Malditas bengalas de linguagem: o "Éssim"
Se há coisa que me parece mais irritante é a bengala do "Éssim". Até há algum tempo era apenas usada pela adolescência e juventude mas agora até a minha geração e ulteriores o usam. Invariavelmente começa-se a frase com o "Éssim". Tive um colega que frequentou comigo um pequeno curso, espécie de vaidoso da linha de Cascais e que escondia o facto de morar nos subúrbios de São João do Estoril, designer de equipamentos do IADE de formação e parasita dos pais de profissão, que usava o "Éssim" no princípio, meio e até, por vezes, no fim de uma alocução. Um dia, por gozo, fiz-lhe uma pergunta que começava com um introito mas que finalizava com a seguinte interrogação: "é assim ou não é assim?". Buscava saber se mesmo usando a palavra não como bengala mas como alternativa forçada de resposta, a bengala emergiria. A resposta dele, no sentido positivo, assegurava: "Éssim: é assim". Chiça!
Já caiu em desuso a bengala do "Portanto" (ou o execrável tributário: "Portantos") substituída pelo "Éssim". Espécie de abjecto inicio de alocução, o "Éssim" transformou-se numa verdadeira instituição nacional. Contrariamente a outras bengalas, não é usada para ganhar tempo para que a cognição busque e encontre as palavras e estrutura sintática mais adequada para a semântica que se pretende transmitir. O "Éssim" é mesmo um vício de linguagem papagaiado inconscientemente.
Quanto a mim, vou, sarcasticamente denunciando, qual ironia socrática, os "Éssins" que vou ouvindo nos alunos. E eles reparam. Esperemos que seja uma moda passageira. Porque não é assim que se tem um discurso compreensível. Não é assim que um falante se faz entender. Não é assim que se entende e fala bom português. "Não Éssim"...
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