sábado, julho 17, 2004

"A pedagogia é para crianças"?? Por favor...

Há tempos estive envolvido num debate sobre questões de pedagogia no ensino superior a propósito de uma outra discussão sobre avaliação pedagógica no mesmo ensino onde, concretamente, se discutia, questões relacionadas com o modo como os professores do ensino superior podiam ser avaliados. Na sequência, um insigne professor do I.S.C.T.E., querendo desvalorizar a questão, pronunciou a seguinte barbaridade: "a pedagogia é para crianças". Indignado com a ignorância do néscio-sábio, escrevi, de rajada, o seguinte texto:

Sobre a pedagogia no ensino superior:

- o professor não é aquele que tem somente formação científica. Se fosse, qualquer licenciado em qualquer coisa seria, necessariamente, um professor. Alguém duvida?

- o professor é aquele que, detendo "o quê?" ensinar, não considera o "como?" à toa. Alguém duvida?

- o professor é aquele que além da formação científica detém um mínimo de formação pedagógica. Em todos os níveis de ensino excepto o superior isto é tanto verdade que não há efectivação ou progressão possível sem se ter aquela formação pedagógica certificada. Alguém duvida?

- a formação pedagógica não cai do céu tal como não cai a formação científica. Alguém duvida?

- há professores sem formação pedagógica a formar professores nalgumas universidades e em muitos politécnicos. Alguém duvida?

- a "sensibilidade pedagógica" necessária para o exercício docente não deriva, necessariamente ou por vezes de todo, da frequência de um curso de formação pedagógica. É adquirível, também, com a experiência tal como é a formação científica, por exemplo, numa perspectiva auto-didáctica. Todavia, o conhecimento das técnicas, métodos de ensino, de avaliação, etc., podem e devem ser adquiridos numa lógica curricular de curso com certificação. Alguém duvida?

- os inquéritos pedagógicos que avaliam as prestações docentes deviam servir para o docente avaliado reflectir sobre a sua actuação e não serem usados numa lógica administrativa deturpada (retenção numa categoria e/ou não renovação de contratos). Alguém duvida?

- a publicitação dos resultados dos inquéritos pedagógicos devia ser feita de uma forma anónima se o professor visado assim o desejar. A falibilidade (ou grande falibilidade dos mesmos, entre outras, a intromissão de variáveis "afectivas" por parte dos respondentes) aconselha o uso dos seus resultados de uma forma muito prudente e ponderada. Alguém duvida?

- à avaliação do corpo docente não seria despropositado aliar a avaliação da prestação do pessoal com funções de direcção/gestão. Afinal, o que está em jogo não é a qualidade das escolas e dos seus processos? Porquê, então, avaliar só alguns? Alguém concorda?