quinta-feira, março 03, 2005

Alguns vícios “pedagógicos” dos professores do Ensino Superior. Habilite-se e ganhe prémios! (Ciclo da Pedagogia II)

Contrariamente a um post anterior (“Charlatanices da Pedagogia no Ensino Superior e não só... [Ciclo da Pedagogia I]”), este não é um sistema de categorias da nossa classe docente do Ensino Superior mas um glossário de exemplos de comportamentos “pedagógicos” que constatei, mais uma vez, do meu contacto com outros docentes quer como aluno, quer como docente.

Os “anti-pedagogos

São aqueles docentes que consideram a Pedagogia uma “ciência menor”, uma “não ciência” ou, no máximo, uma ciência restrita a uma faixa etária menor que termina com a adolescência. Normalmente nada sabem sobre a ciência pedagógica, pouco sabem de educação a não ser o que resulta da observação imediata. Tem concepções também algo imediatistas sobre o processo de ensino-aprendizagem. Na maior parte dos casos são docentes já bem estabelecidos na carreira que acham que já nada têm a provar embora, dentro destes, seja cada vez maior o número de docentes que acham que é politicamente correcto ter um discurso pró-pedagogia mas não uma actuação consentânea.

Se é este tipo de docente, envie um SMS para "ANTIPED [espaço] 4766" e habilite-se aos três volumes do excelente livro "Os Charlatães da Pedagogia"!

Os “pseudo-pedagogos

São aqueles que julgam que sabem tudo ou o que é suficiente saber sobre pedagogia para a situação de ensino-aprendizagem na sala de aula. Baseiam o seu conhecimento “num livro” que leram “uma vez” e que “até tinha algum interesse” mas que não conseguiram “ler até ao fim”. Tão pouco sabem que até se dão ao luxo de dizer barbaridades sobre a “pedagogia”. Opinam que, no máximo, a “pedagogia” sintetiza-se no trinómio “professor-matéria-aluno” com destaque para o primeiro pelo exercíco da autoridade e da disciplina. Até ensaiam, por vezes, algumas “estratégias pedagógicas” que se limitam a responder à pergunta “o que posso fazer para parecer um bom professor e ser gostado enquanto tal?” ou “Como dar a entender aos meus colegas recém-docentes que sou um bom professor, pedagogicamente activo e preocupado?




Se é este tipo de docente, envie um SMS para "PSEUDOPED [espaço] 4767" e habilite-se a uma colecção completa do "Dicionário Pedagógico das Escolas Madraças Iraquianas"!

Os “aproveitadores da pedagogia

São aqueles que alegam ser muito interessados na pedagogia mas usam-na para proveito próprio. Geralmente fazem-no para tirar proveitos relativamente a projectos de investigação em andamento. Alegam que a investigação é muito importante, que um bom professor deriva, necessariamente, de um professor "cientificamente bem actualizado" e, de preferência com projectos de investigação em andamento. À guisa dos princípios do “reforço pedagógico” e de “envolver os alunos”, usam a “pedagogia” para fazer dos discentes (e colegas docentes…) mão-de-obra barata (recompensando-os com valores ou décimas destes) para efectuar a recolha de dados de investigação que resultará em publicações encimadas com o seu nome e financiamento para novos projectos. São, também, na maior parte dos casos professores já bem estabelecidos na carreira.



Se é este tipo de docente, envie um SMS para "APROVEPED [espaço] 4768" e habilite-se ao guia “Os três tipos de Poder de Fritzel: Poder de Mandar, Poder de Fazer Obedecer e Poder de Tirar Proveito de”!

Os “Ditadores biblio-pedagógicos

São aqueles docentes que acham que a “pedagogia” consiste inteiramente numa boa organização e apresentação dos conteúdos e numa clareza e precisão na transmissão dos mesmos. Tendem a apresentar os conteúdos por tópicos muito arrumadinhos que desenvolvem um a um, em acetatos (que privilegiam) imaculadamente limpos e organizados (sim: eles têm cuidados e não apresentam transparências cheias de informação. Desses cuidados sabem) e tendem a expor os conteúdos nas aulas, lendo-os ou não mas com um discurso falado igual ao escrito: sintacticamente bem estruturado e com as pausa devidas. Falam alto, alguns muito alto, sem ter consciência disso e amiúde espreitam os cadernos de apontamentos dos alunos para ver se estes reflectem a aula. Se sim, “foi uma boa aula”. Cercam-se de manuais, (que frequentemente seguem como uma “bíblia”), colectâneas de textos, sebentas e outros documentos escritos. Têm um (ou vários) dossier(s) de apoio à cadeira bem organizados com separadores coloridos, sínteses e fotocópias dos acetatos.

Se é este tipo de docente, envie um SMS para "DIBIBPED [espaço] 4769" e habilite-se a um altifalante alimentado por plutónio da mais recente geração electrónica!

Os “sacerdotes pedagógicos

São aqueles a quem alguém disse e acreditaram que “não existe crueldade infantil”. Leram Jean-Jacques Rousseau e acreditaram piamente. São ultra-adeptos do “movimento da escola nova” e acham que o exercício da função docente é uma “missão” ao qual se deve proporcionar todos os sacrifícios. Tendem a infantilizar os alunos, a sobrestimar as suas capacidades, a desculpar todos os comportamentos atribuindo a natureza dos comportamentos menos correctos a “um ambiente familiar desadequado” ou a “traumas infantis”. Passam imensas horas em casa a imaginar estratégias pedagógicas diferentes que experimentam sucessivamente umas após as outras, produzem imensos materiais para uso na sala de aula e… frequentam sessões de psico-terapia…

Se é este tipo de docente, envie um SMS para "SACERPED [espaço] 4770" e habilite-se a cem vales de horas no Hospital Magalhães de Lemos!

13 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Paulo. Reconheço em cada um desses maus exemplos um professor que tive. É por acaso que os dois últimos são mulheres e os anterioes homens? :)
Nelson

março 03, 2005 10:49 da manhã  
Blogger JorgeMorais said...

Pedagogia é para as crianças? Onde é que já ouvi essa :-D

março 03, 2005 11:32 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Eu gosto é da velhota com o livro na mão. Lembra-me a minha professora primária: é tal e qual a Dona Carminda. Não sabia que ela andava pela web :)
A.P.

março 04, 2005 10:10 da manhã  
Blogger Cândido M. Varela de Freitas said...

Tipos definidos com humor que não esconde seriedade. Para quando as virtudes pedagógicas dos professores do ensino superior?Eventualmente escalonadas por catedráticos, associados, auxiliares... Brincadeiras à parte, isto está a ser muito interessante.

março 04, 2005 10:13 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

O lamentável é que há professores da área das Ciências da Educação que dizem como se há-de fazer, não sabendo eles como fazê-lo...

março 04, 2005 10:44 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Um "post" para afixar em todas as universidades. De preferência, em painéis electrónicos, para que todos possam ler...
Pedagogicamente falando, as universidades e os politécnicos são uma mentira, quando não uma aldrabice...

março 04, 2005 12:11 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Muito bem, Paulo. Conhecemos todos esses tipos. E agora os exemplos bons. É mais complicado não é? :)
David

março 04, 2005 9:48 da tarde  
Blogger saltapocinhas said...

Xiiiiiii, que eu acho que sou uma ditadora! Mas não quero esse prémio, mesmo sem megafone berro que me farto! Mas não uso acetatos :-( [quanfdo for grande vou trabalhar com acetatos e quadros interactivos]. Escrevo com giz num quadro preto e adoro! E avisa aí o senhor (ou senhora) AP que primária era a ESCOLA, não a PROFESSORA! Há pessoas que demoooooooram a aprender a exprimir-se, xiça!

março 05, 2005 12:43 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Vou afixar este post na minha escola.
X

março 06, 2005 12:47 da tarde  
Blogger Chris Kimsey said...

Nelson, seu malandro, é por acaso, é...

Jorge? Ouviste essa de alguém que conheces pessoalmente... :-|

Varela? Obrigado. É sempre um prazer "vê-lo" aqui ;-]

Anónimo? É verdade. Também os há...

David? é mais complicado os bons exemplos, é. Não é sempre assim?

Ademar e "x"? Vejam lá o que fazem. Se o fizerem não coloquem o meu nome. Não quero cabeças de cavalo ensanguentadas na minha cama...

saltapocinhas? Tens razão. O mesmo se passa com as "educadoras infantis" já que ainda se cai neste erro. O mais engraçado é que já expliquei isto mais que uma vez e a explicação parece cair algumas vezes em saco roto. Quanto a falares alto, isso é um vicio profissional natural dos professores do 1.º CEB. A minha também era e tinha esse vício. Não é nada preocupante... ;-)

março 06, 2005 7:44 da tarde  
Blogger BlueShell said...

E não votaste em mim, Paulo....Buáááááá´´aá....Chuifff...


Jinhos ternurentos, BShell

março 08, 2005 1:41 da manhã  
Blogger Chris Kimsey said...

Ohhhhh! Blueshell :-(... não votei em ti para quê? Não sei em quê mas já estou arrependido =[...

março 08, 2005 9:40 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Tava eu desesperado hoje ao receber a correcção de um trabalho escrito que entreguei recentemente a um professor meu do ensino superior quando dei de caras com este blog, e para dizer a verdade já não tenho palavras para exprimir o meu desalento e a minha falta de entendimento ou discernimento em relação àquilo que se anda a passar dentro das salas de aula. As relações são tudo menos humanas. Eu estudo a bendita da pedagogia e deparo-me diariamente com os malditos dos gajos que a ensinam a ultrajarem a sacana da pedagogia. Eles falam bem, lá isso falam, mas as atitudes são de carniceiros autênticos com aulas que terminam tantas vezes com derramamento de lágrimas pelos alunos destes iluminados da treta. É um beco sem saída este mundo...

abril 08, 2007 12:34 da manhã  

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