“Mãe? Agora os soldados são nossos amigos? Dantes não eram porquê?”

“Agora”, o contraste desta súbita amizade fez emerger a pergunta. “Não. Os inimigos eram outros. Não tinham farda e fizeram mal ao teu avô… mas dantes não se podia dizer isto em voz alta”. Sim, o espectro do meu avô ter sido maltratado por uma polícia política ainda hoje enforma e informa a minha relação com a ditadura do Estado Novo e o período da primavera marcelista.
Ainda hoje lamento não ser mais velho no dia 25 de Abril de 1974. Para perceber o que se passava, para participar no que se passava, para ser parte do que se passava…
5 Comments:
sorte a tua, caro Paulo, de poderes disfrutar mais tempo do tempo de liberdade.
O que fizeram ao teu avô?
David
David: pensa-se que ele terá tido umas conversas politicamente incorrectas num café que terão sido ouvidas por um qualquer bufo e sofreu as consequências...
Ora, oito anos... eu era ligeiramente mais velha, mas não o «bastante» para ter uma certa «idade de ouro» na vivência política (pelo menos, a ajuizar pelo que conta quem tinha).
Mas gosto de ouvir contar, de relatos dos mais velhos.
E de me interrogar acerca das sombras e dos costumes que ficaram, dessa altura.
O peso do estado Novo não se apaga numa revolução e gente que hoje assume cargos relevantes é desse tempo. Para o melhor e para o pior. (E antes, eu não poderia escrever isto... nem haveria blogosesfera... ou, se houvesse, não seria em Portugal).
No outro dia o editor de economia da TVI dizia, pertinentemente, que uma das razões do nosso atraso económico era um certo servilismo herdeiro do Estado Novo numa certa geração. Ao que a pivot, Manuela Moura Guedes, troçou, dizendo: "Estado Novo?" Onde isso já vai!". Valha-me Deus... tirem o pessoal das livrarias e coloquem-nos na apresentação do Telejornal da TVI...
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