universitária.

O excerto, dito de uma forma inofensiva (?), traduz, de facto, a imagem que perpassa das universidades e/ou do ensino superior em geral no vulgo…

Fieri fecit

sábado, março 19, 2005

Flirts ou hiperflirts…

Não gosto muito de ir a centros comerciais e a hipermercados. Mas a moderna vida de hoje obriga-me. E lá vou eu de vez em quando. Antes de nascer o meu filho adquiri o hábito de ir aos hipermercados em horas onde não abundavam pessoas. Era mais rápido o pagamento nas caixas e a circulação no interior da grande superfície. E lá apareciam as senhoras…

As senhoras de Cascais, as mais das vezes entre 35 e 40 anos, bem penteadas e vestidas que circulavam desacompanhadas no hipermercado “Jumbo” de Cascais costumavam abordar-me em “encontros casuais” que me divertiam assaz. Julgava, na altura, que a variedade de compras que fazia (compras típicas de solteiro?) me conferiam o estatuto de “solteiro abordável”. Mas divertia-me com esta espécie de assédio (sexual?) mais ou menos camuflado. Perseguido por breves minutos, seguia-se a abordagem: "Leva aí muitos doces… é um homem doce?", dizia uma senhora que circulava o carro desacompanhada. "Ah… um homem energético [bebidas isotónicas no carrinho] É desportista?", sussurra-me uma trintona sozinha. "Veio de carro? O meu está na oficina. Se me levar as compras, janta comigo em casa. Que me diz?". E mais outros exemplos.

O que levava estas senhoras a isto? Solidão? O sexo? Não sei. Nunca acompanhei nenhuma pese embora a insistência daquela a quem levei as compras a casa para "subir". Senhora divorciada de Oeiras, conhecida de ex-aluna da profissionalização convidou-me para uma discoteca na 24 de Julho em Lisboa. Mal a conhecia. Perguntei ingenuamente: "Quem mais vai?" a que responde a trintona: "É preciso ir mais alguém?". Pois…

Não as censuro. Não sei se faria o mesmo. Na altura sabia-me bem. Fazia-me bem ao ego. Hoje…
- «Ó Armanda? É preciso alguma coisa do “Jumbo” que aproveito e vou lá agora que deve estar pouquíssima gente??»

quinta-feira, março 17, 2005

José Mourinho... (I)

Tirei esta anedota daqui.
Arsene Wenger, Alex Ferguson e José Mourinho morreram num acidente de avião e foram encontrar-se com o Criador. A suprema divindade virou-se para Wenger e perguntou ao treinador o que era realmente importante para ele. Wenger respondeu que era o planeta Terra e que proteger o meio ambiente do planeta era o mais importante de tudo. Deus olhou para Wenger e disse: "Gosto da tua forma de pensar. Anda cá sentar-te ao meu lado esquerdo".

Deus então fez a mesma pergunta a Ferguson. Este disse que as pessoas e as suas opções pessoais era as coisas que mais valorizava. Deus respondeu: "Também gosto da tua forma de pensar. Anda. Senta-te ao meu lado direito".

Deus virou-se finalmente para José Mourinho. Este encarava a divindade com alguma indignação. Deus perguntou: "Qual é o teu problema, Mourinho??". Mourinho respondeu: "Acho que estás sentado na minha cadeira. Vá! Desanda daí!"
(traduzido e adaptado)

ADENDA: Agradeço o prémio oferecido pelo Atmosfera a este blog como sendo o blog mais pedagógico e bem educado. ;-]

sexta-feira, março 11, 2005

Flagrantes da Vida Real (III)

Naquele dia estava mais atarefado do que o costume na preparação de umas jornadas que a minha escola de então organizava de dois em dois anos. Fazia parte da Comissão Científica e, na prática, fazia tudo nela e muitas das funções de outras pessoas.
Não recebia os boletins de inscrição, a cargo de dois funcionários administrativos, mas eram-me encaminhadas por telefone e por mail todas as dúvidas que interessados manifestavam, sobretudo os que tinham comunicações para apresentar. E havia “dúvidas” do arco da velha: uns queriam que se mudasse a data das jornadas, marcadas há meses, porque a data não lhes era conveniente, outros perguntavam se podiam ter mais tempo de exposição dada a “complexidade” da sua comunicação e outros ainda questionavam a temática onde a sua comunicação havia sido inserida.

Uma das pessoas que era adepta desta última reclamação queria, à força, ser inserida noutra temática já que o dia em que lhe tinha calhado a sua comunicação não era da sua conveniência. Por mais que lhe explicasse que tal não era possível dado que implicaria alterações tipo “bola de neve” em vários comunicantes, ela insistia. Sendo óbvio que estas jornadas, como muitos encontros científicos afins, desejava comunicações originais, ergo, nunca proferidas antes, a senhora queixosa, com toda a naturalidade do mundo, saiu-se com esta:
- “Sabe… eu faço a comunicação em cinco minutos. Já fiz a mesma comunicação tantas vezes mas com títulos diferentes em vários congressos, que já está tudo bem ensaiadinho…”

Homo sum. Humani nihil a me alienum puto…

quinta-feira, março 10, 2005

Constantineeee...

Vi o filme. Para quem era fã do Matrix não desilude muito. Para quem gosta de ficção e mistérios religiosos ainda menos. A estória (adaptação do comicHellBlazer”) gira à volta de um jogo de poder entre o céu e o inferno, anjos e demónios, Deus e o diabo. O filme, numa atmosfera de “O Corvo” ou a “Gotham” de Batman, é profunda e estupidamente católico: reproduz fielmente o imaginário bíblico católico apostólico romano: recompensa do céu para quem tem bons actos e castigo do inferno para quem não tem. Todavia, como noutros filmes afins, as personagens bíblicos são de moralidade duvidosa. Se tal não espanta para Lúcifer e os seus acólitos, já o faz para o anjo Gabriel (representado por uma senhora: os anjos não têm sexo, não é?).

Alterna entre o efeito especial elaborado (o inferno, algumas cenas de violência e as “paragens no tempo”) e a simplicidade de receitas esotéricas na passagem pelo inferno: ter os pés debaixo de água ou o corpo todo para não se queimar quando se entrar nas terras de Satanás. Constantine é um anti-herói. Espécie de exorcizador discreto e muito senhor de si, luta e orienta a sua vida, afinal, por um lugar no céu. Quase o consegue enganando Lúcifer. Não o porfiando, atinge aquilo do qual já se tinha resignado: a total limpeza de uns pulmões cancerosos pelo fumo do tabaco que lhe davam meros meses de vida pelo três maços de tabaco diários. E esta é uma mensagem moral mais ou menos explícita no filme: os malefícios do tabaco, mesmo para quem conhece os cantos da casa do céu e do inferno, sobretudo do segundo. Goste-se ou não de “Constantine”, julgo não se consegue ficar indiferente…

terça-feira, março 08, 2005

Salário igual para trabalho igual? Não brinquem…

O meu colega Jorge Morais (um dos dois únicos bloggers que conheço pessoalmente) gosta de levantar, por vezes, o porta-estandarte do lema "para trabalho igual, salário igual" situando-o no quadro do ensino superior politécnico e universitário.


Sempre me questionei se a lei enunciava explicitamente esse princípio. Fui ver. Diz “ela”:

Trabalho igual [é] aquele em que as funções desempenhadas ao mesmo empregador são iguais ou objectivamente semelhantes em natureza, qualidade e quantidade

“Considera-se trabalho de valor igual aquele que corresponde a um conjunto de funções, prestadas ao mesmo empregador, consideradas equivalentes, nomeadamente, às qualificações ou experiência exigida, às responsabilidades atribuídas, ao esforço físico e psíquico e às condições em que o trabalho efectuado”
[artigo 32.º, n.º2, respectivamente alíneas c) e d) da Lei n.º 35/2004]

Sabendo que o Código do Trabalho não se aplica ainda à administração pública mas que, simultaneamente, muito provavelmente é anti-democrático e inconstitucional um trabalhador da administração pública não estar sujeito aos mesmo princípios democráticos que um do sector privado, como é que ficaria a aplicação daquela lei nas universidades e, especialmente no ensino politécnico? Andará a nossa justiça invertida?

Vejamos: não é nada raro um assistente (do 1.º ou 2.º triénio) do ensino superior politécnico ter as mesmas funções, as mesmas qualificações ou experiência e, obviamente, as mesmas responsabilidades, esforço físico e psíquico, condições onde o trabalho é efectuado e o mesmo empregador que um professor-adjunto ou um professor-coordenador? Isto quando não tiver mais habilitações, experiência, responsabilidades e piores esforços físicos e psíquicos e condições onde o trabalho é efectuado. O mesmo se aplica, em menor grau julgo eu mas sem dados para me sustentar, entre um assistente e um professor auxiliar ou um professor auxiliar e um associado ou ainda entre este último e um catedrático no mundo universitário.

Muito me agradaria que houvesse uma avalanche de pedidos de aplicação daquele princípio nas instâncias próprias.

Ad augusta per angusta…

quinta-feira, março 03, 2005

Alguns vícios “pedagógicos” dos professores do Ensino Superior. Habilite-se e ganhe prémios! (Ciclo da Pedagogia II)

Contrariamente a um post anterior (“Charlatanices da Pedagogia no Ensino Superior e não só... [Ciclo da Pedagogia I]”), este não é um sistema de categorias da nossa classe docente do Ensino Superior mas um glossário de exemplos de comportamentos “pedagógicos” que constatei, mais uma vez, do meu contacto com outros docentes quer como aluno, quer como docente.

Os “anti-pedagogos

São aqueles docentes que consideram a Pedagogia uma “ciência menor”, uma “não ciência” ou, no máximo, uma ciência restrita a uma faixa etária menor que termina com a adolescência. Normalmente nada sabem sobre a ciência pedagógica, pouco sabem de educação a não ser o que resulta da observação imediata. Tem concepções também algo imediatistas sobre o processo de ensino-aprendizagem. Na maior parte dos casos são docentes já bem estabelecidos na carreira que acham que já nada têm a provar embora, dentro destes, seja cada vez maior o número de docentes que acham que é politicamente correcto ter um discurso pró-pedagogia mas não uma actuação consentânea.

Se é este tipo de docente, envie um SMS para "ANTIPED [espaço] 4766" e habilite-se aos três volumes do excelente livro "Os Charlatães da Pedagogia"!

Os “pseudo-pedagogos

São aqueles que julgam que sabem tudo ou o que é suficiente saber sobre pedagogia para a situação de ensino-aprendizagem na sala de aula. Baseiam o seu conhecimento “num livro” que leram “uma vez” e que “até tinha algum interesse” mas que não conseguiram “ler até ao fim”. Tão pouco sabem que até se dão ao luxo de dizer barbaridades sobre a “pedagogia”. Opinam que, no máximo, a “pedagogia” sintetiza-se no trinómio “professor-matéria-aluno” com destaque para o primeiro pelo exercíco da autoridade e da disciplina. Até ensaiam, por vezes, algumas “estratégias pedagógicas” que se limitam a responder à pergunta “o que posso fazer para parecer um bom professor e ser gostado enquanto tal?” ou “Como dar a entender aos meus colegas recém-docentes que sou um bom professor, pedagogicamente activo e preocupado?




Se é este tipo de docente, envie um SMS para "PSEUDOPED [espaço] 4767" e habilite-se a uma colecção completa do "Dicionário Pedagógico das Escolas Madraças Iraquianas"!

Os “aproveitadores da pedagogia

São aqueles que alegam ser muito interessados na pedagogia mas usam-na para proveito próprio. Geralmente fazem-no para tirar proveitos relativamente a projectos de investigação em andamento. Alegam que a investigação é muito importante, que um bom professor deriva, necessariamente, de um professor "cientificamente bem actualizado" e, de preferência com projectos de investigação em andamento. À guisa dos princípios do “reforço pedagógico” e de “envolver os alunos”, usam a “pedagogia” para fazer dos discentes (e colegas docentes…) mão-de-obra barata (recompensando-os com valores ou décimas destes) para efectuar a recolha de dados de investigação que resultará em publicações encimadas com o seu nome e financiamento para novos projectos. São, também, na maior parte dos casos professores já bem estabelecidos na carreira.



Se é este tipo de docente, envie um SMS para "APROVEPED [espaço] 4768" e habilite-se ao guia “Os três tipos de Poder de Fritzel: Poder de Mandar, Poder de Fazer Obedecer e Poder de Tirar Proveito de”!

Os “Ditadores biblio-pedagógicos

São aqueles docentes que acham que a “pedagogia” consiste inteiramente numa boa organização e apresentação dos conteúdos e numa clareza e precisão na transmissão dos mesmos. Tendem a apresentar os conteúdos por tópicos muito arrumadinhos que desenvolvem um a um, em acetatos (que privilegiam) imaculadamente limpos e organizados (sim: eles têm cuidados e não apresentam transparências cheias de informação. Desses cuidados sabem) e tendem a expor os conteúdos nas aulas, lendo-os ou não mas com um discurso falado igual ao escrito: sintacticamente bem estruturado e com as pausa devidas. Falam alto, alguns muito alto, sem ter consciência disso e amiúde espreitam os cadernos de apontamentos dos alunos para ver se estes reflectem a aula. Se sim, “foi uma boa aula”. Cercam-se de manuais, (que frequentemente seguem como uma “bíblia”), colectâneas de textos, sebentas e outros documentos escritos. Têm um (ou vários) dossier(s) de apoio à cadeira bem organizados com separadores coloridos, sínteses e fotocópias dos acetatos.

Se é este tipo de docente, envie um SMS para "DIBIBPED [espaço] 4769" e habilite-se a um altifalante alimentado por plutónio da mais recente geração electrónica!

Os “sacerdotes pedagógicos

São aqueles a quem alguém disse e acreditaram que “não existe crueldade infantil”. Leram Jean-Jacques Rousseau e acreditaram piamente. São ultra-adeptos do “movimento da escola nova” e acham que o exercício da função docente é uma “missão” ao qual se deve proporcionar todos os sacrifícios. Tendem a infantilizar os alunos, a sobrestimar as suas capacidades, a desculpar todos os comportamentos atribuindo a natureza dos comportamentos menos correctos a “um ambiente familiar desadequado” ou a “traumas infantis”. Passam imensas horas em casa a imaginar estratégias pedagógicas diferentes que experimentam sucessivamente umas após as outras, produzem imensos materiais para uso na sala de aula e… frequentam sessões de psico-terapia…

Se é este tipo de docente, envie um SMS para "SACERPED [espaço] 4770" e habilite-se a cem vales de horas no Hospital Magalhães de Lemos!