domingo, abril 10, 2005

Evidente… mente!

António Nóvoa continua a surpreender pela vastidão e qualidade da sua produção bibliográfica. No último livro, muito recentemente publicado, “E vid ente mente. Histórias da Educação” (Asa, 2005). Assegura que “o que é evidente, mente. Evidentemente”. Em algumas passagens defende, com muito mais mestria do que eu, aquilo que, em parte, já evoquei no último artigo publicado na revista do Ensino Superior (link ainda não disponível) num artigo intitulado “Eles Agora Não Sabem Nada! O Currículo Oficial e Oficializado e o Saber Geracional Válido: Divergências Naturais ou Regressão do Sistema?”. Vejamos alguns dos excelentes trechos do vice-reitor da U.L.:

Da futilidade e as falsas certezas sobre educação:

As coisas da educação discutem-se, quase sempre, a partir das mesmas dicotomias, das mesmas oposições, dos mesmos argumentos. Anos e anos a fio. Banalidades. Palavras gastas. Irritantemente óbvias, mas sempre repetidas como se fossem novidade. Uns anunciam o paraíso, outros o caos – a educação das novas gerações é sempre pior que a nossa. Será? Muitas convicções e opiniões. Pouco estudo e quase nenhuma investigação. A certeza de conhecer, de possuir a «solução» é o caminho mais curto para a ignorância. E não se pode acabar com isto?

e

Quando se trata de educação, nenhum político tem dúvidas, nenhum comentador se engana, nenhum português hesita. Palavras gastas. Inúteis. Banalidades. Mentiras. O que é evidente, mente. Evidentemente

E, numa síntese oportuníssima, o transbordamento conferido à escola nos últimos 200 anos:

Começou pela instrução, mas foi juntando a educação, a formação, o desenvolvimento pessoal e moral, a educação para a cidadania e os valores…
Começou pelo cérebro, mas prolongou a sua acção ao corpo, à alma, aos sentimentos, às emoções, aos comportamentos…
Começou pelas disciplinas, mas foi abrangendo a educação para a saúde e para a sexualidade, para a prevenção da tabagismo e da toxicodependência, para a defesa do ambiente e do património, para a prevenção rodoviária…
Começou por um «currículo mínimo» mas foi integrando todos os conteúdos possíveis e imagináveis, e todas as competências, tecnologias e outras, pondo no «saco curricular» cada vez mais coisas e nada dele retirando.


E, de facto, “a escola não pode tudo”. Mutatis mutandis...

14 Comments:

Blogger Miguel Pinto said...

[...]“a escola não pode tudo". [...] O que é evidente, mente". ;o)

abril 10, 2005 2:36 da tarde  
Blogger Chris Kimsey said...

Isto é o que se chama alguém usar as "nossas" próprias armas contra nós... ;-). Mas dúvido que discordes do essencial da mensagem, Miguel.

abril 10, 2005 2:57 da tarde  
Blogger Miguel Pinto said...

E fazes muito bem em duvidar. ;)
É uma boa sugestão de leitura.

abril 10, 2005 9:43 da tarde  
Blogger Cândido M. Varela de Freitas said...

Ainda não li o livro do Nóvoa, mas conheço mais ou menos o que pensa. Que há expectativas a mais em relação ao poder da escola, é um facto. Que a "adição curricular" tem sido claramente prejudicial a um certo tipo de escola, é outro. Mas como pode a escola evitar o tempo em que exikste?

abril 11, 2005 10:11 da tarde  
Blogger Chris Kimsey said...

A sua questão é pertinente, Varela: a escola não é uma ilha. Mas porque se tem que curricularizar tudo? É só a escola que deve ter a função de educar? A lógica aditiva curricular está mais "viva" que nunca. E porque só se pensa no "quê"?

Alguém me disse, simplisticamente, que se a escola ensinar a ler e a escrever tudo o resto virá... eu acrescento/altero: se a escola ensinar a pensar, a reflectir, a ser-se fundamentadamente crítico, o resto não terá mais hipóteses de "emergir", ser procurado/encontrado/descoberto?

abril 11, 2005 10:18 da tarde  
Blogger saltapocinhas said...

Se reparares em qualquer conversa, na tv por exemplo, seja do que for que se fale há-de vir alguém dizer "deviam aprender isto na escola logo no 1.º ciclo...)
E eu pergunto: porque não se entregam os filhos a uma escola mal eles nascem??

abril 11, 2005 11:44 da tarde  
Blogger Chris Kimsey said...

Também oiço isso amiúde, saltapocinhas. Quando a entregar o filho a uma escola logo que eles nascem... não se faz já isso em boa parte? :-|

abril 12, 2005 12:12 da manhã  
Blogger Cândido M. Varela de Freitas said...

Uma adenda: na concepção de currículo a que aderi, currículo é tudo o que a escola organiza em termos de aprendiagem para os seus alunos (ou seja, virtualmente, tudo o que se passa na escola é curricular). Por isso sou contra a adição de disciplinas e a favor de outras modalidades de aprendizagem que podem assumir formatos muito diversos. Na minha lógica, não há na escola extra-curricular. (Nem toda a gente pensa como eu, claro)

abril 12, 2005 2:20 da tarde  
Blogger Chris Kimsey said...

Essa é também a minha concepção. Tudo o que acontece na ou sob os auspícios da escola. "Extra-curricular" é, neste sentido... sem sentido. Com "extra-curricular" quererão dizer, eventualmente, "não-didactizadas" e/ou não sujeitas a uma avaliação formal...

abril 12, 2005 9:47 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ler (e saber ler), escrever (e saber escrever), contar (e a matemática que se segue), hábitos de higiene, prevenção rodoviária, protecção ambiental, socorrismo, inglês, francês, alemão, literatura, educação para os media, geografia, educação para a cidadania, preparação para exames (mas mais do que isso), educação sexual, ciências naturais, física, educação para a saúde, química, cultura geral, educação física, técnicas de estudo, trabalho de projecto, orientação profissional, ocupação de tempos livres, educação visual, capacidade crítica, educação musical, história, gosto pela leitura, gosto pela ciência, gosto pelo conhecimento, conhecimentos de filosofia, domínio das tecnologias da informação, formação especializada, formação geral e pessoal, desenvolvimento de competências, capacidades, creatividade, preparação para o mercado de trabalho, para a vida, para a autonomia, educação especial, educação para a paz, para a convivência multi-étnica, para os direitos humanos, para o consumo, autoconfiança, orientação psicológica, educação para os valores, alimentação, cuidados médicos, espanhol...

abril 13, 2005 7:51 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

da net:

"na escola deve-se ensinar a especular
com dólares, com taxas de juros, coisas que sirvam à criança de hoje"

"na escola deve-se, sobretudo, aprender a aprender"

"na escola, deve-se assegurar o direito à diferença"

"na escola deve-se operar com as idéias-vivas
e não com idéias-inertes"

"a escola deve ajustar-se aos alunos"

"a escola deve ser espaço emancipatório"

"a Escola deve ser um local de prazer para alunos e professores"

"a escola deve respeitar a espontaneidade"

"a escola deve estar aberta ao mundo"

"a escola deve preparar nossos filhos para a era das incertezas"

"a escola deve ser um espaço de transformação para a comunidade"

"a escola deve buscar apoio das empresas da sua região"

"a escola deve estimular o aluno ao exercício da inteligência"

"a escola deve combater o medo e os preconceitos"

"a escola deve riscar do dicionário a palavra FRACASSO"

"a escola deve ensinar a ter sucesso na vida"

"a escola deve ensinar explicitamente ao aluno o que é ser um estudante"

"a escola deve ensinar para a utopia"

"a escola deve ensinar a analisar ea discutir os parâmetros sobre os quais se sustentam nossas afirmações passionais"

"a escola deve ensinar a ler um texto difícil"

"a escola deve ensinar o que interessa aprender"

"a escola deve ensinar coisas práticas e a função do professor é educar a sensibilidade do aluno"

"a escola deve ensinar competências tendo em conta os saberes do futuro"

"a escola deve ensinar que todos têm direitos"

"a escola deve ensinar empreendedorismo"

"a escola deve ensinar as crianças a cantarem bem, a amarem o canto e dar-lhes a possibilidade de distinguirem a boa música da má"

"a escola deve ensinar e avaliar: o esforço, a vontade de aprender, a força de lutar mesmo quando a batalha for dura"

"a escola devia formar sobretudo alunos cooperantes"

"a escola devia estimular a aprendizagem, e até mesmo dar instrumentos para se aprender sozinho"

"a escola devia ser mestiça e poliglota"

"a escola devia permitir que os pais praticassem desporto"

"a escola devia acompanhar a própria evolução
da sociedade"

"a escola devia de ter mais disciplina para eles terem assim um bocadinho mais de respeito"

"a escola devia recrutar professores junto
das empresas"

abril 13, 2005 8:27 da tarde  
Blogger Chris Kimsey said...

É mesmo. Mas identifica-te lá, Anonymous... és professor/a?, estudante? Deixa um nome, sff. ;-|

abril 13, 2005 9:08 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Professor em dia mau. Aluno em part-time. O exercício é um bocado tolo mas descobrem-se coisas curiosas: a juventude um qualquer partido brasileiro defende que a escola deve ensinar esperanto porque é uma língua fácil.

abril 13, 2005 11:09 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

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dezembro 18, 2013 6:44 da tarde  

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