quarta-feira, dezembro 15, 2004

"Branca de Neve e os Sete Anões"

Anónimo envia-me esta fábula para eu contar ao meu filho. Diz-me que eu também poderei aprender com ela… e que qualquer semelhança entre a fábula e eventos reais são mera coincidência.

«Era uma vez uns sete anões liderados por uma Branca de Neve. Na verdade eram mais do que sete mas eram sobretudo estes sete que se encontravam regularmente com a Branca de Neve: o Dorminhoco, o Envergonhado, o Miudinho, o Feliz, o Atchim, o Sabichão e o Rezingão. Já há alguns anos que tinham formado uma tertúlia lobbiesca com vista a ter um papel relevante na floresta onde viviam junto com toda uma variedade de diferentes outros anões e animais.

A floresta era liderada por uma pantera que se tinha aliado a uma hiena mas que já tinha sido desautorizada pelo leão, personalidade reservada e que só rugia quando bem entendia. O leão era outro tipo de líder. Não governava mas tinha a legitimidade vinda de outras paragens como "o rei da selva". Em cerca de dois meses a pantera deixaria de liderar o governo da floresta. E há quem diga que a pantera, por via da hiena, teria as portas fechadas para um eventual novo governo da floresta. Agora, a pantera (que, entretanto, tinha declarado que o seu tronco na magnifica árvore mais alta da floresta, estava à disposição) e a hiena (que, nos últimos tempos, chorava mais do que ria) decidiam se partilhavam, ou não, uma eventual candidatura a um novo governo da floresta. De resto, a floresta estava em polvorosa e já havia uma girafa que espreitava o majestoso e altivo galho da árvore mais alta da floresta.

Mas voltemos à história: o lobbie da Branca de Neve aspirava, sobretudo, a ter uma intervenção decisiva no modo como se organizavam e nas leis que presidiam às grutas, cavernas, tocas subterrâneas, troncos ocos de árvores e barragens de castores onde passavam muito tempo jovens animais e onde eram formados para se tornarem verdadeiros anões e animais úteis à floresta. Branca de Neve e os seus sete anões apoiavam, eles próprios, estes jovens anões e animais naqueles locais. Também nestes locais e sobre estes locais, a floresta fervilhava em discussões: amedontrava-os uma nova técnica de poda, tratamento de árvores e formação de jovens anões e animais importada de uma floresta longínqua situada em "Bolonha".
Havia, entretanto, outras tertúlias onde pontificavam outros formadores de anões e animais juvenis e infantis, e também eles, achando que também se deveriam imiscuír na formação dos jovens anões e animais, peroravam sobre as técnicas de poda e de tratamento de árvores importadas de "Bolonha". Há quem diga, inclusive, que esta tertúlia procurava cooptar, para si, os anões insatisfeitos da tertúlia de Branca de Neve mas isso não está provado. Aliás, esta outra tertúlia tinha uma variedade de anões e de animais tão grande que só com uma vontade e uma liderança férrea do garnizé que a comandava é que conseguia sobreviver.

De novo a história: Branca de Neve, por sua vez, tinha sido nomeada líder da tertúlia não por vontade expressa de si própria mas por solicitações exteriores (pelo menos era o que ela alegava…). Mas era líder. Não há muito tempo tinha conseguido fazer com que uma lontra que liderava (mal, do ponto de vista da Branca de Neve) uma outra tertúlia (à qual Branca de Neve pertencia mas de que não era líder), que deveria ter os mesmos fins mas que agonizava pela falta de actividade (e razoabilidade e bom-senso, achava a Branca de Neve), fosse deposta e trocado por outro líder anão. Foi uma época muito problemática e nem um nem o outro lobbie tiveram tertúlias verdadeiramente produtivas. Juntando-se com outros 21 anões, Branca de Neve conseguiu a deposição da lontra (ainda hoje estão por apurar todos os pormenores desta história…).


Face à alteração daquela líder bem como à fragilidade que impendia sobre o governo da floresta da pantera e da hiena, Branca de Neve julgava que estaria face a uma época especialmente propícia às reivindicações da sua tertúlia e, eventualmente, ao sucesso de algumas. E poderia, então e finalmente, ter uma liderança efectiva e livre de conflitos. Mas os problemas voltaram. E desta vez no seio da própria tertúlia de Branca de Neve. Ocorre que um dos anões, o Rezingão, tinha criado uma estrutura para estudar muitas das especificidades dos locais (grutas, cavernas, tocas subterrâneas, troncos ocos de árvores e barragens de castores) onde os jovens anões e animais estudavam, naquilo que foi, inicialmente, bem recebido por todos os anões e pela própria Branca de Neve. O anão Rezingão chamou a esta estrutura “Tronquete de Estutos”. Porém, o anão Sabichão tinha uma tendência para emitir opiniões sobre tudo. E desta vez tinha opinado sobre a estrutura do Rezingão. Este não gostou nada. O conflito instalou-se. Branca de Neve não sabia o que fazer inicialmente.

O Sabichão já era um anão muito experiente e habituado a estas lides das tertúlias desde há muitos anos mas, recorrentemente, envolvia-se em conflitos com outros anões. Pouco tempo atrás tinha trocado mimos pelo tambor da floresta com o anão Dorminhoco por, alegadamente, este último ter gerido mal a horta. E o pior é que as mensagens do tambor do anão Sabichão eram ouvidas por muitos, muitos anões e até animais, inclusive da outra tertúlia.
O Sabichão já há muito tempo que recorria a estas mensagens por tambor amplamente divulgadas para muitos anões e animais. E não era o único a faze-lo… no caso concreto, o anão Sabichão tinha acusado o anão Rezingão de ter uma “horta esquemática” por via do “Tronquete de Estutos” e de ter feito entrar nele uma gazela no por vias ínvias…

Branca de Neve não sabia se conseguia exercer eficazmente a sua liderança sem o anão Sabichão e tinha, inclusive, ouvido dizer que teria produzido a afirmação de que preferia ter o anão Sabichão por perto para o controlar melhor do que longe, onde seria relativamente incontrolável (e, quem sabe, uma ameaça à liderança da própria Branca de Neve). Conhecia bem o anão Sabichão e, dentro de certos limites, sabia lidar com ele.

Por outro lado, o Rezingão era um anão sobre quem Branca de Neve tinha uma boa imagem: não era propriamente um “braço direito” mas um anão que em quem se poderia confiar e que poderia ter uma boa intervenção na tertúlia. E mais ainda agora com o “Tronquete de Estutos”. Porém, o anão Rezingão ameaçava sair da tertúlia se Branca de Neve nada fizesse face aos insultos de tambor do anão Sabichão. O conflito agudizou-se. Os anões Sabichão e Rezingão estavam zangados com Branca de Neve. Sentiram-se ambos desautorizados pela líder da tertúlia. Branca de Neve não quis tomar, explicitamente, partido por nenhum. E produziu, por tambor dirigido a vários anões (e, quem sabe, animais também), a afirmação: “Eu não sou vossa mãe!”. E o anão Rezingão não gostou mesmo nada. E mais zangado ficou.

Reuniram os sete anões e Branca de Neve numa das suas tertúlias tentando resolver o conflito entre os anões Sabichão e Rezingão a bem, com a bonomia e a boa-vontade de Branca de Neve típica de Branca de Neve a tentar ajudar. Mas não se conseguiu. Branca de Neve ainda tentou, por mensagem de tambor, reafirmar a confiança nos dois anões mas, sobretudo, no anão Rezingão. Mas parece que a mensagem de tambor só piorou mais as coisas, sobretudo para o anão Rezingão que não a achou suficientemente esclarecedora numa reafirmação clara de confiança de Branca de Neve face a si. A incompatibilidade entre os dois anões continuava e agora estes dois antagonizavam, num silêncio ensurdecedor, a pobre Branca de Neve. Desgostosa, Branca de Neve sentiu que tinha uma maçã envenenada entre as mãos. E, após alguma reflexão poética, disse: “Eu não suporto este silêncio”. E demitiu-se da tertúlia.»

Fica-me a sensação que a história não termina aqui. Vou esperar que me enviem o resto, se for caso disso...

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não cheguei bem a perceber porque é que o anão sabichão também estava tão zangado. Não te esqueceste de nada?
:-|
Nelson

dezembro 20, 2004 9:42 da tarde  
Anonymous jessica said...

ola nelson

julho 14, 2009 2:40 da tarde  

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