terça-feira, dezembro 28, 2004

Património ao desbarato...

Uma espécie de dor de alma ou sensação de desperdicio é o que me perpassa quando vejo incunábulos e pós-incunábulos quinhentistas a serem vendidos "leaf by leaf" (folha por folha) no site americano do ebay. Alguns, pude constatá-lo, são portugueses ou de autores portugueses e de inegável valor histórico .

Feito ingénuo já enviei e-mails à Biblioteca Nacional dizendo que um incunábulo (ou próximo ulterior) ou um manuscrito em português ou em latim mas de autor português estava em leilão (completo, felizmente) a um preço acessível (dado o valor do bem) e nada responderam. Assim se depreda o património histórico mundial. Por interesses materiais mesquinhos...

6 Comments:

Blogger mfc said...

Quem quer, quem quer... uma pedrinha do Muro de Berlim??!

dezembro 29, 2004 10:43 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Este post fez-me recordar uma história curiosa ocorrida há mais de 20 anos. O pai de um amigo meu era proprietário de uma pequena livraria que baseava em parte o seu negócio na venda de livros raros. Um certo dia esse meu amigo e o seu pai foram visitar um alfarrabista. Ao passar os olhos pela oferta do seu colega o pai do meu amigo reparou num livro que lhe chamou a atenção. Para disfarçar a excitação da sua descoberta foi pegando numa meia dúzia de livros que comprou ao seu concorrente pedindo-lhe que os entregasse na sua livraria. “Este, disse-lhe, vou levá-lo comigo. O assunto interessa-me e vou lê-lo.” O livro foi vendido por muito pouco dinheiro. Depois de saírem da livraria o meu amigo virou-se para o pai e perguntou-lhe: “Esse livro é especial?” “Pode ser”, respondeu-lhe o pai, mas tenho que verificar”. Posteriormente confirmou o seu instinto de bibliófilo. O livro em causa era o primeiro livro de poesia publicado em Moçambique e constituía uma verdadeira raridade. Foi posteriormente vendido a uma universidade americana por 500 contos!!
Por associação de ideias lembrei-me de um prefácio de Aníbal Fernandes a um pequeno livro de Céline, Vão Cheios os Navios de Fantasmas, publicado pela Hiena Editora nos anos 80. Cito um excerto: “Visitar o alfarrabista é acto de regras muito próprias. Jogo – faz-se entre adversários que se espiam e constróem lanços a partir de uma observação atenta de faces, sorrisos, olhares, de um gesto mais ou menos nervoso das mãos. (…) Há, no entanto, a situação superlativa do cheque-mate ao alfarrabista, rara nesta ronda de fanáticos mas a exigir, se aparece, o domínio mais sábio de todos os músculos faciais. Imagine-se, por exemplo, aquele lote de “franceses” vendidos ao quilo por uma viúva apressada (…) e que lá no meio esconde, humilhado entre doudês, zolás e rolãs, um mítico, um “impossível” Bagatelles pour un Massacre de Luís-Ferdinand Céline.”
P.S. Bagatelles pour un Massacre é um livro de teor anti-semita que muito dificilmente se encontra à venda. Se avistarem algum a um preço acessível comprem-no e coloquem-no à venda na E-Bay. As vossas férias vão ser melhores.
PJ

dezembro 29, 2004 11:39 da tarde  
Blogger Chris Kimsey said...

Sendo um habitueé (tá certo?) dos alfarrabistas de Lisboa (conhecem-me todos...), às vezes do Porto e Coimbra, conheço alguns dos seus argumentos, PJ. A excitação contida e o seguido... cinismo para disfarçar (e conseguir um preço mais baixo) é algo comum entre os bibliófilos e bibliómanos. Aprendi isto: quando me perguntam o que eu procuro tento ser muito vago na resposta dado que se o alfarrabista tiver o que eu procuro, o preço disparará. E são rarissimos os que têm preços pré-estipulados. Na comunidade de alfarrabistas de Lisboa, o ambiente é curioso: muitos são aparentados, fazem e desfazem alianças conforme a lógica do lucro deste ou daquele livro que comercializam entre si. E por vezes usam-me para saber que preços aquele seu colega está a levar por este ou aquele livro. Estas vivências já me valeram um convite para a Maçonaria. "Vou pensar... mas os rituais de iniciação....hummmm...".
Obrigado pela dica do "bagatelles" ;-D

dezembro 30, 2004 12:07 da manhã  
Blogger saltapocinhas said...

Se deixam sair do país por falta de condições de trabalho tantos futuros cientistas, acham que vão reparar nuns "papéis velhos"?

dezembro 30, 2004 1:13 da manhã  
Blogger Chris Kimsey said...

Reparam os "cientistas" que estudam por vezes esses "papeis velhos" como eu... ;-D

dezembro 30, 2004 11:39 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

prontos, tá mal.

dezembro 31, 2004 6:41 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home