Contrariamente a um post anterior (“Charlatanices da Pedagogia no Ensino Superior e não só... [Ciclo da Pedagogia I]”), este não é um sistema de categorias da nossa classe docente do Ensino Superior mas um glossário de exemplos de comportamentos “pedagógicos” que constatei, mais uma vez, do meu contacto com outros docentes quer como aluno, quer como docente.
Os “anti-pedagogos”
São aqueles docentes que consideram a Pedagogia uma “ciência menor”, uma “não ciência” ou, no máximo, uma ciência restrita a uma faixa etária menor que termina com a adolescência. Normalmente nada sabem sobre a ciência pedagógica, pouco sabem de educação a não ser o que resulta da observação imediata. Tem concepções também algo imediatistas sobre o processo de ensino-aprendizagem. Na maior parte dos casos são docentes já bem estabelecidos na carreira que acham que já nada têm a provar embora, dentro destes, seja cada vez maior o número de docentes que acham que é politicamente correcto ter um discurso pró-pedagogia mas não uma actuação consentânea.


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Os “pseudo-pedagogos”
São aqueles que julgam que sabem tudo ou o que é suficiente saber sobre pedagogia para a situação de ensino-aprendizagem na sala de aula. Baseiam o seu conhecimento “num livro” que leram “uma vez” e que “até tinha algum interesse” mas que não conseguiram “ler até ao fim”. Tão pouco sabem que até se dão ao luxo de dizer barbaridades sobre a “pedagogia”. Opinam que, no máximo, a “pedagogia” sintetiza-se no trinómio “professor-matéria-aluno” com destaque para o primeiro pelo exercíco da autoridade e da disciplina. Até ensaiam, por vezes, algumas “estratégias pedagógicas” que se limitam a responder à pergunta “o que posso fazer para parecer um bom professor e ser gostado enquanto tal?” ou “Como dar a entender aos meus colegas recém-docentes que sou um bom professor, pedagogicamente activo e preocupado?”
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Os “aproveitadores da pedagogia”
São aqueles que alegam ser muito interessados na pedagogia mas usam-na para proveito próprio. Geralmente fazem-no para tirar proveitos relativamente a projectos de investigação em andamento. Alegam que a investigação é muito importante, que um bom professor deriva, necessariamente, de um professor "cientificamente bem actualizado" e, de preferência com projectos de investigação em andamento. À guisa dos princípios do “reforço pedagógico” e de “envolver os alunos”, usam a “pedagogia” para fazer dos discentes (e colegas docentes…) mão-de-obra barata (recompensando-os com valores ou décimas destes) para efectuar a recolha de dados de investigação que resultará em publicações encimadas com o seu nome e financiamento para novos projectos. São, também, na maior parte dos casos professores já bem estabelecidos na carreira.


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Os “Ditadores biblio-pedagógicos”
São aqueles docentes que acham que a “pedagogia” consiste inteiramente numa boa organização e apresentação dos conteúdos e numa clareza e precisão na transmissão dos mesmos. Tendem a apresentar os conteúdos por tópicos muito arrumadinhos que desenvolvem um a um, em acetatos (que privilegiam) imaculadamente limpos e organizados (sim: eles têm cuidados e não apresentam transparências cheias de informação. Desses cuidados sabem) e tendem a expor os conteúdos nas aulas, lendo-os ou não mas com um discurso falado igual ao escrito: sintacticamente bem estruturado e com as pausa devidas. Falam alto, alguns muito alto, sem ter consciência disso e amiúde espreitam os cadernos de apontamentos dos alunos para ver se estes reflectem a aula. Se sim, “foi uma boa aula”. Cercam-se de manuais, (que frequentemente seguem como uma “bíblia”), colectâneas de textos, sebentas e outros documentos escritos. Têm um (ou vários) dossier(s) de apoio à cadeira bem organizados com separadores coloridos, sínteses e fotocópias dos acetatos.

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Os “sacerdotes pedagógicos”
São aqueles a quem alguém disse e acreditaram que “não existe crueldade infantil”. Leram Jean-Jacques Rousseau e acreditaram piamente. São ultra-adeptos do “movimento da escola nova” e acham que o exercício da função docente é uma “missão” ao qual se deve proporcionar todos os sacrifícios. Tendem a infantilizar os alunos, a sobrestimar as suas capacidades, a desculpar todos os comportamentos atribuindo a natureza dos comportamentos menos correctos a “um ambiente familiar desadequado” ou a “traumas infantis”. Passam imensas horas em casa a imaginar estratégias pedagógicas diferentes que experimentam sucessivamente umas após as outras, produzem imensos materiais para uso na sala de aula e… frequentam sessões de psico-terapia…

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