domingo, dezembro 19, 2004

Alexossaurus Rex e a tragédia iminente

Final de tarde soalheira. Não há vento. O silêncio ecoa na pequena povoação. Não longe um leve silvo vindo das sebes formatadas no espaço verde geometrizado corta o ambiente fresco e apaziguador. Não perto não há marulho. Nada, mas mesmo nada, prenuncia uma tragédia iminente. A pequena povoação tem poucos habitantes. E a paz reina. Alguma indústria. Mas hoje só o ruído de uma maquinofactura se faz sentir: o dispositivo rotativo depurador de tecidos industriais incomoda quem estiver mais perto. É cíclico o seu barulho.

O encarregado entretém-se com um maquinismo binário de comunicação a distância. Está completamente absorvido. E negligente de outras das sua obrigações para este dia. Cônscio está, levemente, que o dispositivo rotativo depurador de tecidos industriais tem um mecanismo eléctrico de segurança que impede a sua manipulação desavisada. Absorve-se na presente actividade. A ausência da supervisora-mor facilita a manifesta negligência.

Não longe o Alexossaurus Rex desperta. Em silêncio. Há meses que ele reina nesta povoação. Tinha-se alimentado não há muito. Pelo que, movido por um instinto ancestral explora a povoação. Caminha lentamente num passo desajeitado de rua em rua, de beco em beco. Os apêndices manipulares não param: mexe, remexe, desloca, troca de lugar, revolve, revolteia… como pode não ser notado?

Também o encarregado usa os dedos… pléc, pléc, pléc e assim sucessivamente. Não se apercebe da actividade furtiva do sáurio. O dispositivo rotativo depurador de tecidos industriais já não está longe da pré-histórica besta. E a tragédia também não. Tlic! É o som que se ausculta quando as manápulas do Alexossaurus Rex agarram, inexoravelmente, o acesso ao dispositivo rotativo depurador de tecidos industriais, na antecâmara da desgraça. O mecanismo eléctrico de segurança não se acciona. Como?!

Uma torrente de lava quente espraia-se por algumas ruas secundárias da povoação! Alastra a outras! Inferno! Horror! O encarregado ouve como que uma catarata a desenvolver-se fonicamente. Corre ao teatro da desgraça. O ambiente é constrangedor. O Alexossaurus Rex fica petrificado. Também não esperava tal desenvolvimento. Abandona o teatro infernal. O encarregado fica desorientado, siderado, transtornado, especado! Era sua total responsabilidade a zelosa vigilância e é total culpa dele a tragédia. Poderá minimizar os efeitos antes da supervisora-mor chegar? Poderá ele conservar uma réstia de dignidade e um mínimo de reputação?

De repente, o som. O som metálico de chaves a penetrar na fechadura das portas amuralhadas da povoação.

- "É a supervisora-mor! Oh, meu Deus! E agora?!”.

Lívida, ante o espectáculo dantesco, ela diz:
- “Deixo-te 15 minutos com o miúdo e tu por causa da merd* do computador deixas que ele abra a máquina de lavar roupa com ela cheia de água!! Chiça!!!”

4 Comments:

Blogger saltapocinhas said...

Ahahahah! Sempre os papás a brincar com os brinquedos que compram "para os filhos" e depois...dá no que dá!!
Só li este post que está na hora de dormir,mas vou voltar para ler mais! Bom domingo!

dezembro 19, 2004 2:02 da manhã  
Blogger Chris Kimsey said...

Bondade sua... um bom Domingo para si também ;-D

dezembro 19, 2004 5:13 da tarde  
Blogger JorgeMorais said...

Esta história parece uma adaptação autobiográfica onde alguns nomes foram alterados para proteger a respectiva identidade ;-)

dezembro 20, 2004 11:10 da manhã  
Blogger Chris Kimsey said...

Jorge, seu malandro ;-D. Apesar de seres mais novo que eu tiveste uma filha mais cedo e sabes bem do que eu estou a falar. Se ela não abriu a máquina de lavar roupa, alguma tropelia há-de ter feito... ;-)

dezembro 20, 2004 7:21 da tarde  

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