Natal e repartição de prendas: a desigualdade dos tempos
Já há alguns valentes anos que passei de "recepcionador" de prendas de natal para mero "ofertador". Quando era criança, e obviamente não tinha rendimentos que me possibilitassem a aquisição de prendas para todos os familiares, sobretudo recebia prendas. Agora quase só as compro. E distribuo. Sem dúvida que continuo a ter Natais e respectiva ceias num ambiente familiar barulhento com crianças a correr, bébés a chorar, televisão e "famelga" em alto som. Mas no dia de Natal à noite, enquanto se distribuem as prendas, como que vejo os navios passar: o ritual da abertura de prendas é, essencialmente uma cerimónia onde toda a gente admira, com expectativa que prendas deram e quem as deu a qual criança. Parece haver sempre uma espécie de querubim privilegiado na família que recebe imensas prendas enquanto alguns outros vêm as prendas a passar. No último destes acontecimentos, por entre as prendas às crianças e seus pais, episódica e raramente, vinha passar alguma coisa para mim: nos últimos anos têm - por entre os poucos presentes que recebo, invariavelmente, as meias e outras peças de roupa. Este natal recebi duas prendas e ofereci várias. E das duas que recebi, uma delas foi comprada por mim. Outro elemento da família, homem, teve quase a mesa sorte que eu: também ele é pai e "chefe" de família. Será uma constância?
Este ano até me ocorreu que pudesse ser diferente já que eu era o pai do novo bébé da família mas não...
Não me estou a queixar. A verdade é que considero isto uma espécie de sinal dos tempos: entro numa fase da vida onde é suposto ter mais o papel de "ofertador" do que "recepcionador". É aquela fase onde, quando relevo este facto, meio a sério, meio a brincar, arranco aos familiares presentes um sorriso como que a ouvir: "sim, isso já foi chão que deu uvas. Agora tens outro papel...". E nós, "pais-«chefes»-de-família-«ofertadores»-de-presentes-à-turba" temos que nos resignar com esta situação. Estamos a cumprir o nosso papel, a nossa função.
Daí que faça um apelo aos homens e mulheres que estejam na mesma situação que eu: juntemo-nos. Façamos um fausto opíparo onde recebamos mais presentes do que aqueles que ofertamos. Se alguem souber como se faz esta aritmética contacte-me. Também quero saber..
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