Wanna know what a coward is? Or… the plausible denial…
INTROITO 1: já passei por algumas escolas de ensino superior. Nelas muitos assistentes que estavam a fazer doutoramento não viam com bons olhos uma futura passagem para o quadro com base na aquisição do novo grau. A eles era comum o facto de, embora a aparência não o denotar, não serem bem vistos pelo órgão directivo. Ora por não concordarem com tudo o que ele difundia e assumirem-no, ora por reivindicarem os seus direitos, ora por estarem simplesmente a fazerem, e assumirem-no também, o seu doutoramento. Sabiam, em suma, que a posse do grau não augurava bons auspícios. O mesmo não se passava com outros docentes, na maior parte dos casos antigos na casa e, na maior parte dos casos, já professores-adjuntos de nomeação provisória ou definitiva. A estes, e só a estes, haviam as bolsas do PRODEP às quais o Conselho Científico conferia gentilmente o amén. Numa outra escola onde estive depressa me apercebi que se passava o mesmo: diferentes nomes, as mesmas pessoas, as mesmas práticas de amiguismo, caciquismo, de “scratch my back and I’ll (eventually) scratch yours”, compadrio e a corrupção fácil e barata. Numa das escolas, dois assistentes doutorados foram corridos e um terceiro saiu pelo seu pé dada a “exigência” espartana: especificidade da carga horária, natureza bizarra das disciplinas e localização das mesma nos dias de semana, sobrecarga de orientação de estágios, etc., que lhe impunham para não falar de um certo isolamento psicológico a que foi sujeito. A tudo isto não foi alheia a circunstância de um outro assistente esconder que era detentor da posse de grau de Doutor. Não tenho conhecimento se actualmente a pessoa já o divulgou…
Noutra escola, embora se chamassem a todos os mestres de “Doutor” nos documentos internos da escola, as não renovações, por coincidência, impendiam sobre os assistentes que tinham cometido o pecado, de certo modo, de publicitar que já viam o fundo do túnel no tocante ao fim do doutoramento. Exceptuando os “antigos à casa” a quem se esperava, franciscanamente, que terminassem o grau de mestre para se abrir o respectivo concurso para professor-adjunto.
INTROITO 2: nos períodos de desemprego entre uns empregos e outros, submeti, amiúde, candidaturas a concursos públicos onde explicitamente mentia por omissão a posse de habilitações literárias. Numas referia a posse de uma licenciatura incompleta noutros o 12.º ano, e noutros apenas omitia o mestrado. Fui preterido algumas vezes por, e passo a citar “excluído por excesso de habilitações” mesmo cominicando ter uma licenciatura incompleta não chegando sequer à fase da entrevista. O exemplo mais paradigmático foi o Instituto de Reinserção Social. Num primeiro concurso a nobre instituição excluiu-me pelo tal “excesso de habilitações” e muito mais tarde, “permitindo-me” ser entrevistado, comunicou-me um (então) “sub-director” que “se [eu] pensava que vinha para aqui para depois singrar como técnico superior em detrimento das pessoas que já cá temos há anos está [estou: eu] muito enganado!”. A todos os concursos que me excluíram por alegadas habilitações em demasia havia algo em comum: eram instituições públicas, ergo, do Estado. Já para concursos em escolas do Ensino Superior, não raro vejo candidatos, opositores a mim, doutorados serem preteridos por candidatos “da casa” licenciados ou mestres…
INTROITO 3: finalmente parece que o meu “eterno” doutoramento vai encarreirar. Orientador quase formalizado, projecto feito, base de dados em estado avançado e cerca de 80 páginas já escritas, provável integração em pelos menos dois projectos internacionais,… e, embora a mãe do meu filho revele alguma compreensão tomando conta do nosso filho quando eu estou embrenhado no computador a escrever para a tese, ele aparece-me, de vez em quando, ao lado da secretária com uns olhinhos de “Pai?! Brinca comigo...”, vou conseguindo escrever e adiantar alguma coisa. Mas sim. Eu tenho um filho, tenho quase quarenta anos e tenho que pensar nele, no seu futuro…
SOMATÓRIO DOS INTROITOS: Pois… por muito que advogue, nesta minha veia sindicalista, a defesa dos direitos adquiridos, a excelência da qualidade no Ensino Superior em geral e a qualidade da formação pedagógica em particular e... alguma integridade..., saberei ter, quando terminar o grau, o discernimento para fazer o mesmo que alguns dos meus amigos covardes. E lamento se desiludo os meus colegas da blogosfera. Já fui muito queimado: nas “instâncias próprias” e nos “momentos apropriados” saberei dizer: "Doutoramento? Não, não tenho. Talvez qualquer dia…"
When the going gets tough… or... do you want to throw the first stone? Or yet... are you sure you're capable of judging me?
10 Comments:
É fodido.
Foda-se, Paulo. Nem sei bem o que dizer
David
O depoimento é impressionante e deixa-me sem palavras. Uma coisa tinha por certa e agora confirmo-o: no ensino superior universitário a situação é péssima, mas no ensino superior politécnico é ainda pior. Esperemos que uma nova geração de professores, eventualmente com menos vícios e uma mentalidade mais arejada, consiga trazer algumas mudanças. Todavia, não estou particularmente optimista.
Deixo-te a minha solidariedade que é a única coisa que posso dar.
PJ
I am speechless :(
Nelson
Impressionante este depoimento!Já conhecia algumas partes quase iguais no ensino e ainda há pouco na instituição onde estou a fazer uma pós-graduação se queixaram disso mesmo.As invejas fazem parte da incompetência e parece-me que é o normal neste país.Um abraço.Força com as tuas denúncias e força também para essa tese.Arte por um Canudo 2
Estamos mesmo a precisar de um choque. E já agora aproveito para negar peremptoriamente que esteja a escrever uma tese de doutoramento. Obrigado. Coragem Homem!
Os factos são factos - nem com mais comentários de incredulidade, lá vou!
Há coisas demasiado inqualificáveis, mesmo. mas abri o comentário por me ter tocado (por afinidade, provavelmente) essa tua/vossa criança que fala com os olhos, a querer brincar, e um pai que deixa de poder pensar apenas e somente em si.
Muitas vezes, trabalhei com uma/duas crianças ao lado, partilhando secretária. E se apetecia largar (e me apetecia pouco, reconheço, que adorei fazer a tese e foi muito gratificante), era por ele(s) estar ali que apetecia também continuar. Não sei se me faço entender... mas julgo que sim.
Por outro lado, e também pelo amanhã, é muito mais difícil compactuar com algumas perspectivas do hoje.
Não se pactue, portanto...
Como tenho uma boa ideia do que já passaste e tens passado, só quero expressar a minha admiração e deixar-te um abraço.
Obrigado Luís e demais pela compreensão. Agora vou escrever uns textos para a tese de doutoram.... para o blog! Para o blog! Enganei-me! Que foi? Nunca se enganaram? ;-|
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