segunda-feira, dezembro 20, 2004

Avaliar é... é o quê?

Por entre muitos dos meus ex-alunos, quer os jovens da formação inicial, quer os “menos jovens” da formação complementar, pairam concepções muito restritas de e sobre avaliação (em educação). Sempre pensei que a elas não era imune o “papão” que ainda assombra o termo. Mas isso são outros debates....
Não me refiro à perniciosa tendência de (ousar) pensar que se pode ter sucesso sem empenho e sem esforço, como tão irreflectidamente pensam muitos dos nossos estudantes (sinal dos tempos?), mas de coisas mais… básicas.

O erro básico é considerar “avaliação” e “classificação” como sinónimos. Lá tinha que ir eu, recorrentemente, ao mais básico para poder, depois, evidenciar o menos: “Avaliar, em educação, é emitir um juízo de valor fundamentado”. Sobre algo, sobre alguém, etc.. “Classificar é colocar esse juízo numa determinada escala”. E não necessariamente quantitativizar uma avaliação. E lá vinham as minhas alunas, algumas com idade para serem minhas progenitoras, dos cursos de Profissionalização em Serviço e dos de Complemento de Formação:
- “Ó Sôdoutor? Um «treze» é uma classificação. E um «satisfaz bastante»? É uma avaliação, não é? Foi assim que sempre me ensinaram…”.
- “Não, não é…”
, respondo, pacientemente. “A diferença é, no caso concreto, que a escala usada no «13» é mais detalhada, mais escalonada do que a escala usada no «satisfaz bastante»”.
- “Olha qu’esta!!”,
Dizem elas provavelmente pensando: “Vem pr’áqui este rapaz novo a querer desmentir o que aprendemos e o que sempre soubemos…”.

Às mais iluminadas, presumo, presunçosamente, que a minha argumentação teria tido algum impacto e feito reflectir. Às outras possivelmente não…

Faz-me recordar uma professora do Ensino Básico a quem inquiri, uma vez, sobre um determinado aluno, no exercício das funções de "orientador" de estagiários:
- Então o Pedro, como tem andado?
- Hã! Mais ou menos...
- Pois... mas... mais para mais ou mais para menos?
- Hããã... assim-assim...
- E a Matemática? Comoestá?
- Hããã.... lá anda, umas vezes melhor, outras vezes nem tanto...
- Percebo [?]... E a Português?
- Hãããã... lá vai, lá vai...
- [impaciente] Mas ele tem progredido??
- Hããããã... umas vezes sim, outras vezes não...
- [fulo mas controlado] Mas onde é que ele revela mais dificuldades??
- Hããããããã... umas aqui, outras ali.. prontos... lá se vai tendo umas vezes mais, outras nem tanto..."

Uma avaliação fundamentada...

Deixo aqui um teste a quem quiser. Afirme qual das seguintes afirmações é verdadeira e qual é falsa (ou se são as duas verdadeiras ou ambas falsas, claro). Se conseguir…

1. Se avaliar, necessariamente classifico - Verdadeiro? Falso?
2. Se classificar, necessariamente avalio - Verdadeiro? Falso?


Se acertar, afirmo, presunçosamente de novo, que está mais apto do que alguns (poucos…) dos nossos professores nas concepções que têm de avaliação pedagógica

7 Comments:

Blogger Miguel Pinto said...

Vamos lá ao teste. Serei avaliado, suponho que não serei classificado.
A primeira afirmação é falsa.
A segunda afirmação é verdadeira. Ou não?

dezembro 19, 2004 10:48 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Eu também acho o mesmo que a primeira é falsa e a segunda é verdadeira. Mas quero ser classificado. Um vinte se acertar
Nelson

dezembro 20, 2004 10:09 da manhã  
Blogger Chris Kimsey said...

És sempre o mesmo Nelson. ;-). Disseste-me uma vez o endereço do blog mas já não sei. Não respondes pelo e-mail da escola. Já fui ao google procurar pelo teu nome + "blog" + "blogspot" e + as "terras do Demo" ;-) e não o encontro...

dezembro 20, 2004 10:13 da manhã  
Blogger JorgeMorais said...

Correndo o risco de uma avaliação e classificação negativa:
1. Uma avaliação não implica, necessariamente, uma classificação. No primeiro contacto, avaliamos os nossos alunos, fazemos um juízo de valor fundamentado, sem traduzir essa avaliação numa classificação. Portanto, Falso.

2. Uma classificação deveria implicar a existência de uma avaliação. Infelizmente, já vi casos de disciplinas em que todos os alunos tiveram a mesma nota (essencialmente disciplinas com o nome Seminário e uma outra na qual eu fui aluno). Por outro lado, se passarmos para o ponto de vista dos alunos, nos inquéritos que preenchem relativamente aos professores, às vezes, há classificações sem avaliação ou com uma avaliação não fundamentada: quando um aluno diz (numa escala de 1 a 5) que na assiduidade o professor tem 3 sem este ter faltado, ou quando diz que os conhecimentos do professor são muito bons, quando não tem dados que suportem este facto (um professor pode estar a dizer as maiores barbaridades que o aluno só pode detectar se tiver um conhecimento anterior da matéria). Mas aqui o problema é dos inquéritos. Eu diria, ironicamente, que a segunda é falsa, apesar de dever ser verdadeira...

dezembro 20, 2004 10:36 da manhã  
Blogger Zu said...

E depois do que o Jorge disse eu já nada posso acrescentar! :)

dezembro 20, 2004 5:01 da tarde  
Blogger saltapocinhas said...

1. Falso
2. Verdadeiro

Mas não me avalies por isto! Muito menos me classifiques!

dezembro 22, 2004 5:53 da tarde  
Blogger Chris Kimsey said...

A avaliação aqui corresponderia a uma escala de 3 níveis:
0 - duas respostas erradas;
1 - uma resposta certa;
2 - duas respostas certas.

E cumpre-me dizer que todos levaram o 2. ;-D. Todavia o Jorge levanta questões pertinentes.

dezembro 22, 2004 9:05 da tarde  

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