Questões de interpretação no ad eternum da crise...
Vitor Constâncio vem a terreiro dizer que o congelamento dos vencimentos dos funcionários públicos não deverá ocorrer no próximo ano. O que disse ele, verdadeiramente? Por exemplo, disse que concordava que este ano tal tivesse ocorrido? Na verdade não disse nada de novo ou significativo. Se o nosso manipulador-mor (Durão Barroso) fosse confrontado com esta sentença, diria, com a maior naturalidade do mundo "É esse o nosso desejo, de facto. Pensamos que tal não irá ocorrer para o próximo ano". Dito desse modo, não se compromete com nada. Se para o ano tal façanha se repetir, basta justificar, novamente, com a penúria orçamental para não concretizar o desejo sincero e assumido. Tal é transferível, também, para Vitor Constâncio.
As recentes afirmações do mais alto magistrado da nação quer a propósito da verborreia jornalistica do caso Casa Pia, quer do recente repto para um pacto de regime visando uma estabilidade orçamental não causaram senão um assentimento por parte de todos os grupos parlamentares (exceptuando-se uma vozes isoladas que afirmaram que poderia ter ido mais longe). Quando confrontados com as afirmações do presidente, um e outro grupo parlamentar afirmam, face a "aprofundamentos" dos jornalistas, que "não foi bem isso que o presidente disse/não foi essa a nossa interpretação"...
Tudo cai em saco roto. Tudo perde a eficácia. Estamos num país de afirmações, "sérias" bombásticas mas inconsequentes. Na verdade, por entre as propostas da maioria parlamentar ou do governo impera o que T. Popkewitz denomina a "retórica da mudança": têm-se repetido, seguindo algumas regras fundamentais do marketing, manifestações mediáticas de anúncio de medidas para isto e para aquilo de cuja concretização não vemos o menor vislumbre. E não me venham dizer que a culpa é do tipico português, preguiçoso e avesso à mudança. Isso foi chão que já deu uvas...
Ele foi o Programa Pólis, ele é a revolução na Administração Pública, ele é a sociedade de informação, ele é o financiamento da ciência mais recentemente, etc., etc. Quem acredita nestas coisas? Mas o impacto de algumas das medidas parece/é sentido. Aqui parece haver uma tendência: as medidas "negativas mas necessárias e não populistas" como o congelamento de vencimentos na administração pública e as vagas na mesma são sentidas no dia-a-dia e nos números do desemprego. E assim se vai enganando o Zé Povinho com promessas, vagas e abstractas de um futuro melhor.
Dou a mão à palmatória, no meu caso pessoal, numa medida positiva em que, efectivamente, senti impacto: o abono de família. De facto aumentou para o meu novel filho. De resto, tudo me passa ao lado. E se os nossos líderes são confrontados com isso, dirão: "É uma revolução silenciosa..." ou "é um investimento a longo prazo dos quais os frutos irão desenvolver e estabilizar-se nas gerações futuras". Eu quero "barulho" e "frutos" para já. Eu quero qualidade de vida hoje e não a promessa de a ter, vagamente, amanhã. Se não for eu, pelo menos para o meu filho...
Todos temos qualidades e defeitos. A maioria mais os segundos do que os primeiros e alguns, poucos, o oposto. Eu não pertenço a esta última categoria. Temo-las porque são visíveis, porque agimos em conformidade com elas. A este nível, o "ser e parecer" é mais fiável do que o "dizer". Mas é sobre este último que eu quero falar hoje: sobre as qualidades que dizemos ter. Com especial ênfase numa delas: a humildade.
Esta "análise" foi feita há algum tempo. Sabe-se lá porquê, decidi inclui-la aqui.
O Despacho 24385/2003 (II série) publicado no "
Alguém no seu emprego ou na sua escola, sobretudo na administração pública, tem colegas que lhe estão hierarquicamente acima e com quem têm de lidar frequentemente? Eu tenho. E vou reparando na questão do tratamento que as pessoas preferem, ergo, como gostam as pessoas de ser tratadas mas, sobretudo, por quem. Na minha actual escola, são muitas as pessoas que estão sujeitas a hierarquias. São mais de categoria profissional do que de habilitações académicas. Eu explico: estou numa escola superior de educação pública. Lá existem três categorias entre o pessoal docente: de cima para baixo: os professores-coordenadores, os professores-ajuntos e os assistentes. Desculpem - existe uma quarta categoria: os equiparados a assistente. Para a primeira é preciso ter o grau de Doutor ou Mestre, para a segunda, Mestre (podendo, também, ser Doutor) e para a terceira, o grau de licenciado (podendo ser, também, Doutor ou Mestre). Para a "quarta", o mais provável é ser-se licenciado-mestrando mas, mais uma vez, pode-se ser Doutor ou Mestre.
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Toda a gente sabe que o português é, sobretudo em conversas de café, muito crítico. Crítico mas inconsequente. Corporiza a vitima ideal para a incompetência/inoperância dos serviços públicos e privados já que não reclama e, quando o faz, não o faz da forma mais adequada. Daí que aqueles atributos abundem nestes serviços em Portugal. É uma tese consensual.
A todos um próspero Ano Novo. Que este concretize, na medida do possível, todas as expectativas goradas no ano que finda bem como as desejáveis para o ano que ora se inicia. Quanto a mim, apenas desejo, por esta ordem, saúde para o meu bébé e seus pais e estabilidade profissional para a mãe do Alexandre e para mim.


