quinta-feira, janeiro 13, 2005

Ensino Superior: Receita do pré-Spaghetti à Bolonhesa. O pós se verá...

Ingredientes:
Massa
. É o principal ingrediente: umas tantas instituições de ensino superior, universitárias e politécnicas, publicas e privadas caóticas sem grandes laços entre si (e entre os seus próprios departamentos) a não ser alguns protocolos de investigação “para inglês ver” (com honrosas excepções) e outros tantos de cursos de pós-graduação que não são mais do que “nós, universidades, vamos aí, aos vossos politécnicos, dar umas aulitas e vocês arranjam uns alunos e professores da vossa instituição e da vossa área de actuação como alunos do curso já que, nós, universidades, já temos dificuldade em obter alunos nos médios e grandes centros urbanos onde estamos, está bem?” (com honrosas excepções). Com isto consegue-se alguma "massa".

Óleo: uns tantos professores catedráticos ou coordenadores (ou ex-catedráticos e ex-coordenadores), jubilados ou não, muito senhores de si e investigadores renomados que se constituem como oradores bem oleados na arte de proferir conferências e escrever textos sobre Bolonha (com honrosas excepções).

Mortadela: ou “morte dela”, isto é, morte da dignidade e/ou da qualidade do/no ensino superior. A mortadela é/tem sido, sobretudo permitida pelo MCIES (Mortadela Com Imenso Estrume Seco) que já cheira mal pela sua inactividade, pela falta de coragem em mudar, ou mudar para pior, por permitir, passivamente, o estado de coisas no ensino superior, desde o subfinanciamento crónico, passando por pequenas máfias instaladas por todo o lado que se (auto)protegem, renovam-se com concursos com imagem digitalizada, até à precariedade constante da maior parte dos seus agentes.

Pão ralado: um só: um primeiro-ministro, que pode ser um “pão” para as social-light’s das discotecas lisboetas, mas que não parece estar ralado com nada, muito menos com a educação, incluindo a superior, em Portugal.

Queijo ralado: uma ministra da investigação e ensino superior que, com o queijo que comeu, deve estar esquecida das promessas que se fizeram para o ensino superior no programa eleitoral. Ralado com isso também não parece ser o seu estado…

Sal e pimenta: quando baste: é o que parecem estar a atirar aos olhos do povo em vez de areia porque com sal e pimenta os olhos ardem, as almas preocupam-se. É caso para dizer que em vez de “quanto baste” se poderia e deveria dizer “Já basta!”

Receita:
Coze-se a massa em abundante água salgada, isto é, vai-se ouvindo (aturando?) os oradores acima referenciados que se repetem uns aos outros, produzem pareceres (alguns de mais de 700 páginas) sobre como se operacionaliza “Bolonha” nos diferentes cursos/escolas e aguardam, expectantes, que outros levem à prática as majestosas directrizes que delinearam, até ficar al dente, isto é até ficarmos a bater com o dente quando muitos dos precários forem para o olho da rua, com as possíveis demissões em massa, e não poderem pagar a casa, o carro, a alimentação e a educação dos filhos… . Escorre-se, assim que se puder, para fora, este governo e esperamos que um outro faça menos asneiras do que este e que dignifique o ensino superior e os seus agentes.

Num tacho, aquece-se 2 colheres de sopa de óleo, ou talvez não seja preciso porque os dois subsistemas de ensino superior já andam bem aquecidos e oleados na arte da arbitrariedade, da mediocridade (salvo honrosas excepções), e aloura-se a mortadela e o pão ralado, coisa que também não deve ser pertinente porque não sendo a ministra mortadela loura, às vezes porta-se como tal (com muita desculpa para as louras) e ralada não está, de certeza.

Mexe-se, coisa que é fundamental no nosso ensino superior: mexer nas mentes, no stato quo, nas mentalidades tacanhas e pequenas e se não resultar corre-los com uma colher de pau para fora até ficar estaladiço, isto é, até ficar bem estalado, mesmo que seja à estalada, e pronto para uma reforma profunda.

Junta-se o molho, polvilha-se com pimenta e queijo ralado, que é o que se tem feito nas comunicações de financiamento da investigação em Portugal: polvilha-se, artificialmente e com muita publicidade, “muitos milhões”, e leva-se ao forno a 220 graus, quantia que nem chega a ser o vencimento correspondente ao índice 100 do ensino superior apesar das promessas do governo socialista de o fazer aumentar em relação ao primeiro índice do ensino secundário, por 15 minutos, que é o execrável e tipicamente português tempo em que é admissível estar atrasado, incluindo nas aulas do ensino superior…

Serve-se bem quente. Como não podia deixar de ser…

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

LooooooooooooooooooooooL
Excelente, Paulo. É por estas e por outras que dou graças aos céus por ser (semi)vegetariana. Este spaghetti parece-me impróprio para consumo, com tanto queijo rançoso, mortadela em decomposição, pão ralado bolorento e óleo de segunda... Arghhh!!! :o( Acho que vou preparar para mim própria uma versão mais (mentalmente) saudável, com tofu e outros condimentos orientais... ;o))) Enfim, nem só de spaghetti vive o homem ( e a mulher, já agora)! :o.
DK

janeiro 13, 2005 12:32 da manhã  
Blogger MJMatos said...

Parafraseando uma canção já antiga, a cozinha é uma arma... 8-)

janeiro 13, 2005 6:51 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Esta "tua" receita é intragável. Mas pelo que dizes há muita gente que come o prato. E gosta! ;)
Tina

janeiro 13, 2005 11:20 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Eu diria mais, Tina: aqueles que gostam do prato, são os mesmos que o confeccionam e servem a si próprios. Para eles não é intragável, é delicioso
Nelson

janeiro 14, 2005 9:48 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olha? A tua receita está incompleta. A mortadela tem que ser cortada em fatias e mais qualquer coisa. Não tinhas uma metáfora para isso?:)
A.

janeiro 15, 2005 10:35 da manhã  
Blogger Acilina said...

giríssima esta anedota! Gostei! Bem observado!

janeiro 20, 2005 1:34 da manhã  
Blogger Chris Kimsey said...

Hum?? Qual anedota??

janeiro 20, 2005 10:48 da manhã  

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