Contado não é acreditado... só visto!
Esta é daquelas coisas que, sendo ridícula, passa relativamente despercebida ao olhar do cidadão comum e evidencia uma faceta pervertida dos "brandos costumes" do nosso "Portugal dos Pequeninos". Acontecia um derby regional entre dois clubes ("Olhanense" e "Louletano") de um qualquer grupo da 3.ª divisão nacional. O jogo estava em atraso pelo que se acertou o calendário com a sua concretização. A circunstância de ser, por um lado, entre dois clubes geograficamente próximos e, desde sempre, rivais e, por outro lado, de ter ocorrido na quadra natalicia propiciou a que o estádio do clube anfitrião tivesse registado um enchente como há muito não se via naquelas paragens.
Sucedeu que muita gente se deslocou de transporte próprio ao estádio. Este, não dotado de parque de estacionamento nas proximidades, ficou cercado, nas ruas adjacentes, de várias centenas de automóveis em segunda e terceira fila, em passeios e, em geral, mal estacionados. Nada de extraordinário. Invulgar foi a Policia de Segurança Pública aparecer e exercer a sua missão: multou paulatinamente muitas das viaturas parcamente (para não dizer "ilegalmente") estacionadas. E fe-lo enquanto os respectivos proprietários se deliciavam a ver os passes de bola no interior da infra-estrutura desportiva.
Eis que a saloiada sai do Estádio e depara-se com as multas afixadas nos pára-brisas dos carros. Indignação geral, conta o pasquim "Correio da Manhã". "Os adeptos das duas equipas (...) ficaram estupefactos e até revoltados, quando no final do jogo com as senhas de aviso da PSP nos pára-brisas", conta o "CM". Como pôde a policia ter feito tal afronta na calada de um jogo de futebol aproveitando-se da ausência dos condutores? Sobraram vozes de revolta contra a PSP, quer dos "distintos" da terra, pequenos "ilustres" do clube anfitrião, quer de outros caciques locais e chefes de família do vilarejo. Como poderiam os agentes de segurança ser tão "doninhas" e "imorais" ao autuar os automóveis sabendo que os seus donos estavam, merecidamente, a ver um jogo da bola nas imediações?
Resta dizer que os "altos dirigentes" do clube anfitrião asseguraram que iriam falar com o chefe da policia local para providenciar que tal "ousadia" não mais acontecesse naquelas paragens. Reza o matutino: "Hoje [29/12/03] o presidente e mais alguns dirigentes do clube vão à esquadra falar com o responsável de forma a que, na medida do possível, idêntica situação não se repita, referiu I.S., chefe do departamento de futebol daquele clube [Olhanense]"
Incrível!
Assim vai o nosso "Portugal dos Pequeninos"...
Todos nós sabemos que os computadores bloqueiam por razões que, francamente, desconhecemos. Já o ouvi de supostos ou reais técnicos de informática. Todos sabemos que, na maior parte dos casos, a solução mais usada e fácil por excelência é teclar simultaneamente o CTRL + ALT +DEL e/ou reiniciar a máquina. Antes disso, porém, surge-nos ou o ecran imobilizado na janela onde estava ou o ambiente de trabalho em igual estado. Teclas e suas funções não funcionam a não ser as supra-citadas.
Por alguma razão que me escapa ao entendimento, uma bloguista brasileira colocou, no seu blog, um link que direcciona o utilizador directamente para o meu. Será engano? Ele, o link, está em:
Já há algum tempo que me apercebi que o nosso governo não é, contrariamente ao que propala, apologista de uma política fiscal justa e adequada ao perfil do contribuinte. Esta opinião parece ser, à excepção dos mais obcecados representantes da nação da nossa maioria parlamentar e lideres do governo, um consenso. Todavia, é daquelas coisas que a gente sabe, revolta-se, protesta em conversa de café mas parece só acontecer aos outros. Até há poucos anos.
Já há alguns valentes anos que passei de "recepcionador" de prendas de natal para mero "ofertador". Quando era criança, e obviamente não tinha rendimentos que me possibilitassem a aquisição de prendas para todos os familiares, sobretudo recebia prendas. Agora quase só as compro. E distribuo. Sem dúvida que continuo a ter Natais e respectiva ceias num ambiente familiar barulhento com crianças a correr, bébés a chorar, televisão e "famelga" em alto som. Mas no dia de Natal à noite, enquanto se distribuem as prendas, como que vejo os navios passar: o ritual da abertura de prendas é, essencialmente uma cerimónia onde toda a gente admira, com expectativa que prendas deram e quem as deu a qual criança. Parece haver sempre uma espécie de querubim privilegiado na família que recebe imensas prendas enquanto alguns outros vêm as prendas a passar. No último destes acontecimentos, por entre as prendas às crianças e seus pais, episódica e raramente, vinha passar alguma coisa para mim: nos últimos anos têm - por entre os poucos presentes que recebo, invariavelmente, as meias e outras peças de roupa. Este natal recebi duas prendas e ofereci várias. E das duas que recebi, uma delas foi comprada por mim. Outro elemento da família, homem, teve quase a mesa sorte que eu: também ele é pai e "chefe" de família. Será uma constância?
Para quem não sabe, os concursos para pessoal docente das instituições públicas de ensino superior (universidades e politécnicos) em Portugal são todos concursos documentais, isto é, são concursos "externos" já que são abertos a qualquer candidato que reúna as condições para concorrer. E são uma vergonha. Sobretudo no que toca às condições para concorrer. Teoricamente, eles são abertos para todos, todos aqueles que, como disse, reunem as condições. Na prática são abrem para o candidato que se tem em mente. Até há algum tempo (2 ou 3 anos) estes concursos de "imagem digitalizada" ou, numa versão anterior, "concursos com fotografia", só aconteciam quando estava em jogo uma vaga de quadro, isto é, uma vaga para um professor "quasi-efectivo", já que urgia passar um período de 3 anos após o que, avaliado pelos seus pares, transitava para o quadro. Na maioria esmagadora dos casos, esta passagem concretiza-se pela mera passagem do tempo. Esta lógica aplica-se, no ensino superior politécnico do qual tenho mais conhecimento, para as vagas de professor-adjunto e professor-coordenador. Actualmente a lógica dos "Concursos de imagem digitalizada" concretiza-se até para assistente do 1..º triénio, qualquer que seja a Área, qualquer que seja a escola. "Concursos de imagem digitalizada" ou "concurso com fotografia" quer dizer que na concepção do edital do concurso (a publicar na II série do D.R.) existe, conscientemente, a preocupação de incluir um texto e uma semântica que assegure que o candidato que ganha o concurso seja, de facto, aquele que se quer a priori, que ganhe. Seleccionam-se os critérios de preferência à imagem do candidato a ganhar, inclui-se, propositadamente, a sua licenciatura, mestrado ou doutoramento, dois dos três ou mesmo os três e respectivas especializações. Assegura-se que tenha participado nos projectos e frequentado as acções de formação que o candidato participou e frequentou e outros. Deste modo, muito dificilmente o candidato ganhador não terá, antecipadamente, vencido e encimado a selecção e seriação dos candidatos opositores. O segundo caso mais escandaloso que tive oportunidade de vislumbrar ocorreu numa escola de um instituto politécnico de Viseu, onde, além daquelas preferências todas, até especificavam as disciplinas que o perfil de candidato deveria ter leccionado. Resta dizer que o candidato aprioristicamente vencedor era da casa e, obviamente, venceu. Ele ficou em primeiro lugar com cerca de 18 virgula tal valores e o segundo, um intrometido de fora que só deu trabalho ao jurí, não mereceu mais do que dois virgula tal...
Tenho um filho que se chama
Se há coisa que me parece mais irritante é a bengala do "Éssim". Até há algum tempo era apenas usada pela adolescência e juventude mas agora até a minha geração e ulteriores o usam. Invariavelmente começa-se a frase com o "Éssim". Tive um colega que frequentou comigo um pequeno curso, espécie de vaidoso da linha de Cascais e que escondia o facto de morar nos subúrbios de São João do Estoril, designer de equipamentos do IADE de formação e parasita dos pais de profissão, que usava o "Éssim" no princípio, meio e até, por vezes, no fim de uma alocução. Um dia, por gozo, fiz-lhe uma pergunta que começava com um introito mas que finalizava com a seguinte interrogação: "é assim ou não é assim?". Buscava saber se mesmo usando a palavra não como bengala mas como alternativa forçada de resposta, a bengala emergiria. A resposta dele, no sentido positivo, assegurava: "Éssim: é assim". Chiça!
A geração mais velha, mais velha do que eu, acha que os alunos de hoje não sabem nada. Têm razão? Analisemos. Há, para cada geração, um saber considerado socialmente válido. Não tenho dúvida sobre isto. Este saber pode ser consideravelmente diferente de geração para geração. Assim, a minha geração pode, por vezes, ficar admirada com o "escandaloso" grau de ignorância que a geração ulterior à minha, ergo, os actuais estudantes (e aqui refiro-me aos estudantes do ensino superior) manifestam em relação a temas tais como a história e a geografia. A geração anterior à minha e em grande parte a minha, aprendeu aquelas duas disciplinas ou áreas curriculares à custa de um ensino tradicional onde a discussão estava arredada e a memorização excessivamente presente. Provavelmente saberei mais história e geografia que um estudante de uma universidade actual, até.
Às vezes penso que sou a única pessoa que faz sinais nas rotundas. Ensinaram-me que se deve fazer o pisca para a direita na entrada na rotunda caso se vá virar na primeira saída à direita e pisca esquerdo caso se vá para qualquer dos outros acessos na estrada circular. E depois de estar dentro daquela, o pisca à direita para indicar em qual dos acessos se vai aceder antes de se aceder a ele. Mas não vejo mais ninguém faze-lo. Estarei a fazer mal? Alguns ainda fazem o primeiro sinal mas, dentro da rotunda, urge haver o poder de adivinhar para que acesso vai entrar o condutor que nos ladeia.
Este texto é de um ex-colega meu. A situação descrita envolveu-me já que fui a primeira vitima dela. Com a sua autorização publico-o aqui:
Não se diz que a juventude actual não tem bons modos? Não se diz que são mal educados?
Esta mensagem causou algum furor, em surdina, aos meus colegas docentes por se aperceberem que, afinal, era "ignorantes na sociedade da informação". Muitos deles aperceberam-se de que nem sequer sabiam enviar um e-mail. Parte da mensagem retirada de um Decreto-lei e parte do "
Tenho uma espécie de cunhado a quem devem mais de 15000 euros (cerca de 3000 contos) por trabalhos de construção cívil que ele, à custa de alguns sacrifícios pessoais, foi fazendo em horas extraordinárias. Normalmente, o trabalho encomendado deveria ser pago numa percentagem combinada mesmo antes do seu inicio. Mas ele é demasiado bom compincha para exigir isso dos clientes. E sabe que se o fizer o comprador irá, muito provavelmente, encomendar o serviço a outra freguesia. Não o exige, portanto. E padece por isso. Não raro, muito depois de terminada a obra, o pagamento tarda em aparecer. Vê-se, então, envolvido em idas e mais idas ao local do comprador para cobrar a dívida sem resultado: o comprador alega, com a maior naturalidade do mundo, que não tem que lhe pagar porque ainda não lhe pagaram a ele. E com esta "legitimidade" o manda vir "na próxima quarta-feira, quem sabe...". Na quarta-feira seguinte é a mesma ladaínha.
Escrevi este texto de um só arrojo há algum tempo. Não mantém actualidade mas decidi publica-lo aqui já que recebi vários feed-backs bastante elogiosos a respeito dele. É a resposta do ex-ministro da ciência e ensino superior aos deus detractores no caso do favorecimento da filha do ministro dos negócios estrangeiros.
Começam aqui as reflexões sobre o "Portugal dos Pequeninos". Pequeninos de honestidade, pequeninos de verticalidade, pequeninos de rigor, "pequeninos" de empenho, mas grandes na arbitrariedade, grandes na prepotência, grandes no abuso e no "salve-se quem puder"... mas também estados de espirito, cacos, trapos e contradições, esperanças e desilusões.


