terça-feira, dezembro 02, 2003

Resposta de Pedro "Cunha" Lynce aos seus detractores

Escrevi este texto de um só arrojo há algum tempo. Não mantém actualidade mas decidi publica-lo aqui já que recebi vários feed-backs bastante elogiosos a respeito dele. É a resposta do ex-ministro da ciência e ensino superior aos deus detractores no caso do favorecimento da filha do ministro dos negócios estrangeiros.
O ex-ministro Pedro Lynce deu-me, quando era secretário de Estado, 500 contos pelo prémio a que a minha tese de mestrado foi sujeita. Ele que me desculpe a ingratidão. De qualquer modo, o dinheiro não era dele...

«Meus caros detractores

Antes que me crucifiquem na praça pública desejo apenas que atentem nas minhas justificações e avaliem o grau de honestidade que delas emana:

1. a aluna em causa é de uma maturação e moralidade (o nome "Cruz" não engana) inquestionável. Seguramente extravazará e contaminará os seus colegas de curso, normalmente vaidosos e cheios de si, numa escola onde o custo per capita é dos mais altos do nosso sistema. O pai da aluna, por sua vez, é de um esforço, dedicação e humildade irrepreensíveis. Concordarão, certamente, que estas qualidades são necessárias em qualquer curso superior;

2. a aluna em questão tem frequentado escolas que corporizam de um certo nível intelectual e social e se enformam de um "habitus" altamente direccionado para o sucesso. Não concordarão, decerto, que tal potencial seja empobrecido se a estudante fosse colocada num qualquer politécnico do interior ou numa universidade do litoral de segunda categoria;

3. Considerem que a aluna referida tem um passado e uma infância plena de privações com graves prejuízos para a sua personalidade: muda de mansão para mansão, sujeita-se a diferentes jacuzzis e piscinas quase semestralmente, é obrigada a provar diferentes pratos em diferentes capitais europeias (sabe-se lá feitos de quê...), visita diferentes monumentos e museus pela Europa fora que só lhe dão conflituosas percepções de arte e história já não falando da confusão de unidades monetárias diferenciadas. Acaso querereis perturbar ainda mais a construção da identidade da jovem?

4. Sendo, parece-me, pessoas informadas, saberão das dificuldades financeiras que perpassam o nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros (situação agravada pela contratação da Dra. Maria Elisa para conselheira Cultural em Paris). Neste sentido, eu sempre defendi que nenhum estudante ficará de fora do ensino superior por dificuldades financeiras. Eis, inequivocamente, uma prova da minha boa fé;

5. É mais que sabida a falta de médicos que assola o nosso país e os espaços que ainda há para clinicas médicas privadas em Lisboa, sabe-lo-eis. Contribuo, deste modo, para a formação de mais um agente de saúde tão necessário ao nosso SNS. Seguramente não me condenarão por isso;

6. Em rigor a irregularidade que me atribuem não é verídica: a aluna em causa estudou no Liceu Francês Charles Lepierre. Muitos dos seus estudantes só lá ingressam depois dos necessários vistos da Embaixada Francesa em Portugal. Porconseguinte, tal como esta, o Liceu pode ser considerado "território estrangeiro" em Portugal. Inquiram os nosso valiosos anti-fascistas que, no tempo da ditadura, se escondiam no referido Liceu para se protegerem da PIDE. Porventura negarão a importância de tais valiosos combatentes com tais invios ataques à minha pessoa?

CONCLUSÃO: se permanecer no governo (...) para não ser acusado de promover a excepção na excepção redigi o parecer "Concordo com a metodologia proposta que deve ser adoptada em casos semelhantes". Doravante, para não individualizar este caso, todos os filhos ou filhas, sobrinhos, afilhados, etc., de ministros, secretários de estado, afins ou próximos, que não possuam média para entrar no curso superior que desejam (ou de um curso que tenha uma média consideravelmente alta) e que tenham, vagamente ou num passado próximo ou distante, preenchido uma das vagas de excepção (ou de excepção à excepção ou de excepção à excepção da excepção), serão tratados do mesmo modo. Não impenderá, então, sobre mim, qualquer acusação de discriminação positiva. Certo de que considerarão coerentes e justas as minhas explicações, subscrevo-me,

Tenho dito.

Pedro "Cunha" Lynce»