A vaidade e prepotência do umbigo dos jornalistas
O "DN" de ontém reproduz uma síntese de um colóquio ("O papel dos blogues no jornalismo actual") organizado pela Associação Gabinete de Imprensa de Guimarães. Nele, Manuel Pinto docente universitário e provedor do "JN", refere-se à blogosfera como um "quinto poder" na "presunção de que o quarto poder foi perdendo capacidade de vigiar os outros poderes".
Reproduzo os seguintes parágrafos para sustentar o comentário que faço seguir:
"O jornalismo está num processo de redefinição e os blogues, como nova modalidade de expressão, são uma via através da qual mais gente pode tomar a palavra."
e
"Quando se discute se os weblogues são jornalismo, as opiniões divergem. Manuel Pinto acha que não, embora os blogues contemplem aquilo que define por metajornalismo, e se assumam como o formato que admite a informação, a análise, o comentário e a opinião. Apesar de constituir-se como a ferramenta ideal para a prática jornalística, segundo Fernando Zamith, os blogues são, acima de tudo, a catarse dos jornalistas, como diz João Paulo Meneses para explicar o fenómeno de explosão de blogues da autoria de profissionais da comunicação social. O jornalismo é uma profissão castradora, o jornalista não deve, não pode, dar opinião. Dantes, o jornalista dava a sua opinião aos amigos, a beber uma cerveja. Hoje tem um blogue, comentou."
Isto é, o que estes jornalistas estão a dizer, nas entrelinhas, é o seguinte: o weblog pode ser muita coisa mas é-o, em todas as suas dimensões, algo intrínseca e intimamente ligado ao mundo do jornalismo. E quando a blogosfera não é jornalismo, ela é definida em função do jornalismo. Um weblog sendo um não-jornal é algo muito parecido com um jornal, a sua qualidade, os seus critérios definem-se por contraste com o mundo do jornalismo. É como se eu dissesse: "uma mulher é um não-homem". Senão vejamos: o próprio termo de "quinto poder" não o é por comparação com o "quarto poder"?? Discutem um fenomeno abrangente e mundial em função do seu próprio umbigo...
Mas onde é que os jornalistas foram, corporativamente, buscar a ideia de que a blogosfera e os posts dos weblogs são uma imitação do trabalhos dos articulistas, do mundo do jornalismo? Tudo o que é escrito, emite uma opinião e é massificado, é jornalismo? No fundo eles estão a dizer: "agora somos imitados por toda a gente que tem um blog. Somos um role model na sociedade actual. Toda a gente quer ser como nós". Somos todos wannabes de jornalistas?? Diabos! Serão assim tão vaidosos e prepotentes sem se aperceberem do facto?
Não me recordo de ter tido motivações jornalistas na génese do meu blog: não queria ser um jornal eletrónico da minha rua ou do meu prédio, não desejei um blog especializado numa área qualquer, nem mesmo sobre ensino superior, ensino básico ou investigação onde me movimento mais (têm explodido os blog's sobre assuntos especializados e então sobre "ensino superior"...) porque não quis tolher-me a escrever sobre assuntos especializados - assumindo-me como especialista de algo - mas sim a perorar sobre o que me apetecesse na altura. Mas uma coisa é certa: nunca pensei em termos jornalisticos. Estes têm regras próprias, uma deontologia própria, critérios e um ethos que o caracterizam. Gosto de ter as minhas e os meus...
P.S.: alterei o template do blog e perdi todos os comentários dos post's, os sites que citam este blog e os links para outros blogues que cá estavam. Quanto aos primeiros não estou certo de conseguir recuperá-los. O último não deve ser problema. Não sou jornalista nem tenho grandes conhecimentos de linguagem html. Há para aí algum jornalista que me ajude? :-
3 Comments:
está mais bonito assim mas é pena perder os comentários. São, para mim, parte da riqueza de qualquer blogue.
Obrigado. Não saberás, já agora, se são recuperáveis?
;-]
A conferência era organizada por jornalistas. O debate foi entre eles. Estavas à espera de quê?
David
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